O plano

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- Eu sei - respondeu cansado com um sorriso no canto da boca.

Achou que seria mesmo uma boa ideia deixar Aziraphale sozinho. Aconteceu tudo tão rápido, as memórias passavam como borrões na sua cabeça e ficou constrangido ao pensar em todo aquele sentimentalismo. Se ele estava perplexo com tudo aquilo, não podia nem imaginar como o outro devia estar se sentindo.

Aziraphale ficou sentado na cama tentando organizar as memórias por alguns minutos antes de começar a guardar as coisas em sua caixa novamente. Desejou chá, mas por algum motivo sentiu vergonha de aparecer na frente de Crowley. O demônio era provavelmente a figura mais presente em toda sua vida, como pôde se esquecer?

Arrastou a caixa de volta para o lugar, na base de sua estante, e tirou mais alguns dos seus diários antigos das prateleiras. Sentou-se na mesa onde os diários já lidos estavam dispostos e se pôs a relembrar mais. Estava agradecido por seu hábito de registrar tudo tão metodicamente.

A madrugada avançou rapidamente, o dia iria raiar em breve quando Aziraphale se deixou vencer pelo cansaço. Logo teria que se apresentar ao céu e seus olhos já estavam doendo de qualquer forma.

Avistou o demônio jogado sobre uma poltrona com uma taça de vinho vazia na mão enquanto descia as escadas. Caminhou silenciosamente, sem saber se o amigo dormia ou não. Atravessou a sala em direção a cozinha quando ouviu:

- Está me ignorando ou se esqueceu de mim de novo?

- Achei que estava dormindo. Quer chá?

- Pode ser, já que o vinho acabou.

- Tinha 5 garrafas no armário!

- Você demorou pra sempreeeee - disse dramaticamente.

Quando voltou com o chá, encontrou Crowley mais animado.

- Ok, será que agora a gente pode discutir como vamos fazer isso?

- Eu não pensei em nada até agora - admitiu sem jeito.

- Tudo bem, eu pensei em tudo. Como eu disse, você demorou muito tempo naquele quarto - revirou os olhos para o anjo.

- Será que dá pra você ser menos rude? Eu estava tendo meu momento.

- Tá, tá, já passou o seu momento. O plano é o seguinte...

E começou a explicar sua linha de raciocínio. Tinha pensado sobre o que dizia a profecia: o fogo, escolher os rostos sabiamente. Estava bem orgulhoso do que tinha pensado, na verdade, e demonstrava isso.

Aziraphale tentava manter uma atitude positiva sobre o comportamento do demônio. Estava feliz que ele usou o tempo sozinho para pensar sobre isso, já que estava pessoalmente esgotado e incapaz de ter boas ideias, porém tinha algo sobre a atitude do amigo que o incomodava. Seria mágoa? Não queria ser mal agradecido, era óbvio que Crowley o havia ajudado muito, não só naquela noite, mas uma parte sua esperava mais.

Se sentiu idiota por pensar isso. Quando estavam no quarto conversando, o amigo pareceu tão atencioso e gentil consigo. Todas aquelas histórias o animavam e não pode evitar de ver em Crowley uma figura doce, amigável, alguém com quem poderia sempre contar. Talvez estivesse buscando por uma recepção mais delicada, o que não importava agora.

- E então, acha que conseguimos? - perguntou animado com sua própria ideia.

- Claro, o que você disser...

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