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Respirando fundo, tentei relaxar enquanto observava meu reflexo no espelho do quarto.
Quarta-feira, eu enviei um e-mail para o Darcy, perguntando de forma profissional alguns detalhes do jantar, pois se eu perguntasse se era de negócios ou não, insinuaria a ideia de fui convidada para um encontro. Meu patrão respondeu que seria uma recepção para uns sócios japoneses e que teria em torno de cem convidados, ligados ao Darcy Media Group, na mansão dos Darcy.
Embora eu não tenha sanado minhas dúvidas, ele não comentou nada sobre o trabalho, então comprei um vestido preto tubinho com um singelo decote no busto, estilo Bonequinha de Luxo. Escovei meu cabelo e enrolei as pontas com a prancha. Enfim, as lentes de contato haviam chegado, fazendo com que eu pudesse aposentar o velho óculos de grau naquela noite. Porém, a julgar pela ardência dos meus olhos, deixei o óculos na bolsa e calcei os sapatos que havia ganhado da Abigail.
O resultado foi surpreendente.
Você sabe, eu não sou uma dessas mulheres que passa horas no salão de beleza e não sai de casa com menos de 1000 dólares de adereços no corpo. Geralmente, estou com os cabelos presos e minhas habituais camisas de seda. Então, não duvide quando digo que quase não reconheci a garota loura que me encarava do outro lado do espelho.

Uma garota decidida, poderosa e sexy.
Dei um sorriso para mim e passei um batom vermelho para completar o visual. Peguei a bolsa que estava na cômoda e sai do quarto, certa de que a limusine do Darcy chegaria a qualquer momento.
Por azar, encontrei a Grace sentada no chão da sala, conversando ao celular com o Brian – pelo menos foi o que presumi, pela forma que ela sorria e seus olhos brilhavam. No começo achei estranho eles estarem juntos, mas aos poucos a notícia foi sendo substituída pela surpresa em minha amiga demonstrar sinais de estar apaixonada. Somos completamente diferentes, mas se temos algo em comum é o fato de sermos autossuficientes em relacionamentos amorosos. Eu, por estar completamente focada no meu futuro profissional e a Grace, porque até hoje nunca conseguiu se apegar com alguém e sempre se gabava por isso.
Agora, eu a pego sorrindo do nada ou cantarolando músicas da Celine Dion pela casa.
Assim que notou minha presença, ela franziu a sobrancelha e fez um sinal de que não estava entendendo meu visual com a mão livre do celular.
Droga! Depois da nossa discursão sobre os meus sentimentos em relação ao Darcy, a última coisa que eu queria que a Grace soubesse era que eu sairia com ele naquela noite. O pior é que nem podia alegar que não era um encontro, já que nem eu mesma sabia disso. Por isso, não contei a ela absolutamente nada sobre meus compromissos de sexta-feira.
Ela se despediu do Brian imediatamente e colocou o celular em sua cocha.
— Para onde você vai, Audrey Hepburn?
— Eu tenho um compromisso da empresa — falei, com a garganta seca.
Seu semblante se iluminou imediatamente, depois de abrir um largo sorriso. Ela se levantou e veio até mim.
— Jules, eu nunca te vi tão bonita!
Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha e sorri, realmente sem graça.
— Obrigada.
— É sério! — ela colocou o dedo no queixo e fez um bico — Só falta uma coisa, espere aí.

Fiquei esperando a Grace, de braços cruzados e sem fazer ideia do que ela estava procurando no seu quarto. Ela voltou saltitando, com uma pequena caixa nas mãos.
— Ganhei do meu pai quando entrei na faculdade — disse, abrindo a caixa e tirando um par de brincos de diamante — Depois que eu mudei de curso, ele se arrependeu, é claro.
O resquício de mágoa que eu sentia pela Grace desapareceu. Eu conhecia aquele par de brincos, pois ela os amava mais que qualquer um de sua enorme coleção de acessórios. Não apenas por serem lindos, mas pelo valor emocional, já que seus pais moravam do outro lado dos EUA e quase não apareciam em Nova York.
— Grace, não precisa!
Ela balançou a cabeça impacientemente e colocou-os em minha mão.
— Não faça essa desfeita comigo, ok? Eu quero que você esteja deslumbrante para quando o Oliver Gostosão vê-la, se arrepender de tudo que já que te fez passar.
Eu sorri.
Mas antes que pudesse agradecê-la, meu celular bipou. Coloquei os brincos em cima da cômoda em que deixamos nossos livros da faculdade e retirei-o da bolsa. Era uma mensagem do Darcy, dizendo que estava na porta do prédio.

