Sempre que chegava ao trabalho e o horário de descanso batia, ela estava lá.
Jade.
A primeira garota por quem me apaixonei.
Nunca tinha beijado ninguém.
Nunca sequer pensei em fazer isso.
Mas depois de uma semana de encontros casuais, conversas banais e risadas distraídas, o clima simplesmente... aconteceu.
Olho no olho.
Pele na pele.
As mãos dela seguraram minha cintura com calma — firme, mas possessiva.
Seus lábios se aproximaram e, enfim, aconteceu.
Foi desajeitado. Era o meu primeiro beijo.
Mas ela pareceu gostar. Seus olhos brilhavam num desejo que eu ainda não compreendia.
— Você não gostou? — perguntei, insegura. — Foi o meu prim-
Ela me interrompeu com outro beijo, mais intenso, mais faminto.
— Parecia até uma profissional. — brincou, rindo. — Não se prenda a isso.
— Claro... tudo bem.
As semanas seguintes foram um alívio.
Encontros planejados, sorrisos calculados, conversas divertidas.
Nenhum sinal dela. Nenhum sussurro, nenhum reflexo, nenhuma sombra.
Às vezes, apenas o som de passos na madrugada... e algo que lambia o ar atrás da porta.
Mas eu já estava acostumada a isso.
O problema foi a última conversa.
— Liss, por que você nunca me leva pra sua casa? — Jade perguntou, brincando com meus dedos. — Você já conhece bem a minha, meus pais te adoram, poxa...
— Jade, não é uma boa ideia. — engoli seco. — Na minha casa tem regras, e-
— Ah, não vem com essa desculpa! — cruzou os braços. — Vamos hoje.
— Tudo bem...
Não tive como escapar.
Quando meu expediente terminou, o sorriso dela já me esperava na porta — animado, inocente, saltitante.
Quase minha ruína.
Ela não me ouvia.
Não me entendia.
Minhas mãos tremiam, meus pés tropeçavam um no outro.
E então avistei, ao longe, as fitas vermelhas.
Jade olhou para a árvore, curiosa, rodando em volta dela com encantamento infantil.
Um.
Contei mentalmente.
Não era preciso quebrar mais de uma regra pra morrer naquela casa.
Ali, até respirar errado custava caro.
— Jade, aqui tem-
— Que árvore intrigante... — interrompeu, tocando uma das fitas, o olhar fascinado.
Puxou minha mão e me guiou em direção à casa.
A porta se abriu com um ranger que soou mais como um grito.
— Own, você tem cachorro! — comentou, passando reto pelo animal parado na entrada.
Ela olhou ao redor, admirando os móveis cobertos e as paredes úmidas.
Quando percebi, o cachorro havia sumido.
Dois, pensei.
— Jade, não entre a-
Tarde demais.
A madeira rangeu sob os pés dela como se a casa respirasse, engolindo Jade inteira.
O ar ali dentro sempre foi denso — cheirava a mofo e ferro, como se o tempo tivesse apodrecido dentro das paredes.
Eu ainda estava parada na soleira, com a mão trêmula no batente, sentindo os pelos dos braços se arrepiarem.
— Jade, espera... — minha voz saiu num fio.
Ela virou pra mim, o sorriso no rosto ainda intacto.
— Você é mesmo medrosa assim, Liss? — deu uma risada curta e começou a andar, os dedos roçando os móveis cobertos por lençóis brancos. — É só uma casa velha.
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𝓲𝓷𝓯â𝓷𝓬𝓲𝓪
TerrorO que você lembra da sua infância? O cheirinho de biscoito saindo do forno? O bolo caseiro da tarde? As gargalhadas, as brincadeiras inocentes no quintal? Pois é... essa é uma infância comum. Mas eu não sei o que é ser comum. A minha infância foi um...
