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Observei as gotas saírem dos meus olhos e borrarem a saia lápis em um percurso longo e lento.

O piso do banheiro feminino era de porcelanato polido, numa coloração bege que combinava com os boxes destinados ao uso individual. Depois de sair da sala do Darcy, caminhei até aqui e me tranquei no Box mais distante da porta. Coloquei as mãos na boca, para que ninguém escutasse quando minhas lágrimas se transformaram em gemidos. E se transformaram, afinal chorei feito uma criança. Ou adolescente que teve o coração partido pela primeira vez.

É engraçado, quando as pessoas dizem que todo mundo passa pela experiência do primeiro amor. Geralmente isso acontece na adolescência, quando nos apaixonamos pelo garoto mais bonito e popular da classe, que obviamente, mal nota a nossa existência. Dedicamos-nos horas e passamos noites em claro imaginando como seria o primeiro beijo, o primeiro "eu te amo" para depois escutarmos pela boca de nossa melhor amiga que esse cara está namorando com outra garota - aquela que já tem peitos, enquanto nós usamos os sutiãs de bojo de nossas mães. Diferente das minhas amigas, eu nunca havia passado por essa fase de ter um coração despedaçado a ponto de correr para um banheiro de uso comum e chorar pelas mazelas da vida.

Até agora.

Com 23 anos, por uma maldita noite de sexo com o maior idiota do mundo.

Tentei convencer a mim mesma que não estava chorando pelo Oliver, mas sim pela situação na qual eu me colocara. Como já pensei desde que acordei sozinha no quarto: se eu queria sexo casual, por que não transei com um dos carinhas das boates que a Grace frequenta? Por que eu tinha que abrir as pernas para o meu chefe, depois de passar dois anos reclamando dele?

Talvez tudo aquilo fizesse parte de um de seus planos malignos.

Desde quando ele me convidou para assistir sua palestra em Miami, quando fomos almoçar naquele restaurante charmoso que nada tinha haver com sua personalidade ou mesmo quando assistimos aquele maldito filme estrangeiro e ele me emprestou seu lenço quando chorei. Talvez desde o dia que ele segurou minha mão, quando admiti meu temor a aviões. E o pior era que eu dava corda, involuntariamente.

Apenas uma gentileza me fazia esquecer todas as grosseiras dos meses em que trabalhamos juntos.

Escutei passos de salto agulha se aproximando de mim.

- Qual o problema do Oliver Darcy? Juro que ele é o único homem que não respondeu as minhas investidas - uma voz com forte sotaque latino dizia - Estou começando a acreditar que aquele homem é gay, que desperdício de criação.

Conclui que aquela era Rosalia, uma das recepcionistas do primeiro andar, que geralmente passa as ligações do Darcy para mim. Senti uma pontada de ardor no meu estômago se espalhar pelo organismo e amaldiçoei a mim mesma por ainda permitir que o dito cujo me provocasse ciúmes.

- Nem todos os homens se interessam por qualquer par de peitos e um belo traseiro - a outra comentou.

Rosalia soltou uma gargalhada alta e rouca.

- Então você não conhece os homens, minha querida.

Revirei os olhos e desejei que elas saíssem logo dali. Ouvir uma conversa sobre o meu chefe era a última coisa que eu precisava naquele momento.

- Eu acho que o coração dele já tem dona.

- Como assim? Não me diga que é aquela estagiária sem graça que está sempre puxando o saco dele.

Abri minha boca, expelindo o pouco ar que me restara depois daquelas palavras. Senti vontade de abrir a porta e sair dali, só para deixa-la sem graça, mas logo lembrei que elas me veriam chorando - o que não contava como pontos positivos para uma vingança pessoal.

Como suportar Oliver Darcy - COMPLETAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora