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Enquanto aqueles homens conversavam sobre a ideia do irmão do conde, Joabe escalava o Morro de São Tiago usando uma corda e suas mãos. Além dele, o acompanhavam dois amigos.

-Vamos, molengas! - gritou Domenico, filho de Alessandro, sentado numa rocha plana e vendo seus dois companheiros subirem.

-Cale a boca, imbecil - reclamou Joabe - Quando eu chegar lá em cima, ele vai ver!

-Acalme-se, amigo - falou Isaia, um escudeiro. - Eu vou jogar Domenico lá de cima se for preciso.

Ambos riram baixo.

Depois de alguns minutos, os dois alcançaram a rocha plana.

-É aqui mesmo? - perguntou Isaia, ao ver uma gruta.

-É - respondeu Domenico - Aqui está a tal gruta que comentei. Podem confiar.

O trio adentrou a caverna, cujo chão disforme aos poucos ia descendo como uma rampa. As paredes eram recheadas de cogumelos e limo pegajoso, e por isso, não tinham apoio confiável. Cada um usava uma bengala feita de madeira para se guiar no escuro da gruta, que aos poucos ia aumentando até que Isaia precisou ligar um lampião. Através do objeto, puderam visualizar diversas entradas nas paredes e até portas de madeira carcomida. Depois de alguns minutos caminhando, viram uma estranha luminosidade numa curva à direita. Virando na direção da luz, o escudeiro e o nobre ficaram pasmos ao ver um lago iluminado no fundo.

-Então era verdade o que você disse! - exclamou Isaia.

-Eu nunca minto - vangloriou a si mesmo Domenico. - Vamos descer, gente. Tem uma escada bem ali.

Os três desceram uma curta e antiga escada, provavelmente da época do império romano, e ficaram na margem arenosa do lago.

-Porque ele tem essa iluminação azul? - perguntou o Graccio.

-Há cogumelos biofluorescentes espalhados no fundo - explicou o filho do barão. - Apesar de parecer, não é tão profundo aqui.

-O que era aqui antes?

-Um ninfeu dedicado a alguma ninfa grego-romana. As paredes lá de cima, apesar de parecerem rochosas, são feitas de prata e bronze, e as entradas e portas que vimos, são outras salas.

-Ei, parem de ser inteligentes e venham brincar! - declarou o escudeiro, retirando o cinto que carregava a bainha da espada e sua calça.

-Se for pra eu te olhar assim, prefiro voltar - brincou Joabe, desabotoando sua camisa e tirando a calça, jogando as peças na areia.

-Esperem por mim! - declarou o filho do barão, cuja cabeça ficou presa na gola da camisa.

Durante quase o dia todo os três ficaram nadando nas águas límpidas do antigo ninfeu, esquecendo por um tempo a seriedade que deveriam ter diante da sociedade afora.

-Olha o que sei fazer - Isaia então fez um mortal debaixo d'água - Taram!

-Até uma criança sabe - zombou Domenico.

Como resposta, o escudeiro jogou água no membro da nobreza.

-Nem parece que é comparsa do cavaleiro Ainez- comentou Joabe, flutuando de barriga para cima.

-Sinceramente falando, ele é um babaca. Ainez só pensa em beber e em mulheres. Esse é seu objetivo como cavaleiro. Eu quase não faço nada quando estou com ele. Sou escudeiro, mensageiro de cartas amorosas e entregador de vinhos particular dele.

-Nem sei como as pessoas veem ele como exemplo - disse Domenico.

Muitas horas depois, eles se vestiram de novo e foram para a saída, alegres e conversando:

-Que legal incrível! - Isaia estava animado. - Ia ser muito bom se pudéssemos comemorar eventos aqui e...

-Negativo - negou Domenico - Ninguém mais, a não ser nós, pode saber desse paraíso.

Os dois garotos apenas concordaram sem se queixar.

***

Chegando em casa após o anoitecer, Joabe foi recebido pelo seu companheiro,

Adriano.

-Seu pai está com muita raiva de você - informou.

-O motivo seria qual? - perguntou calmo o filho do conde.

-Era pra você ter ficado na reunião que teve.

-Ele não me chamou, então...

O amigo se calou e guiou Joabe até seu pai, que o esperava no quarto.

-Pode ir, Adriano- ordenou sério Timóteo.

Quando o jovem saiu, o Conde falou:

-Filho, temos um assunto importante a tratar.

-Diga, pai - Joabe cruzou os braços.

-Tu tem poucas propriedades aqui como herança, então, estou pensando em te mandar para a Península Ibérica...

-Fazer o que lá?

-Deixa eu terminar de falar! Te mandar para a Peninsula Iberica para tu conseguir fortuna na Guerra da Reconquista.

O garoto riu: - Boa piada pai.

-Não foi uma piada - tossiu forte.

Joabe lhe encarou por alguns segundos e então gritou: - VOCÊ VAI ME MANDAR PRA GUERRA? ESTÁ LOUCO?

-Fale baixo, fi...

-O QUE EU TE FIZ? ACHA QUE SOU UM SOLDADO QUALQUER?

Timóteo, furioso, deu um soco potente no filho: - Tu és meu filho, e estou preocupado com seu futuro. Não conseguistes chamar a atenção de uma garota pra no mínimo, se casar.

-Elas preferem Josué - comentou o ferido, massageando o rosto.

-Tu também não facilitas.

-O que está tramando?

-O que insinua?

-Nunca fostes de mandar nem mensageiros para tão longe. Foi o Conselho que te convenceu a tomar essa atitude?

-Não.

-Uhum, sei.

-Estou dizendo a verdade - Timóteo virou os olhos, o que significava que era mentira - Além disso, a ideia de te mandar para tão longe para conseguir fortuna e terras era o plano Z, a última opção.

-Quando irei?

-Não sei. Que tal daqui há um mês, antes do Natal?

-Um mês e meio, após o Natal e Ano Novo. Tenho coisas a resolver.

-O quê?

-Coisas que não lhe importam.

Antes que Timóteo pudesse repreender seu filho pela falta de respeito, Joabe já tinha saído do aposento, batendo fortemente a porta.

-Onde foi que errei na criação desse moleque? - perguntou para si mesmo o pai. 

As Águias Gêmeas (Fantasia-Histórica)Where stories live. Discover now