Tirei a argola que eu havia colocado antes, substituindo-a pelos brincos. Olhei para Grace que fez um sinal de aprovação e me abraçou.
— Boa sorte, Jules.
— Obrigada.
Apertei-a e depois nos afastamos.
Acenei um até logo e sai do apartamento, sentindo minha pulsação aumentar conforme eu me aproximava da porta. Tentei ignorar aquela sensação, assim como fingi que meu coração não estava batendo freneticamente. Estava tudo bem, eu não tinha motivos para ficar nervosa só porque iria jantar com o meu chefe.
Não seria um encontro, não iríamos a um restaurante chique para bebermos champanhe, enquanto conversamos sobre nossas vidas pessoais. Haveriam outras noventa e oito pessoas ali para aliviar a tensão que eu sentia.
Assim que desci as escadas, conferi meu reflexo no espelho do térreo para ver se alguma coisa tinha saído do lugar. Eu estava satisfeita com meu cabelo, como em raras vezes.
Então, coloquei a bolsa no ombro e sai dali.
O ar frio de Nova York contribui para o aumento do meu nervosismo. Com as pernas bambas, avistei uma limusine preta estacionada na esquina do prédio.
Equilibrei no salto até ver que o motorista abriu a porta ao notar minha presença. Era um homem de mais ou menos sessenta anos, com alguns fios de cabelo branco para impedir-me de chama-lo de careca. Tinha uma feição amigável e sorriu para mim de forma agradável quando me deu boa noite.
Ele abriu a porta do banco traseiro e eu entrei.
E... Bom, lá estava ele.

Darcy conversava com alguém pelo celular, seu tom de voz era de pressa e impaciência, mas não escutei quase nada da conversa. Ele estava encostado na poltrona do automóvel, trajando terno e gravata escuros, feitos sob medida que já eram suficientes para balançar meu equilíbrio.
Mas quando olhou para mim, o ar de impaciência se desfez de seu rosto imediatamente. Como se fosse apenas um escudo que cobrisse sua verdadeira face, revelando uma intensidade abrasadora, acentuada pelos seus olhos escurecidos pela pouca luz do ambiente.
Meu coração bateu freneticamente e meus lábios se abriram parcialmente, exalando um pouco do ar que eu havia prendido. Esbocei um sorriso, com a pouca força que havia em mim.
— Olá, senhor Darcy.
— Oi Fischer.
Deslizei meu corpo pelo banco do carro, no momento em que o motorista fechou a porta. Inspirei profundamente o perfume do meu chefe, ludibriada pelo fato de ele cheirar tão bem.
Tentei disfarçar meu nervosismo ajeitando o vestido.
— Belo vestido.
Eu levantei a cabeça no mesmo instante, incerta se aquilo realmente havia sido um elogio. Darcy me encarava fixamente e havia uma espécie de sorriso em seus lábios, como se tivesse interesse de me seduzir.
Fiquei vermelha, mas sorri.
— Obrigada.
Nossos olhares se cruzaram por um momento, enquanto eu balbuciava alguma coisa para não deixar que a nossa conversa morresse. Mas então, a velocidade do carro aumentou e o Darcy voltou seus olhos para sua janela.
Observei seu cabelo de soldado americano e o pescoço largo, mas proporcional aos ombros largos. Um a um, os pelos da minha nuca se arrepiaram e minhas mãos coçaram para que eu pudesse tocá-lo até eu abraça-las e coloca-las em meu colo.

m_-Z

Como suportar Oliver Darcy - COMPLETAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora