Capítulo 2 - Romeu e Julieta

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   Eles estavam indo bem. Cuidavam da pizzaria com afinco, iam embora sem dar problemas, um mês havia se passado e nada de assaltos ali. Agora o jovem que costumava roubar tinha outro alvo, a padaria do Portuga. Três vezes na última semana, e à luz do dia. O velho estava desesperado, isso deixava as coisas mais fáceis para Fabrício e seus rapazes.

   Não gastaram muito tempo, nem ao menos conversando. Jonas, o dono da pizzaria, havia falado pessoalmente com o português de sotaque fortíssimo. Fabrício foi lá apenas para apertar a mão do velho. Agora eles tinham mais trabalho a fazer, e eram apenas três. Precisavam de gente nova. Gente confiável e de família. E é nessa parte que eles envolvem Paulo em sua brincadeira de Máfia. Paulo e seu inseparável General, um pastor alemão, o cão mais medroso que já pisou na terra.

   Paulo, o primo de Henrique, havia se mudado para o bairro há uma semana. Era um garoto alto e muito gordo, tinha fama de ser extremamente calmo, mas seus rompantes de ira eram conhecidos, principalmente nas escolas do Norte do Brasil, de onde havia sido expulso por agressão. Ela era três anos mais velho que Fabrício, mas o olhava como se fosse uma criança, com medo e respeito. Ao seu lado General estava deitado, com olhos medrosos e orelhas baixas.

   Fabrício furou a ponta do dedo de Paulo, pingou algumas gotas em um santo.

   - Agora segura esse santo. – eles estavam na praça. Tinham acabado de deixar a pizzaria, onde haviam trabalhado em quatro essa noite. Sem contar General, é claro. O relógio marcava duas da manhã, e eles queriam fazer aquilo ali.

   Nenhum deles estava sentado no banco, todos os quatro estavam de pé. Uma mesa estava diante deles. De um lado estava Fabrício, Ricardo e Henrique. Vestidos com calças e camisas sociais, com cinto e gravata, sapatos e meias, mas sem paletó, eles queriam reforçar que não usavam paletó.

   Do outro lado da mesa estavam Paulo e General. Paulo estava sendo sagrado Homem Feito, um Soldato, os verdadeiros mafiosos, por três adolescentes que nem ao menos eram Italianos, com exceção de Fabrício com sua descendência.

   - Essa Família protege o fraco do poderoso, e a partir de agora sua vida será proteger essa Família, assim como essa Família irá protegê-lo. Agora vou colocar fogo nesse santo. – explicava Fabrício, enquanto Paulo segurava um santo de igreja, impresso em papel barato. – Quando começar a queimar você deve suportar a dor e repetir o que eu disser, entendeu?

   - Sim. – disse com um forte sotaque do Nortista, a papa de seu queixo tremia violentamente.

   - Esses senhores – apontou para Ricardo e Henrique -, são responsáveis por você, e é a eles que você deve prestar contas. – disse isso e ateou fogo no papel do santo – Agora repit...

   - Ai! Puta que pariu! – gritou Paulo deixando o santo cair no chão.

   General deu um pulo, mas não rosnou nem mostrou os dentes, saiu correndo para longe, chorando.

   - O que você está fazendo, porra? – perguntou Henrique, colocando os óculos no rosto.

   - Porra, primo. Desculpa, mas me queimou.

   Ricardo ria loucamente e Fabrício olhava seriamente para Paulo.

   Henrique ameaçou sair de perto da mesa e ir pegar o santo, que ainda queimava, mas o braço de Fabrício o deteve.

   - Paulo, se você não pegar esse papel, e essas cinzas, você vai estar mais encrencado do que jamais esteve em sua vida.

   Paulo esbugalhou os olhos e pegou o santo, com mãos trêmulas. Ameaçou soltar novamente, mas Fabrício gritou.

Família Cassarano (por Marco Febrini) (Sem revisão)Where stories live. Discover now