A segunda-feira começou como qualquer outra, mas Myth, a minha gata, já parecia sentir que algo diferente estava no ar. Ela miava para mim, exigindo atenção enquanto me preparava para mais um dia de aulas na UCLA. Estudos Linguísticos é uma cadeira complicada, daquelas que te fazem questionar por que escolheste o curso... mas, ao mesmo tempo, desafiadora o suficiente para eu adorar o esforço necessário para compreendê-la.
Quando entrei na sala, algo chamou a minha atenção imediatamente: uma nova aluna sentada no fundo. Era impossível não reparar nela. O cabelo preto liso, o braço coberto de tatuagens detalhadas, e o olhar descontraído mas intenso. Senti uma conexão instantânea, como se a presença dela iluminasse um lado meu que, até então, parecia invisível aos outros.
No intervalo, decidi abordá-la.
- Olá, sou a Lunna - disse, tentando soar confiante. - És nova aqui, não és?
Ela olhou para mim, avaliando-me por um segundo antes de responder com um pequeno sorriso.
- Sou a Mary. Acabei de chegar de Nova Iorque.
- Adorei o teu estilo e simpatizei contigo desde que te vi - expliquei - o que tens achado de Los Angeles?
- Eu vou ser sincera... eu estava a sentir-me bastante uma outsider, mas assim já me sinto melhor, sabendo que existe alguém que simpatize comigo. Geralmente, olham todos de lado, parece que saí de outro planeta. - disse, e senti muita sinceridade na voz dela, de certo modo, também me identifiquei.
Conversar com Mary foi mais fácil do que esperava. Descobri que ela tocava piano, não como um hobby qualquer, mas como uma paixão intensa. A forma como falava das teclas, das melodias que criava, era cativante. Contei-lhe que estava a aprender guitarra e que escrevia, e ela pareceu interessada, mas não fez muitas perguntas. Era como se já soubesse o que eu não estava pronta para dizer.
- Se quiseres, podemos tocar juntas algum dia - sugeriu ela casualmente, enquanto eu tentava disfarçar o quão empolgada fiquei com a ideia.
No final da aula, saí com a certeza de que Mary poderia ser mais do que uma colega. Talvez ela se tornasse a amiga que eu tanto precisava nesta nova fase da minha vida.
Quando voltei para casa, Myth miava como se quisesse ouvir todos os detalhes do meu dia. Acariciei-lhe o pelo e pensei na curiosa reviravolta que a vida estava a dar. Entre as aulas, a inesperada amizade com Mary e as lições de guitarra com Miles, comecei a perceber que, finalmente, algo na Califórnia estava a fazer sentido.
☽ ◑ ● ◐ ❨ ◯ ◯ ☽ ◑ ● ◐ ❨ ◯ ◯ ☽
Saí da universidade com os pensamentos já focados na aula de guitarra com Miles. Foi uma segunda-feira cheia, mas, de alguma forma, saber que iria praticar com ele dava-me uma espécie de energia renovada – embora também trouxesse uma dose de nervosismo. Decidi que precisava de algo para relaxar antes de enfrentá-lo novamente e lembrei-me do Starbucks no caminho para casa.
Entrei no café e fui recebida pelo aroma reconfortante de café moído e chocolate quente. Pedi o meu habitual: um cappuccino e um cookie de chocolate branco. Esperei alguns minutos, observando o movimento enquanto o meu pedido ficava pronto.
Com o lanche em mãos, caminhei até casa. Myth estava à espera à porta, como sempre, e miou como se me estivesse a perguntar onde eu tinha estado o dia todo. Sorri e acariciei-lhe a cabeça antes de me acomodar no sofá. Coloquei o laptop à minha frente, desembrulhei o cookie e dei um gole no café quente.
Assisti The Vampire Diaries. Escolhi um episódio daqueles mais tensos, onde Damon estava a ser particularmente enigmático. Era o meu escape perfeito. Enquanto comia e assistia, permiti-me esquecer por um momento o peso das aulas, as incertezas sobre Miles, e até o quanto eu ainda me sentia deslocada na Califórnia.
YOU ARE READING
Strings of Connection
Romance(Eu ainda estou a editar, então haverão diversas mudanças) Lunna mudou-se de Portugal para a Califórnia em busca dos seus sonhos de se tornar escritora e explorar a sua paixão pelo canto. Contudo, o peso da solidão de uma nova vida faz-se sentir, se...
