Desde que me mudei para a casa dos meus pais após as longas férias na Noruega, notei que havia algo de estranho nela. A floresta em que eu brincava quando era criança que era mágica com minhas bonecas e ursinhos e que nela abitavam fadas e duendes agora parecia amaldiçoada. Galhos secos e tortuosos, animais mortos com sangue ou em putrefação espalhados fedendo a carniça, escuridão, névoa e mais névoa.
Escutei um barulho atrás de mim e me virei, eram meus pais. Senti um gelo no estômago e gemi:
-Não! Por favor, não venham!
Mas era tarde demais, algo havia puxado minha mãe pelas costas para trás de uma árvore. Porém, ela correu e se safou. Então corri até eles e os abracei. Fomos abraçados para casa.
Após jantarmos, minha mãe parou de assistir sua novela e fez um chocolate quente para mim, pois notou que eu estava branca e sem dizer uma palavra se quer. Eu tomei gole a gole como se tivesse amargo, mas não estava. Algo estava errado comigo. Sentia uma leve náusea e dor de cabeça. Agradeci minha mãe, fui escovar os dentes e deitei na minha cama sem colocar pijama. Peguei no sono rápido.
Acordei com um pulo, senti uma coisa gelada e escamosa nos meus pés. Olhei mas não vi nada; foi então que eu percebi minha janela aberta. Fui fechar. Pelo luar, calculei que deveria ser umas três da manhã. Ela estava lá. Zunindo com o vento, zombando de mim. A floresta. A razão da minha dor de cabeça. Tive remorso de ficar encarando ela e fechei a janela e a cortina. Estava com vontade de ir ao banheiro como faço sempre, mas não fui. Deitei na cama virada para o lado oposto da janela. Coloquei o cobertor na minha cara. Consegui pegar no sono.
Acordei, às sete e meia. Era sábado. Como uma criança, peguei meu cobertor e fui à sala assistir desenhos. Enquanto assistia notei uma mão vermelha com unhas compridas abrindo a porta. Soltei um grito e ao mesmo tempo subi no sofá. A mão havia desaparecido e eu vi a porta se abrindo. Era minha mãe assustada. Perguntou o que havia acontecido, mas eu não quis contar. O café fazia barulho e cheirava dentro da cafeteira.
Depois de almoçarmos, meu pai seguiu a trabalho. Minha mãe e eu fomos assistir a um filme com pipoca. Escutei um barulho de carro chegando perto. Olhei pela janela e vi que era meu namorado.
Então depois de recebê-lo, ele foi me ajudar com o trabalho de biologia no meu quarto. Eu pensei em contar tudo o que estava havendo, porém não disse nada. Se não ele poderia ter pensado que eu pirei de vez. O jeito como ele falava e explicava coisas que eu nunca iria entender me fazia desconcentrar. Então, desembuchei. Contei tudo. Todos os detalhes, tudo o que me fazia me sentir mal. Achei que ele fosse rir ou dizer que eu estava louca, mas não. Ele simplesmente disse que acreditava em mim. O que era estranho. Então prosseguimos.
Já tínhamos quase terminado o trabalho quando meu namorado saiu de casa para fumar. Nisso senti um gelo na espinha, mesmo assim decidi ir tomar um banho e esquecer tudo antes que eu enlouquecesse de vez. Olhei para o relógio já era quase seis horas da tarde. Eu liguei a torneira da banheira. A água dela começou a escorrer e pegar uma corzinha mais forte. Fui pegar a toalha no cabide depois me virei e vi que era sangue o que saía da torneira e até teve alguns pedaços de galhos juntos. Aí eu surtei de vez. Minha mãe correu até mim e eu gritava se perguntando onde estava meu namorado. Ela tentou me acalmar, mas eu corri para fora de casa e não vi nem um sinal dele. Então minha mãe agarrou meu braço percebendo o que eu tinha em mente. Mesmo assim, corri para a floresta com ela junto.
Dividimos-vos, porém ficamos próximas. Odeio o odor e tudo dessa floresta! Corremos floresta adentro e nos deparamos com muito sangue espalhado pela relva. Quando para a nossa surpresa, no fim do sangue estava o corpo do meu namorado estraçalhado.
O horror daquilo me deu um nojo que meu estômago quase saiu para fora junto com o dele. Minha mãe me segurou antes que eu fizesse o que estava pensando. Assim só pude gritar com toda minha voz: "NÃO" sonoramente. Após isso, um bando de pássaros sinistros levantou voo do interior da floresta.
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Maldita
HorrorEu tinha uma vida perfeita. Até achava estranho nada de ruim atrapalhar minha infância e adolescência. Fora tudo tão calmo e tranquilo. Mas aquela, aquela maldita teve que roubar tudo até meus sonhos, desgraça! Ela literalmente acabou com minha vida...