10 - Casacos e confissões

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Não tive tempo para sentir nada além da dor dilacerante no meu pescoço quando ele foi largado brutalmente de suas mãos. Meu corpo caiu em um estrondo no chão do ginásio e o fio de ar que eu procurava desceu arranhando pela minha garganta. Eu a arranhava com força em uma tentativa falha de que o ar entrasse mais rápido no meu corpo, que a circulação do meu sangue se regulasse o mais depressa possível.

"O que você tá fazendo, seu merda?" Era a voz de alguém conhecido. Alguém que me salvou. Eu estava prestes a morrer nas mãos desse cara e alguém o afastou de mim. Eu precisava ver quem é. Eu precisava agradecer.

Minha vista ainda estava turva e eu simplesmente não conseguia parar de chorar. Não por Ítalo, mas por quase ter morrido nas mãos dele. Isso estava além do bullying, parecia algo extremamente pessoal. Não tínhamos afinidade, não nos conhecíamos direito, mas tínhamos alguém em comum que gostávamos muito. Arthur.

Arthur, aquele que me causava sensações elevadas e que eu não sabia o que faria se ele soubesse disso. Quem ele escolheria, a mim, no qual ele não tem uma amizade de anos, ou o seu melhor amigo – que por mais babaca que seja – ainda é seu melhor amigo? Doía pensar nisso. Doía sentir que eu não tinha lugar de fala nessa situação, que eu não tinha uma escolha e nem iria ser a escolha. Eu nunca fiz nada para nenhuma dessas pessoas e elas insistem em me desprezar, zombar e até mesmo me matar.

Deitei no chão do ginásio e pude ouvir as vozes discutindo.

"Eu faço o que eu quiser com ele! Sempre foi assim! Por que até você tá defendendo esse filho da puta?"

"Para com isso, porra! Você quase matou ele! E onde estamos? No fundamental? Cria juízo, seu merda. Ele não fez nada pra você."

"Você não sabe de nada! Você... Foi embora e deixou nós dois sozinhos. Tem noção do quanto isso me afetou? Afetou Arthur? E esse gordo do caralho foi a única coisa que me desestressava."

"A culpa de você ser um lunático é minha agora?! Nos conhecemos há muito tempo, não me faça te deixar sem os dentes!"

"Seu merda... Você devia ter ficado lá na puta que te pariu mesmo..."

E então, a porta do ginásio bateu com força. Quando minha vista melhorou, eu pude ver o rosto de quem tinha me salvado. Era Bruno. Eu já desconfiava que fosse desde o você foi embora e deixou nós dois sozinhos era claro que ele estava se referindo a Arthur e ele. Mas, por que isso seria um problema meu? Por que eu sou o saco de pancadas da história?

"Porra, você tá horrível." Senti a mão dele puxar meu braço, fazendo com que eu sentasse.

"Haha... Não me diga-" Comecei a tossir.

"Acho melhor você ir na enfermaria. Eu te levo, acho que ainda tem gente lá."

"Ha... Por que tá fazendo isso?"

"O quê?"

"Por que tá me ajudando?" As lágrimas não paravam de rolar. Talvez pelo pânico e alívio que estava em conjunto dilacerando meu peito.

"Aquele desgraçado é doente. Não sabia que ele fazia essas coisas com você. Sabia que ele era capaz disso, mas não com você. Fiquei longe por muito tempo..." Ele estendeu seu braço pra mim.

Segurei no braço dele e ele me puxou. Os dedos dele foram parar no meu pescoço, analisando o estrago.

"Tá muito feio?"

"Extremamente feio." Bruno não poupou sinceridade.

"Ah... O que eu vou dizer pra minha mãe? Cacete..." Sim, se ela visse algo como isso, o que ela iria pensar? Com que cara eu poderia dizer sim mãe eu sofro bullying na escola e dessa vez isso quase me matou.

O Brócolis e o Jogador Tahanan ng mga kuwento. Tumuklas ngayon