Carregámos Luke pelos ombros até à porta das traseiras, tendo o cuidado de fazer pouco barulho, até porque a viagem fora mais longa que o previsto e, de acordo com o meu telemóvel, já passava da meia-noite. Michael praguejava para ele próprio, amaldiçoando o mundo, os pinguins, o seu melhor amigo e tudo o que lhe passava pela cabeça. Eu apenas tentava controlar o riso, sabendo que esta situação inesperada era hilariante. Luke estava devastado por ter destruído um peluche e Michael protestava contra o mundo, levando nos braços uma quantidade absurda de sacos.
"Achas que elas ainda estão acordadas?", questionei, ajudando Luke a subir as escadas que nos levariam até à cozinha. Michael bufou.
"Muito provavelmente. Aposto a minha coleção de CD's em como nós vamos ouvir um sermão.", o rapaz de cabelo preto resmungou. "Este tipo vai ficar a dever-me uma das grandes."
"Devíamos avisar a mãe dele...", afirmei, pensativa. "Eu não quero que nos acusem de rapto."
"Pois. Olha, neste momento, já não ficava admirado se isso acontecesse." Michael rodou a maçaneta e abriu a porta, soltando um suspiro. Ele olhou em volta e acenou com a cabeça na minha direção, como se me estivesse a dizer que o caminho estava livre. Adentrámos pela cozinha e sentámos Luke no chão. Pousei uma mão na cintura e observei o loirinho atraente, que parecia ressacado. Se calhar não lhe devíamos ter dado todas aquelas cervejas. Os seus olhos estavam vermelhos e ele soltava pequenos soluços, continuando a lamentar-se.
"Vou ver se elas estão na sala.", comuniquei. "Deseja-me sorte." O meu companheiro de quarto forçou um sorriso e deixou-me ir para enfrentar as bestas. Respirei fundo e caminhei vagarosamente pelo corredor, deixando para trás os dois rapazes. Consegui ouvir sons vindos da televisão quando cheguei até à porta da sala e tentei preparar-me para o que vinha aí. Elas não seriam meigas comigo.
"Cloe?!", Karen levantou-se do sofá assim que me viu. "Finalmente! Nós estávamos preocupadíssimas!" A mulher de cabelos loiros correu na minha direção, pegando-me nas mãos. Ela analisou o meu rosto, em busca de algo estranho. Elsa também saltou do sofá, no entanto, a sua expressão era mil vezes mais assustadora.
"MAS ONDE É QUE VOCÊS SE METERAM?!", a minha mãe aproximou-se e Karen deu alguns passos para trás. Suspirei, exasperada. "CLOE, EU AVISEI!"
"Sim, eu sei." Abanei a cabeça, cansada de todo o drama. "Mas nós tivemos uns problemas pelo caminho. O Luke não parava de chorar e o Michael parou algumas vezes para tentar acalmá-lo. Acho que ele está traumatizado."
"O Luke?", Karen estreitou as sobrancelhas. "O que é que aconteceu?"
"Os nossos filhos inventaram uma história qualquer sobre o rapaz ter sido preso.", a minha progenitora revirou os olhos.
"Mãe, é verdade! O Luke destruiu mesmo um peluche!", exclamei, enervada. "Ele está na cozinha, já agora. VAI LÁ VÊ-LO, COM OS TEU PRÓPRIOS OLHOS. ELE ESTÁ DESTROÇADO.", virei-lhes costas e voltei a caminhar na direção da cozinha, como um touro enraivecido. Porém, quando cheguei à porta, fiquei congelada, assistindo àquilo que os dois rapazes faziam. Senti dois corpos pararem atrás de mim, com o mesmo ar de choque.
"Ele parecia uma cenoura com cabeça de amendoim!", Luke desatou a rir às gargalhadas, segurando nas mãos uma garrafa de vodka. "MAS DEPOIS EU CORRI PELO CORREDOR E VI O OLAF!", ele inclinou a cabeça para trás, rindo-se com mais intensidade. Michael estava sentado ao seu lado, a rir-se da mesma forma. "E APAIXONEI-ME PELO PINGUIM QUE ESTAVA AO LADO DELE!"
"O que é isto?", proferi, dando alguns passos na direção deles. Luke parou de rir, ficando a olhar-me com um ar confuso. Ele escondeu a garrafa entre as suas pernas e olhou para Michael, que engoliu em seco.
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Social Casualty ಌ m.c
Humor❝Eu conheci o Michael no jardim-de-infância. Éramos ambos da mesma sala e, tal como acontece em todos os meios sociais, existem sempre aquelas pessoas predestinadas a um futuro de sucesso, com grandes taxas de popularidade à mistura e essas coisas n...