21 • Choque

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Deitado na cama, encaro o teto enquanto minha mente insiste em voltar para o que aconteceu na escola hoje. As palavras, as risadas, os empurrões... é como se tudo estivesse preso na minha cabeça, girando sem parar. O rosto daqueles meninos aparece toda vez que fecho os olhos, e meu peito aperta só de lembrar.

Eu podia ter contado para a mamãe. Parte de mim queria contar, queria muito, mas a outra parte... não conseguiu.

Suspiro e viro de lado, abraçando meu travesseiro. Eu sei como a mamãe é. Se eu contasse, ela ia ficar preocupada, talvez até triste. Eu não quero isso. Ela já tem tantas coisas para lidar: o trabalho, cuidar de mim, o dinheiro... tudo. Eu vejo como ela se esforça, como ela tenta ser forte o tempo todo, e não quero ser mais um problema para ela.

Além disso, o que ela podia fazer? Ir até a escola? Falar com a professora? Isso só ia piorar as coisas. Aqueles meninos iam rir ainda mais de mim, iam me chamar de "bebê da mamãe" ou algo assim. Não, é melhor eu guardar isso para mim.

Mas, ao mesmo tempo, dói. Dói não poder dizer a verdade. Dói carregar isso sozinho. Sinto como se tivesse um nó gigante na garganta que não vai embora, não importa o quanto eu tente engolir.

Eu sei que mentir para a mamãe não foi certo. Sei que ela merece a verdade, que ela sempre diz que está aqui para mim. Mas às vezes... às vezes é mais fácil mentir. É mais fácil fingir que está tudo bem do que admitir que não está.

Fecho os olhos, tentando ignorar o aperto no meu peito. Talvez, um dia, eu tenha coragem de contar tudo para ela. Mas hoje não. Hoje eu só quero esquecer.

Ouço a voz da mamãe me chamando, suave, mas firme, como sempre. Viro meu rosto em direção à porta e a vejo ali, parada no batente, com aquele vestido curto e justo, preto brilhante, que deixa seus ombros à mostra. Os sapatos têm saltos tão altos que me pergunto como ela consegue andar neles sem cair. O cabelo dela está impecável, liso e brilhante, descendo pelas costas, e os lábios... tão vermelhos que parecem brilhar como as luzes da cidade que vejo pela janela à noite.

Seus olhos têm um brilho forte, mas não é o tipo de brilho que vejo quando estamos juntos. É diferente, como se ela estivesse usando uma máscara. Acho que é por causa da maquiagem, os olhos tão marcados que parecem maiores, mas algo neles parece... distante.

Ela caminha até a minha cama, e os saltos fazem barulho no chão. Cada passo parece mais pesado do que o som que faz. Quando chega perto, ela se abaixa, as mãos no colchão, e me dá um beijo na testa. O cheiro dela é doce, forte, diferente do normal.

— Eu vou trabalhar agora, meu amor. — ela diz, com aquele tom que tenta ser leve, mas tem algo a mais escondido, uma coisa que eu não consigo entender. — Fique aqui com a tia Sam, tá bom? E seja bonzinho.

Eu só consigo assentir. Não sei exatamente onde ela trabalha, mas vejo que ela sempre sai assim, tão arrumada, tão diferente, tão... séria. Às vezes me pergunto o que ela faz. Talvez algo importante, porque ela parece tão confiante quando sai.

Ela passa a mão no meu cabelo antes de se levantar. Vejo seus olhos brilharem novamente, e ela me dá um sorriso pequeno, meio apressado, antes de se virar para ir embora. Fico ali, olhando para a porta aberta, com a cabeça cheia de perguntas que não tenho coragem de fazer.

Fico olhando para a porta aberta por alguns segundos depois que ela sai. Escuto o som dos saltos dela no corredor, ecoando como um relógio que marca cada segundo até ela desaparecer de vista. Meu peito está apertado, como se algo estivesse errado, mas eu não sei o que é.

Apoio a cabeça no travesseiro, tentando ignorar os pensamentos que sempre aparecem quando ela sai para trabalhar. Não consigo evitar. Me pergunto por que ela precisa sair todas as noites, tão arrumada, com roupas que não parecem confortáveis, e sempre com aquele sorriso que não parece de verdade.

Hiraki: The Punisher (+18)Donde viven las historias. Descúbrelo ahora