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A Rua Bellamy Road é composta por mansões ao estilo do período alto vitoriano que aspiram uma prosperidade intimidante para assalariados classe média, como eu. Existem poucos carros estacionados nas esquinas – uma placa discreta declara que é necessária permissão para tal privilégio.
Contemplo a fachada bonita do prédio 230, conforme o Sr. Darcy explicou alguns minutos atrás. A balaustrada de vidro adquire a coloração da noite e o telhado embutido gera um aspecto moderno ao bairro nobre. Em suma, a localidade do Darcy é bem diferente do arranha-céu futurístico que imaginei algumas vezes.
Estaciono o carro em frente ao prédio, ignorando a placa em nome da urgência da situação. Pego o celular e coloco-o em meu ouvido assim que termino de discar seu número e sou atendida ao primeiro toque.
— Chegou?
— Sim.
Como por hábito, Darcy desliga em minha cara.
Coloco o celular no banco novamente e abro a porta do carro. Meus pelos se eriçam em resposta ao frio do alvorecer. Cruzo os braços e olho para a porta do prédio, esperando pela aparição do Darcy. Depois de alguns segundos, passo a balançar minhas pernas freneticamente.
Penso em tudo que poderia estar fazendo neste momento e a primeira imagem que me vem á cabeça é o rosto angelical do Brian-sem-sobrenome, ao qual nem tive a oportunidade de pedir o número. Qual é, Julia, como se você fosse o tipo de garota que pede o celular de um homem na primeira conversa.
Na verdade eu nunca fiz isso, mas dessa vez podia ser diferente.
Uma voz na minha cabeça grita: não podia, a qual sou obrigada a concordar.
Neste exato momento, o Sr. Darcy atravessa a longa porta de entrada do prédio.
Cerro meus olhos para visualizar melhor suas feições contornadas pela morbidez noturna.

Ele se aproxima em uma mistura de corrida e caminhada, chamando atenção para a roupa que foge completamente ao terno e gravata que estou habituada há tantos meses. Darcy está com um moletom cinza e uma camiseta preta com o símbolo do Avenged Sevenfold estampado no peitoral.
Ergo minha postura, assim que ele se fixa em minha frente. Prendo minha respiração quando seus olhos sombrios me encaram, fixando-se em minha boca – o que me lembra de que estou usando o batom vermelho da Grace. Enrubesço imediatamente.
— Onde está a Abby?
Limpo minha garganta e inicio novamente a respiração.
O Darcy tem o dom de me fazer esquecer os meus próprios pensamentos e sempre tenho trabalho para voltar à linha de raciocínio. Viro-me e caminho até a traseira do carro, tiro a chave do meu bolso.
— Onde a encontrou? — sua voz grave preenche o vazio da minha mente.
Tento parecer segura e não a garotinha assustada que sinto toda vez que ele me encara.
— Numa casa noturna chamada Mont Blanc.
Silêncio.

Abro a porta e encontro Abigail desmaiada no assento do carro – seus cabelos estão espalhados pelo tronco e os braços abertos, sendo que cada um está encaixado em uma parte do carro.
Sou surpreendida pelo impacto da coxa de Darcy em meu quadril. Sou obrigada a dar uns passos para trás, enquanto ele entra no carro para pegar a irmã.
Cruzo meus braços novamente, tentando não observar a bunda do meu chefe que parece ter passado por longas horas de musculação – embora eu tenha certeza que não seja o caso, o que é mais excitante. Cerro meus dentes, como se meus pensamentos pudessem ser extraídos para a atmosfera.
Darcy pega a irmã com dificuldade, devido ao espaço da traseira do carro. Ele murmura algumas coisas e pela sua expressão severa, não sei dizer se é um xingamento pela dificuldade em sair dali ou algo relacionado ao estado da sua irmã.
— Posso ajuda-lo, senhor Darcy?
Um sorriso irônico brota em sua face suavizada pela luz amarelada do carro.
— O que uma mulher de 1,60 cm e 50 quilos poderia fazer nesta situação, senhorita Fischer?

Puxo minhas bochechas para cima, em uma cara que reflete meu sentimento de desprezo em relação ao Darcy. Meus pés vomitados se coçam para dar um chute em seu traseiro.
Neste instante, o diabo põe os pés para fora do carro – ressurgindo como um super-herói na esquina.
Os músculos de seus bíceps estão relaxados, não há sinal de veias de tom azulado saltando sob a pele, embora ele esteja carregando uma adolescente mais alta e provavelmente com alguns quilos acima do meu.
Em seus braços, Abigail se assemelha a uma boneca de plástico. Aproximo-me e coloco as mãos em uma de suas botas.
— O que está fazendo, senhorita Fischer? — pergunta, em um resmungo contido.
Abro o zíper da bota e tiro-a, cuidadosamente, sentindo muita raiva do Darcy para respondê-lo de imediato. Abby usa uma cor de pele de tecido fino.
Com apenas a mão direita, tiro a outra bota – deixando a garota completamente descalça. Então, eu olho para o Darcy, que apresenta uma ruga entre as sobrancelhas e seus lábios estão pressionados para dentro.
Um súbito prazer – daqueles que sentimos ao realizar pequenas vinganças, inunda minha alma, fazendo com que eu sorria apaticamente para o meu chefe.
Ele não diz nada, apenas se afasta de mim e caminha rumo o prédio. Sigo-o, incluindo a língua "Darcyana" ao meu currículo de fluências.

Como suportar Oliver Darcy - COMPLETAOnde as histórias ganham vida. Descobre agora