Seus olhos

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- O QUE?

Ignorando a questão, Crowley seguiu em direção ao quarto acompanhado do anjo que fazia uma enxurrada de indagações, das quais também ignorou. Chegando no dormitório disse:

- Deita.

- Será que dá pra me dizer o que está acontecendo?

- Eu vou tentar desfazer o bloqueio.

- Eu não vou te deixar mexer na minha cabeça.

- Anjo - estava tentando manter a calma de novo - a gente não tem muitas outras opções aqui, tá bem? Só... - foi quando olhou ao redor e viu objetos espalhados junto com os diários de Aziraphale na cômoda, a caixa aberta abaixo deles - confia em mim.

Aziraphale notou no que Crowley havia reparado e tentou confiar nas próprias palavras que escreveu em cada diário. - Está bem.

Deitou-se no centro da cama e observou enquanto o demônio se sentava no colchão de frente para si. Crowley tomou um minuto, parecia estar pensando no que faria a seguir, até finalmente se aproximar com as mãos ao rosto de Aziraphale.

A pontada foi instantânea e familiar, forçando o anjo a fechar os olhos para tentar manter a concentração. Se sentiu cansado, tonto, tinha a sensação que algo estava sendo arrancado de sua cabeça. Quando abriu os olhos para entender o que estava acontecendo, foi exatamente o movimento que viu as mãos do demônio fazendo, como se puxasse algo invisível.

Segundos depois sentiu um último baque e fim. Seja lá o que o demônio tinha feito estava acabado. Estava mais leve agora, mas ainda tonto. Sentou-se com cuidado na cama ficando de frente para o outro homem que estava visivelmente ansioso.

- E então???

E com grande lástima - Nada.

- MERDA!! - Crowley levantou em um pulo e chutou uma perna da cama no caminho - MERDA!! Era pra ter funcionado, eu senti a barreira aí, eu tirei. Devia ter funcionado!

- Eu sinto muito mesmo - também estava chateado, sua preocupação aumentava cada vez mais - senti algo diferente, mas minha memória ainda é a mesma. O que podemos fazer?

Crowley chegara ao pico de sua ansiedade. Andava em círculos pelo quarto olhando para o chão e movendo as mãos. Era visível que estava tendo um diálogo interno, tentando chegar a alguma solução.

- Ok, a gente vai fugir. Podemos recuperar a sua memória depois.

- O QUE? Não!! Eu não vou a lugar nenhum!

- Anjo, nós não temos tempo! A gente tem que sair logo daqui.

- Tempo pra que?

- Pro julgamento, será que dá pra acompanhar a dinâmica aqui? O inferno, Aziraphale, o inferno está vindo atrás de mim, assim como o céu vai vir atrás de você.

- Tenta manter a calma - era a vez do anjo manter o controle daquela situação - a loja é uma embaixada celestial, nenhum demônio vai entrar aqui sem autorização.

- Eu sei disso Aziraphale, mas nem a loja vai segurá-los pra sempre - Crowley beirava o desespero, Aziraphale teve a impressão de já tê-lo visto dessa maneira antes - a gente pode sair daqui, ganhar tempo. Alfa Centauri talvez seja uma boa ideia, depois de tudo.

- Eu não vou sair daqui. Me desculpe, estou tentando entender tudo que está acontecendo, mas eu não vou simplesmente ir embora.

Crowley não aguentava mais aquilo, não podia acreditar na teimosia do anjo. Com raiva, arrancou os óculos e olhando fundo nos olhos de Aziraphale gritou:

- Por que você não me ouve? Nós vamos morrer aqui!!

Aquilo despertou uma faísca no anjo que disse suspirante:

- Crowley, seus olhos... Eu já os vi antes.

Lost Memorie | Ineffable HusbandsDonde viven las historias. Descúbrelo ahora