6 - Deixar se aproximar

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O primeiro bimestre teve o seu início e estávamos todos nos preparando para as provas antes do feriado. João e eu trocamos o refeitório pela biblioteca – estávamos passando nossa maior parte do tempo naquele lugar. Eu conseguia estudar em casa, claro, mas não com muita profundidade. Eu tinha Beatriz, uma casa para cuidar e minha querida avó que eu gostava de passar minhas últimas horas do dia assistindo algum programa bobo na TV.

Todo o meu tempo parecia esgotado demais nessa semana de provas. Era sexta feira, e teríamos a última prova, a de Biologia da senhora Lilian. João – que tivera se enturmado um pouco com sua sala depois de sua bela apresentação no ginásio da natação – fora convidado para estudar com seus colegas. Ele relutou em aceitar mas o convenci a fazê-lo. É nosso último ano, devemos aproveitar. Conhecer pessoas faz parte desse ciclo também.

Eu queria ser um pouco mais sociável também, mas ainda estou trabalhando nesse âmbito da minha vida. Então, me encolhi no meu lugar de sempre onde costumava ficar e abri o livro começando a ler os conteúdos que seriam os principais na prova. Estudei aqui e ali sobre genética, leis de Mendel entre outras chatices. Não era minha matéria favorita – eu tenho um pouco de dificuldade, confesso –, por isso estava me empenhando mais que o normal.

Dentro da minha própria bolha, eu estava tão concentrado que não notei a presença que tivera sentado ao meu lado, todo o tempo quieto e me observando. Tomei um susto e fechei o livro quando senti o cabelo de Arthur roçar na minha testa. Ele estava tão perto e parecia curioso com o que eu estava fazendo.

"Ham? Por que fechou?" Ele franziu as sobrancelhas.

"Você me assustou." Eu disse, me afastando um pouco para o lado.

Ele se aproximou de novo. "Abre aí e me ensina um pouco disso."

Arqueei uma das sobrancelhas. "Qualé, vai dizer que não sabe sobre isso? Você é o melhor aluno da turma."

"Sou mesmo, mas não sou tão bom em biologia. Tentei estudar isso aí sozinho e não consegui. Te vi aqui e pensei por que não?" Ele sorriu.

"Como sabe se serão os mesmos conteúdos?" Arqueei a sobrancelha, me fazendo de difícil. Não sei ao certo do porquê provoca-lo parecia tão divertido. Sempre que estava em sua presença, me tornava um pouco confiante. Até demais.

"Vou te passar a visão então. Primeiro, temos a mesma professora. Segundo, mesmos conteúdos independente se nossas salas sejam diferentes. Ou seja, é tudo a mesma coisa. E se não for, pelo menos aprendo, não é?" Ele falava sério enquanto contava nos dedos.

Me encolhi tentando não rir.

"Que foi? Tá rindo de mim, é? Para de graça pô." Ele riu também, tentando olhar pro meu rosto.

"Por que não pede pro Ítalo te ensinar?"

Ele fez uma expressão de tédio. "Tá falando sério mesmo?"

Respirei fundo tentando não rir e olhei pra ele por um tempo tentando descobrir se seu interesse na matéria era verdade ou não. Ele tem amizade com a escola inteira e nenhum desses colegas é capaz de ajudá-lo com isso? Parece um pouco imprevisível. Que seja. Suspirei em desistência e me dei por vencido quando encarei seus olhos de cachorro perdido. Me lembrou Beatriz quando suplicava por ajuda em seus problemas de matemática em uma atividade para casa.

"Ok. Mas vou te ensinar o que eu entendi. Não sei se tá certo."

Ele acenou sem relutar. "Acredito no seu potencial. Agora vamos lá."

Prendi o riso. Me remexi um pouco e abri o livro explicando isso e aquilo sobre o assunto. Arthur prestava atenção veementemente, como fazia nas aulas. Em seguida, fiz algumas questões relacionadas ao assunto e nós dóis respondíamos cada um, uma. Quando alguém errava, tentava buscar o porquê do erro e se ajudava. Não foi tão ruim quanto eu pensei. E ele levou mais a sério do que eu achei também.

O Brócolis e o Jogador Where stories live. Discover now