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Dois dias depois, logo pela manhã, o Palácio Ducal estava agitado. Súditos, cozinheiros, faxineiros e outros profissionais tinham pressa e ao mesmo tempo cuidado. Afinal, muita gente viria (mais de 100 convidados). Geralmente, os nobres planejavam passear no meio do povo durante o Carnavale popular, os navegadores e militares se apresentavam para as jovens debutantes, e havia muita dança e bebida a valer.

Durante toda a manhã, Joabe ficou testando diversas roupas para o baile, que começaria ao entardecer, umas 17:00 horas. Ele pedia a opinião de Giorgio, que como um criado que entendia de moda, comentava com sinceridade:

-O que achou dessa roupa?

-As cores não combinam com a máscara.

-E dessa?

-Muito justa.

-E essa?

-Muita larga! - o servo fez uma careta. - E que máscara depressiva. Vai atuar em um teatro grego de tragédia?

-Achei esse traje estiloso.

-Só se for para assaltar um banco.

-E esse?

-Nossa, lindo! E onde arranjou essa máscara?

-Na verdade, eu a pintei. Ela é bem simples, então resolvi dar um retoque.

Horas depois, finalmente, os primeiros convidados adentraram o salão de festas, que estava enfeitado de cima a baixo, e num canto, uma extensa mesa estava farta de comida.

Aos poucos, Joabe, os comandantes e os soldados do Graccio, começaram a entrar furtivamente no evento, mascarados de maneira simples, contudo, bem vestidos.

Quando o sol se pôs, uma música mais animada foi tocada, e os mascarados começaram a dançar, incitando os músicos a tocar de maneira mais alegre. Mário, usando uma máscara cinza com bordas pretas que contrastava de forma estilosa com seu terno, andava tomando uma taça de vinho pelo salão. Seu objetivo? Como deve ter imaginado leitor, ele estava atrás de Camila. Quando já tinha caminhado umas quatro vezes pelo aposento, suspirou triste, e foi para uma varanda.

-Está atrás de alguém? - uma voz soou quando chegou na sacada. Olhando para sua retaguarda, ficou um pouco desapontado.

Uma moça trajando um vestido cinza, uma máscara cinzenta que cobria do nariz até a testa. Seus cabelos eram ondulados e com a brisa noturna, pareciam flutuar em volta da mulher. Apesar disso, Mário conseguia ver que não era Camila. Escondendo seu descontentamento, respondeu:

-Eu estava, mas já percebi que vocês levam a sério esse baile de máscaras.

-Faz parte da cultura de Veneza. Nesta época do ano, os nobres vão para o meio do povo fazer o que quiserem. Afinal, estarão irreconhecíveis.

-Por que vão estar... Ah tá, entendi.

-Você não é daqui, né? Presumo que seja um navegador estrangeiro.

-Tipo isso. E a senhora?

A moça riu: - Uma das regras do baile é a discrição de cada um. Mas, como deu uma pista de quem é, eu também darei. Sou filha de alguém importante.

-Francesco Foscari?

-Não - ela riu - Péssimo chute.

-O que é chute?

Numa conversa boa e descontraída, os dois continuaram conversando na varanda sem perceber a velocidade do tempo.

Enquanto isso, Joabe estava metido no meio dos dançarinos. Logo de cara se dará bem com a musicalidade animada de Veneza, e por isso aproveitava alegre os festejos.

Estava mascarado na metade do rosto com uma máscara verde com pedrinhas brancas, e um terno branco por cima de uma camisa de botões verde. Por baixo dos trajes, estava o talismã de águia.

Em certo momento, enquanto dançava, alguém esbarrou em suas costas. Ao olhar para trás para se desculpar, viu apenas um homem de máscara azul toda brilhante se afastando rapidamente.

-Deve ter sido só impressão minha - concluiu Graccio.

Contudo, ao olhar para sua mão, deu falta de um de seus anéis. Foi então que se deu conta do sucedido. Pela primeira vez na vida, tinha sido roubado.

Furioso, saiu da roda de alegria e foi atrás de algum conhecido. Pelo cabelo, identificou Adriano, e Célio pela baixa estatura. Colocou seus braços nos ombros deles, e sussurrou:

-Acabei de ser roubado.

Adriano se engasgou com o suco que tomava, e Célio indagou:

-Quem te assaltou e o que levou?

-A pessoa eu não sei quem é, mas a identifiquei como tendo sido um cara de máscara azul brilhante. E ele pegou meu anel.

-Qual deles?

-O que eu uso no dedo indicador da mão direita.

-Vamos atrás dele.

-Acho melhor irmos logo - falou Adriano, recuperado - Acabei de ver um homem com essa descrição saindo daqui. Provavelmente, fugirá.

-Não temos tempo a perder! - Joabe exclamou, e acompanhado de seus amigos, seguiu atrás do ladrão. 

O trio correu por mais dois salões, olhando impacientes para os lados. O Graccio estava ficando nervoso com a ideia de que a terra havia engolido o ladrão.

Até que Adriano puxou a manga da camisa dele, sussurrando em seu ouvido:

-Ele está atrás de nós, andando discretamente de volta pro salão principal.

-Vamos atrás dele - ordenou Joabe, mas seu companheiro o repreendeu:

-Não, você não. Ele te viu aqui e se escondeu atrás de um pilar, dando meia-volta. É melhor eu e Célio irmos à caça.

-Mas e eu?

-Fique aqui.

Se fosse com qualquer outra pessoa, até mesmo seu pai, o jovem nobre teria sido o primeiro a correr atrás do furtador gritando "Pega ladrão!". Mas conhecia aquele que lhe sussurrava no ouvido desde criança. Haviam brincado juntos, chorado juntos e até mesmo viajado juntos.

-Tudo bem. Contudo, não demore. 

As Águias Gêmeas (Fantasia-Histórica)Onde histórias criam vida. Descubra agora