Finally, a Friend

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Mas, por mais que tentasse mergulhar na trama dos Salvatore, a minha mente acabava por voltar para a guitarra, para o jeito que Miles me olhava quando corrigia os meus dedos nas cordas. Dei por mim a imaginar como seria a aula hoje, se ele iria tocar algo novo ou se iria, de novo, aproximar-se o suficiente para me fazer esquecer como respirar.

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MILES GREMS

O treino da manhã começou como sempre: eu, os pesos e o som de música alta no ginásio. No momento, tocava Holiday dos Greenday. Treinar era uma das poucas coisas que me fazia desligar o cérebro por completo. Estava na última repetição do supino quando alguém esbarrou em mim, quase derrubando o halter.

- Desculpa! Foi sem querer - disse um homem que parecia estar entre constrangido e nervoso.

- Está tudo bem. Relaxa. - disse eu, ao retirar os fones.

- Sou Diego - respondeu ele, com um sotaque carregado que não demorei a identificar como espanhol. - Cheguei há pouco tempo de Espanha. Acho que sou um desastre aqui.

Sorri levemente.

- Miles. E não te preocupes, acontece.

Não era de fazer amizades facilmente, mas Diego parecia um tipo simpático. Entre exercícios, acabámos por conversar um pouco. Ele contou que tinha vindo para a Califórnia à procura de trabalho e, até agora, não tinha encontrado nada. Havia algo nele – uma energia leve, quase cómica – que tornava a conversa agradável.

Quando terminámos o treino, ele ainda parecia perdido em como seguir o dia. Pensei no bar do meu pai e, sem muita hesitação, ofereci-me para ajudar.

- Olha, o meu pai tem um bar aqui perto. Ele está sempre a precisar de ajuda. Se quiseres, posso falar com ele. Podemos ir lá os dois. Eu trabalho lá e mostro-te como funciona.

A expressão dele mudou completamente.

- A sério? Isso seria incrível! Obrigado, Miles. A sério.

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Já no bar, o meu pai ouviu a história do Diego e, depois de alguns minutos de conversa, ofereceu-lhe uma vaga para começar já no dia seguinte. Diego parecia mais aliviado do que eu esperava, como se aquilo fosse mais do que apenas um emprego, e inclusivamente, demonstrou estar disponível para começar já hoje.

O bar estava mais movimentado do que o normal para aquela hora da tarde, mas com Diego a ajudar, tudo parecia estar sob controlo. Enquanto ele limpava os copos atrás do balcão, eu organizava as garrafas nas prateleiras, observando como ele se estava a adaptar.

- Obrigado por isto, Miles - disse ele de repente, interrompendo o barulho dos clientes. - A sério, não sei como te agradecer. Precisava mesmo disto.

Dei de ombros, focado no que fazia. - Não tens de agradecer. O meu pai gosta de ajudar e, sinceramente, parece que tens jeito para isto. Além disso, o bar anda a precisar de ajuda.

Diego soltou uma gargalhada leve enquanto polia um copo. - Trabalho não me assusta. Fiz de tudo quando estava em Espanha.

- Como assim? - perguntei, curioso.

- Trabalhei em bares, restaurantes... e toquei bateria numa banda durante alguns anos - respondeu ele, quase sem dar importância.

Parei por um momento, virando-me para ele. 

- Tu tocas bateria?

Ele assentiu com um sorriso.
- Desde os 15 anos. É o que eu realmente gosto de fazer. Claro que não dá para viver disso, mas a paixão está lá.

- Interessante - comentei, cruzando os braços. - Eu toco guitarra elétrica. Sempre quis formar uma banda, mas nunca encontrei ninguém que levasse a sério.

Diego inclinou-se para frente, intrigado. - Uma banda, é? Isso soa fixe. Se quiseres, eu posso trazer as baquetas e tocamos qualquer dia destes.

Soltei um leve sorriso. Era raro encontrar alguém tão descontraído.

- Talvez. Já faz algum tempo que não toco com ninguém. Seria interessante.

Enquanto atendíamos os clientes, a conversa fluiu naturalmente. Descobrimos que ambos éramos fãs de Guns N' Roses e Metallica. Era raro encontrar alguém que partilhasse dos mesmos gostos musicais, e isso tornou a tarde mais leve.

- Então - disse Diego enquanto terminava de servir um cliente. - vais tocar Sweet Child O’ Mine para mim um dia, certo?

- Se conseguires acompanhar na bateria -  respondi, aceitando o desafio.

Ele riu, pegando outro copo para limpar. - Desafio aceite, amigo.

Enquanto trabalhava, comecei a pensar que talvez Diego fosse mais do que um novo funcionário. Talvez fosse o início de algo maior – uma banda, quem sabe? Não tinha pressa, mas pela primeira vez em muito tempo, a ideia de criar música com outra pessoa parecia algo real.

Strings of Connection Where stories live. Discover now