Clara Martins
Dois meses com Pedro longe. E parecia que estava cada vez mais distante da gente conseguir se encontrar, por mais que tivesse data marcada para isso.
Pedro se encontrava ocupado demais com todos os projetos em que ele estava envolvido, chegando a gravar duas coisas ao mesmo tempo. A agenda dele era um quebra-cabeça que mudava toda semana, e mesmo com esforço, a gente mal conseguia se falar direito. Às vezes era uma mensagem de voz no meio da madrugada. Outras vezes, uma chamada rápida durante a troca de figurino. E quase sempre, um "tô com saudade" que ficava ecoando na cabeça até o próximo contato.
No início, eu tentava não pensar tanto. Dizia pra mim mesma que era fase, que ia passar. Mergulhei nos roteiros da HBO, entreguei tudo com antecedência, fiz reuniões, organizei as ideias — mas no fim do dia, a ausência dele ainda pesava. Era um silêncio diferente, não o de quem se foi... mas o de quem ainda está, só não pode chegar agora.
Passei na padaria de meu pai antes de ir trabalhar, pra tomar meu café de costume. Pra minha surpresa, Victor também estava ali sentado em um banquinho do balcão, engravatado, talvez tivesse alguma audiência hoje.
Ele sorriu quando me viu e levantou o copo de café, como quem brinda silenciosamente.
— Olha só quem resolveu aparecer cedo — disse, com aquele tom debochado típico dele. — Pensei que agora só madrugasse pra atender ligação internacional.
Revirei os olhos, mas sorri. Peguei meu café com leite e me sentei ao lado dele no balcão.
— Bom dia pra você também, Victor. E não começa, que hoje tô sensível.
— Sensível ou com saudade? — ele perguntou, já sabendo a resposta.
Suspirei.
— As duas coisas.
Ele assentiu, bebendo um gole do café dele.
— E aí, como ele tá? Sobrevivendo a ser super-herói?
— Tá exausto, mas feliz. A gente se fala pouco, mas dá pra ver no rosto dele... sabe? Ele tá dando tudo de si. E mesmo cansado, ainda encontra um jeito de me fazer rir.
Victor me olhou com uma expressão mais séria por um segundo.
— Vocês estão fazendo dar certo mesmo, né?
— Estamos tentando. Não é fácil. Às vezes, sinto que tô namorando uma lembrança — confessei, encarando minha xícara. — Mas aí ele aparece do nada com um vídeo, uma mensagem boba, e tudo volta a parecer possível de novo.
— Você sempre foi meio romântica demais, mas com ele longe parece que você está meio travada — disse Victor, girando a colherzinha no copo de café como se aquilo fosse a coisa mais natural do mundo.
— Ai, eu só quero pensar em quando ele estiver aqui. — Suspirei, deixando o corpo pesar um pouco na cadeira. — E o que a gente vai decidir pra fazer depois da turnê de divulgação.
— "A gente", tipo vocês dois?
Assenti.
— Ele vai tirar um tempo depois disso tudo. Talvez uns meses sem filmar nada. A ideia é a gente se encontrar em algum lugar, sei lá, tentar existir juntos sem agenda, sem avião, sem chamada de vídeo cortando no meio da frase.
Victor me olhou com uma mistura de curiosidade e cuidado.
— E você toparia largar tudo aqui?
— Não é largar — retruquei, quase automática. — É adaptar. Meus roteiros eu posso escrever de qualquer lugar. A padaria vai continuar sendo do pai. A vida dos outros segue. Só... queria que a minha tivesse mais presença e menos saudade.
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✅ | Scripted Hearts • Pedro Pascal
FanfictionClara sempre foi apaixonada por boas histórias - e agora, aos 27 anos, está prestes a escrever a sua. Depois de conquistar uma bolsa de pós-graduação em roteiro nos Estados Unidos, ela mal teve tempo de respirar antes de receber uma proposta dos son...
