Capítulo 9 - O Restaurante Vermelho

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   Exatamente sessenta dias haviam se passado desde a triste chegada na casa de Dionísio, e durante todos esses dias Fabrício não havia deixado sua casa. Ricardo havia ido até lá, mas ele não o recebeu. Henrique e Paulo também tinham tentado a sorte. Até mesmo Dionísio havia passado por ali uma noite, mas Fabrício estava inconsolável.

   - A gente não pode deixar ele lá mano, e se ele morreu? – Ricardo perguntava.

   - Ele não morreu cara, estamos falando do Fabrício mano. Ele vai sair dessa. – Henrique explicava, mais para ele próprio do que para Ricardo.

   Apenas o tempo conseguiria a atenção do Dom, mas eles não sabiam disso.

   Os outros rapazes estavam tomando conta dos negócios, e Henrique, com sua inteligência, expandia cada vez mais a influência deles na cidade. Agora controlavam também bares e meia-dúzia de salões de cabeleireiro.

   Há duas semanas Marisa, dona do salão de cabeleireiro mais pomposo da cidade, tentou recusar a oferta de proteção de Henrique.

   - Veja bem dona Marisa... – começou o jovem.

   - Eu já vejo bem, dona é a puta que te pariu e eu não vou pagar nada pra bandidinho de merda. Já to conhecendo a fama de vocês.

   A conversa mais rápida da vida dele. Henrique tentava imitar Fabrício em tudo, nos gestos, na forma de falar, no olhar e até mesmo no sorriso de canto de boca. Mas ele não entendia uma coisa muito simples: Ele não era Fabrício, e mesmo que fosse não dobraria a experiente Marisa assim. A mulher era conhecida por todos por gerir o estabelecimento a mãos de ferro, não à toa o salão crescia a cada dia. Quando Ricardo e Paulo invadiram o lugar e destruíram tudo, ninguém imaginou que ela ligaria para Henrique, mas ela ligou. O acordo foi acertado.

   Henrique Passoline não era bobo, longe disso. O mais inteligente dos três amigos da praça Cassarano não cometeria erros, mas sabia que se continuassem expandindo os negócios não poderiam cumprir a meta de proteção. Eles eram apenas quatro, agora três sem Fabrício, logo precisariam de mais pessoas, mas quem? Tenho certeza que Fabris resolveria isso. Eles precisavam do Dom, mas nada podiam fazer a não ser continuar tocando o negócio.

   A noite começava a cair, as buzinas cessavam, os transeuntes diminuíam cada vez mais, e as pessoas se escondiam do cansaço, em suas casas. As nuvens se repeliam, para que a lua brilhasse sobre a Terra e as estrelas pudessem ver o jovem ali parado. Ricardo estava na frente do Japa, era como eles chamavam o restaurante japonês da cidade. Ele esperava Henrique para um jantar, falariam sobre Fabrício pela última vez. Se ele não voltasse, não correriam mais atrás dele.

   - Foi mal. – Henrique chegou atrasado - Tinha uma atualização no meu PC e se eu desligasse antes de concluir ia foder tudo.

   - Beleza mano, suave. Cadê o Paulo?

   - Ele não vai vir hoje, disse que não quer tomar partido nisso.

   Eles deram um aperto de mãos e um abraço. Olharam-se por um momento, eram como irmãos, e sabiam que ambos não estavam bem. Usavam roupas casuais, moletom, jeans, camisa pólo e tênis. Não sabiam mais quem eram ou o que fazer. Não disseram nenhuma palavra. Nenhum sorriso foi esboçado. Por fim entraram no estabelecimento.

   O Japa era um restaurante pequeno, estreito em largura e comprido em seu comprimento. Todas as mesas ficavam do lado direito do lugar, e do lado esquerdo encontravam-se as ilhas de sushis, cogumelos, algas, raízes, sashimis, e várias chapas onde os cozinheiros preparavam yakisoba. Um vapor constante das frituras e preparos dividia o lugar ao meio horizontalmente, e enchia os clientes de fome. O ambiente era todo forrado por chapas de PVC de cor avermelhada, na verdade tudo era vermelho, desde a lâmina das facas dos cozinheiros até a luz ambiente.

Família Cassarano (por Marco Febrini) (Sem revisão)Where stories live. Discover now