CAPÍTULO 5 - Nível de infantilidade

51 6 1
                                    

Antes de sair para ir pra escola, abri minhas mensagens.

John: Hey, Liss. Desculpe pelo o que aconteceu ontem. Não sei o que deu em mim kkkk

Lissa: Não precisa se desculpar. Mas é melhor a gente esquecer aquilo 

John: É melhor mesmo...

Esquecer, essa era a última coisa que faríamos. 

 ...

~Will Montgomery 

Enquanto estava sentado no banco, esperando por ela, milhares de pensamentos me perseguiam. A melancolia me atingia de tal forma, que poderia começar a chorar ali mesmo. Mas eu não podia. Demonstrar minha dor não fazia parte do meu dia-a-da, só queria que senti-la também não fizesse.

Suicídio nunca é a melhor opção, mas era a que mais me atraía no momento. Todo esse fingimento, hipocrisia e falsos sorrisos já estavam me cansando. Criei uma mentira tão perfeita, e era tão fácil de acreditar. Não havia mais motivos para nada, eu só continuava a seguir dia após dia, sem objetivo, apenas uma alma vazia vagando por aí. Era cruel eu não poder gritar todo meu ódio pro mundo. Pelo menos, eu continuava tentando. ''Não pense que as pessoas ao seu redor são mais ou menos felizes do que você, é a sua vida, e você sabe do que precisa.'' Foi o que eu disse à minha irmã, uma das poucas vezes em que ela se sentiu triste de verdade. Logo depois, ela conheceu um cara e se mudou com ele para Porto Alegre, e eles vivem felizes lá. O problema é que parece que estou sozinho nessa. Parece que essa nuvem de escuridão só cai sobre mim, e solidão por tanto tempo é desesperador. E depois de todos os meus pensamentos deprimentes, só tinha uma coisa a fazer: continuar sendo de mentira em meio ao monte de pessoas de mentiras. 

~Lissa Gracelyn

Desci do ônibus e caminhei até a praça e fui até o banco mais próximo, sim, aquele perto do chafariz. Minha cabeça ainda estava rodando, depois de acordar de mais um pesadelo. De um pesadelo para aquela realidade, minha vida parecia cada vez mais desnecessária. 

Para minha surpresa, já tinha alguém sentada ali. E aqueles cabelos negros não escondiam quem era. Me aproximei e vi que ele estava mexendo no celular. Sentei ao seu lado e disse:

- Está me perseguindo?

Ele olhou pra mim com uma cara inocente. Eu pelo contrário, o encarava irritada.

- Claro que não. Você mora nesta praça, por acaso? - ele perguntou. 

- Não se faça de desentendido. Eu passo aqui todas as manhãs nesse maldito horário.

- E como eu iria saber disso? - ele disse num tom irônico.

Bufei. Ótimo, agora ele já pode me sequestrar.

 - E o que é que você está fazendo aqui então? - Ele se ajeitou no banco.

- Primeiro, você tem que saber que nem tudo gira em torno de você. Por um acaso não passou pela sua cabeça que talvez essa praça fosse perfeita para gravar? - revirei os olhos - Agora, dá licença que você ta atrapalhando.

- Não importa! A praça é enorme, sai daqui! - disse irritada. 

Ele riu alto.

- Não pode me obrigar. Você não é dona dessa praça, não que eu saiba. - ele respondeu calmamente.

- Você quer vir até essa praça? Venha. Faça o que quiser! Mas saia daqui! Eu cheguei nessa droga de banco primeiro!

- Seu nível de infantilidade me assusta, Lissa.

ANJOS MARCADOSWhere stories live. Discover now