𝟭𝟮

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"no milímetro que nos separa
cabem todos os abismos"

- Carlos Drummond de Andrade



‎Quando Hazel acordou ela estava sozinha, o quarto agora frio. Confusa e um pouco envergonhada ela saiu dali.

Os dias passaram e ficava cada vez mais difícil se manter em silêncio. A mente lhe ameaçava a devorar e os sonhos voltaram.

Azriel havia sumido, não estava em lugar algum e Hazel não tinha energia para perguntar a ninguém, ela sentia que se começasse a falar as coisas sairiam do controle.

Nestha havia parecido desistir e Elain estava ainda da mesma maneira.

Então com a inquietude Hazel sentiu na pele a agitação, conhecia bem a sensação da magia e em segundos era novamente uma criança tentando aprender a se controlar.

Tudo o que ela fazia era manter a mente presa, o poder preso.

A cada dia mais cansada. Ela havia parado de passar as manhãs na sacada, já não tinha certeza se encararia isso como uma brincadeira.

E claro, as visitas de Rhysand. De repente o tão ocupado e perturbado macho havia arrumado um tempo semanal para ela.

Sempre tentando conversar, tentando a verificar e invadir sua mente. Hazel sempre deixava e sempre lhe mostrava alguma imagem de Feyre, algo que lhe machucasse.

E Rhysand sentia que merecia, então eles continuaram a alimentar a dor um do outro. Hazel odiava suas inspeções, a fazia se lembrar de quão insano tudo aquilo era.

Não que ela admitiria a ele quão perto estava de explodir.

Quando estava prestes a começar a quebrar tudo ela ouviu um xingamento baixo. Se virou e viu Cassian se arrastando até a sala livre. Então os móveis não sumiram com medo de mim, mas para ele.

- Oi Hazel...

O general hesitou, mas continuou a andar até a sala se sentando no chão. Apenas isso parecia levar o melhor sobre ele, as asas preenchidas novamente.

Hazel observou intrigada.

- Ah é, agora você não fala. Desculpe. - Ele alongou seus braços resmungando. - Preciso começar a mobilidade das asas agora, fisioterapia é uma merda.

Como um gato ela observou seus movimentos intrigada, curiosa e cautelosa. E quando ele lhe chamou ela decidiu ir.

Hazel sorriu se sentando a sua frente. E aos poucos ela imitava seus movimentos, exceto que em alguns ela não tinha asas a imitar. Mas o movimento constante espantou cada tormento de sua mente.

E claro, havia sua perna ruim. Mesmo como féerica, estando mais forte e se recuperando mais rápido ela ainda não conseguia a usar livremente, então isso ajudaria também.

Juntos e em silêncio eles se alongaram, Hazel sorrindo a cada xingamento de Cassian. Talvez eles tenham se julgado mal.

O illyriano gostou da companhia tanto quanto ela. Ambos precisavam disso.

Então além dos dias nervosos eles começaram a se reunir ao amanhecer e ao anoitecer na sala. As vezes ela sentia vontade de rir, o grande macho era mais engraçado do que parecia.

Quando ele estava conseguindo se movimentar mais Hazel o desafiou.

Cassian estava se levantando para ir embora quando a viu em posição de defesa, os olhos afiados.

Ele riu considerando.

- Boa postura, mas ainda não.

Hazel bufou o fazendo hesitar de novo, ele suspirou desistindo.

- Rhys sempre disse que eu era o irresponsável mesmo.

O macho se aproximou assumindo sua própria postura, em um movimento ele lhe deu um gancho ao qual ela desviou seguindo seu ritmo.

Em poucos minutos eles estavam em uma espécie de dança lenta e ritma, as costas do illyriano tremiam de esforço, mas as asas estavam bem.

Abaixando, esquivando e lentamente atacando. Como um ensaio cuidadosamente orquestrado Hazel seguiu sua velocidade.

Dia após dia eles melhoraram, quando Cassian estava com quase total força recuperada Hazel já havia se acostumado a seu estilo de luta.

- Cacete.

Ele resmungou quando caiu no chão, ele era mais forte, mas estava hesitando.

Hazel fez uma careta de desaprovação jogando sua faca no chão dramaticamente.

- Eu sei eu sei... Mas ela ainda dói um pouco. - Hazel ergueu as sobrancelhas. - Você também mantém a guarda sob a direita, vai me dizer que isso é normal?

A carranca piorou e Cassian riu. A poucas semanas sua perna estava dilacerada, e ela não tinha um par de asas, mas não queria imaginar essa dor ou a comparar.

Ela se imaginou perguntando sobre, sua língua coçando. E então imediatamente se lembrou de Melissa.

Ela terminou de guardar as armas sem tirar seu rosto da mente. O que não passou despercebido por Cassian.

- O que houve?

Hazel o observou, confiava nele, mas não falaria com ele. Ao invés disso ela esticou a mão para alcançar o cantil, Cassian agarrou se pulso assobiando.

Linhas escuras passavam por eles.

- Droga Hazel. Isso é magia. A está segurando não é? Não pode fazer isso.

Seu coração pulou, e a maldita sensação estava lá mais forte, feliz por ser notada. Sempre presente. Uma coceira no sangue, uma pressão que se faz ouvida dia após dia.

Ela deslizou o cantil para o bolso.

- É perigoso demais, já vi homens explodindo em fúria por isso. Fora a dor.

Quando Hazel pensou ver pena em seus olhos rapidamente Cassian se irritou. Começou a praguejar sua irresponsabilidade.

Isso lhe trouxe um pouco de alívio, não conseguiria lidar com sua pena.

- Certo. Certo. Não podemos lutar com sua magia, seria perigoso nesse estado. Então... O que você sabia fazer antes?

Eles se encararam. Cassian riu nervoso.

- As vezes me esqueço que você não fala. Bem, você sabia invocar coisas? - um aceno negativo. - Explodir? Atravessar?

O coração de Hazel pulou e ela confirmou. Cassian sorriu vitorioso.

- Tudo bem, podemos começar com isso. Como você já atravessava antes não vai ser diferente. Experimente com o salão.

A fé de Hazel se desmanchou, esteve prendendo sua magia a todo esse tempo e não sabia o que caralhos o caldeirão havia feito com ela.

Completamente féerica seria completamente mágica?

- Vamos, não pense demais. Apenas solte, isso vai ajudar e então se sentirá melhor.

Hazel suspirou convencida. E então soltou se arrependendo imediatamente quando o chão abriu sob seus pés conforme ela atravessava a pedra fria.

𝗛𝗮𝘇𝗲𝗹 𝗔𝗿𝗰𝗵𝗲𝗿𝗼𝗻 Onde histórias criam vida. Descubra agora