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Nós paramos em um restaurante no centro da cidade, com tijolos vermelhos, mesas e cadeiras de madeira suave e polida espalhadas pela varanda. Eu olhei ao redor, admirada pela decoração que era um misto de Paris com Miami. Depois, olhei para o meu chefe, sentado em minha frente, perguntando-me internamente o que alguém sofisticado como ele estava fazendo ali. Como eu disse antes, o restaurante era bonitinho e aconchegante, mas nada que se comparasse ao luxo ou a decoração mecânica dos restaurantes que a família Darcy costuma frequentar.
Ele desviou os olhos do cardápio para lançar-me um olhar de soslaio.
— Não vai querer almoçar, senhorita Fischer? — disse, em um tom baixo e questionador.
Eu abri o cardápio imediatamente e coloquei-o em frente meu rosto, para que o Darcy não me visse ficando rubra. Definitivamente, preciso parar com essa mania de ficar observando-o! O Darcy deve pensar que eu sou uma daquelas mulheres fúteis que ficam reparando em cada detalhe dos outros, ou pior, que eu estou apaixonada por ele! Convencido do jeito que é... Ah meu Deus, esse ligeiro pensamento fez com que eu perdesse completamente a fome.

Um garçom parou em frente a nossa mesa, usando uma gravata amarela e camisa branca com mangas que ficavam exageradas sobre seus braços magricelas. Ele devia ter dezoito anos, no máximo.
— Um Carpaccio, por favor — Darcy disse.
Pelo visto era só comigo e os outros funcionários que ele não tinha boas maneiras. O jovem garçom direcionou seus olhos amendoados para mim, que mal tive tempo de olhar o cardápio. Então, eu disse a primeira coisa que me veio à mente:
— Vou querer o mesmo — com um sorriso simpático.
Era óbvio que eu nunca tinha ouvido falar daquela comida. A julgar pelo nome, devia ser italiana. Só esperava que não fosse nada maluco e que não tivesse palmito... Eu odeio palmito!
Quando o garçom se foi, notei que o Darcy me encarava com uma das sobrancelhas arqueadas e os lábios entreabertos. Eu arregalei os meus olhos como se lhe perguntasse "o que?", pois estava cansada de tentar decifrar o porquê de ele ver tanta graça nas minhas ações.
— Aprecia carne crua, senhorita Fischer?
Tentei não fazer careta de nojo ao comprovar que havia acabado de pedir comida crua para comer no almoço. Ao invés disso, eu abri um sorriso um tanto amarelado.
— Sim, senhor Darcy.
Pela sua expressão risonha, comprovei que jamais teria sido aceita numa universidade de atuação.
— Pensei que você detestasse comida japonesa.
Eu puxei a cadeira para perto da mesa e joguei uma mecha de cabelo para trás. Encarei o Darcy, juntando as sobrancelhas.
— Como você sabe disso?
— Eu já escutei a senhorita — ele friccionou o "senhorita" para lembrar que eu havia me esquecido de chama-lo de senhor, qual é Darcy, estamos em almoço — comentar com uma das estagiarias, enquanto devia estar trabalhando, claro.
Eu revirei os olhos e sorri.
— Claro...

Antes que o Darcy pudesse dizer outra coisa, o mesmo garçom trouxe o tal Carpaccio em duas badejas e adivinhe só? Carne crua com molho de mostarda! Assim que olhei para a comida posta em minha frente, desejei que toda aquela carne fosse palmito, muitos por sinal.
Meu estômago revirou como se estivesse ocorrendo um terremoto por lá. Pensei em mil desculpas que evitassem a degustação do prato italiano, mas assim que notei o Darcy me observando com aquela sobrancelha loura erguida e os olhos vivos como um animal prestes a abater a presa, criei forças para encarar o desafio.
Peguei um pedaço mínimo da carne e elevei-a até minha boca.
Confesso que fiz uma careta quando senti o alimento e tive que mastiga-lo vagarosamente para que o cretino sentado em minha frente não soltasse uma risada maléfica.
Pronto, eu estava conseguido.
Continuei mastigando, fechando os olhos e os abrindo na velocidade da luz. Nada que ele possa perceber, se estiver cuidando da sua vida e...
— Fischer...
— O que?
— Você é uma péssima atriz.
— Eu sei.
— Então pare de comer o carpaccio e peça outra coisa.
— Eu estou gostando — peguei outro pedaço de carne.
— Tem uma lágrima descendo do seu olho e não é pela mostarda.
— Eu estou gostando.
— Não seja teimosa — sua voz soou dura e impaciente.

Larguei o garfo na mesa e empurrei a comida contra minha garganta. O Darcy não era o único impaciente no ambiente, eu também estava. Custava ele colaborar com meu teatro? Claro que não, a cordialidade é mais uma palavra não inclusa no dicionário do meu patrão, colaborando para a humilhação que senti naquele instante.
Eu limpei minha boca com o guardanapo, enquanto o Darcy degustava prazerosamente o carpaccio.
— Estou sem fome.
Darcy não respondeu, ao invés disso, colocou os talheres em cima do prato delicadamente, passou o guardanapo em sua boca, no queixo e depois pegou o cardápio novamente. Então, ele acenou para o garçom magricela que veio até a mesa.
— Um Minestrone, por favor.
Lancei um olhar mortal para ele, que pareceu não se importar e voltou a comer normalmente.
Um olhar mortal que logo se tornou agradecimento interno, quando senti o cheiro de bacon no prato que ele pedira para mim. Mas não vendi meus "princípios" pelo cheiro delicioso ou pela aparência da sopa, deixei que o Darcy me vencesse porque estou velha demais para bancar a teimosa em um restaurante e não custa nada demonstrar humildade.
Darcy esperou que eu terminasse sem dizer nada.
Aquele Minestrone que a princípio parecera um presente de grego, acabou se revelando como uma trégua.
Uma trégua que durou mais do que eu esperava.

nA+Y

Como suportar Oliver Darcy - COMPLETAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora