Capítulo 17

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Fernanda respirou fundo e saiu de seu carro com um desgosto mais do que evidente na face. Ela olhou com olhos fulminantes para duas vizinhas fofoqueiras que espionavam porque uma professora, que mais parecia um carrasco do lombo ou desenho juvenil, estava na casa dos Dias, uma família respeita e que se orgulhava da educação e postura das filhas. Boa coisa não deve ser.

Uma erguida de sobrancelhas foi o suficiente para que ambas mulheres desistissem, por agora, de espionar uma possível fofoca quentíssima para movimentar o bairro. Nunca tinham nada para falar daquela família, não queriam perder a oportunidade. Mas pensando melhor, era melhor perder a oportunidade do que os poucos fios de cabelos verdadeiros que restavam. A mulher não parecia estar de brincadeira.

Depois de se certificar de que as duas velhas feias foram enviadas de volta para o inferno que saíram,  ela se permitiu observar a residência dos Dias. Diferente da maioria das casas do bairro, aquela tinha um aspecto muito mais estranho. Provavelmente se devia ao fato de que Alane era de um estado completamente diferente, e ela não se mostrava gostar muito de onde atualmente vivia.

Respirou fundo derrotada e caminhou cautelosa até a frente da casa. A porta branca tinha um desenho de uma flor, uma rosa, e aquilo a lembrou vagamente de quando viu Alane pela primeira vez e achou que fosse exatamente isso, uma rosa. Mas se repreendeu antes que deixassem seus pensamentos irem longe demais. Aquilo era errado e arriscado, precisava melhorar. Reuniu coragem após ver que as velhas não haviam voltado e tocou a campainha.

Ouviu um "já vai" abafado pela porta e esperou. Enquanto isso, reparou no jardim bem cuidado e na grama real, uma raridade naquele lugar, um pouco destruída. Possivelmente, trabalho de Liz, a cachorrinha insuportável de Alane. Fernanda levantou os olhos assim que a porta se abriu.

Quase teve um infarto ali mesmo. Alane sorriu sem graça, toda suja de farinha e com os cabelos presos em um rabo de cavalo alto. Usava uma regata verde escura e calça jeans preta. Nos pés, pantufas. Fernanda achava que a velhice precoce estava cobrando seu preço pelas batidas incessantes do coração idiota que habitava em seu peito. A menina pigarreou, tímida.

— Boa tarde, senhora Bande. Perdoe meu estado e por favor, entre.

Fernanda esperava que não tivesse sido óbvia, por isso entrou com a postura intimidadora que sabia lhe pertencer e observou o local. O interior era aconchegante, com um hall redondo e uma escada que levava ao andar de cima. Havia uma porta que Fernanda supôs ser o armário dos casacos e sapatos. Haviam quadros na parede de Alane e sua família, e Fernanda não precisava de uma lupa para saber qual das mini versões era Alane.

— A senhora quer colocar o casaco no armário? Temos bast-

— Estou bem. — falou seca.

Alane se surpreendeu um pouco, mas assentiu e mordeu os lábios.

— Queira me acompanhar até a cozinha, por gentileza.

— Não tão rápido, Alane.

As duas se viraram na velocidade da luz para ver um homem, o senhor Dias, descer a escada com uma feição séria. Fernanda ergueu as sobrancelhas para ele, que vacilou um pouco, mas logo voltou ao normal. Antes mesmo dele abrir a boca, Alane já parecia estar morrendo de vergonha.

— Senhorita-

— Senhora — ela corrigiu com uma voz dura.

— S-senhora. — ele limpou a garganta. — Digo, senhora. Senhora Bande, sou o senhor Dias, pai de Alane. Peço desculpas já, minha esposa Aline lida melhor com isso, mas ela teve que sair com a irmã mais velha de Alane.

— Isabelle. — falou séria. Ele se surpreendeu, mas assentiu.

— Isso, Isabelle. Eu queria pedir para que tente ensinar minha filha para tentar voltar com as boas notas. Ela nunca teve problemas nas matérias que a senhora leciona, não entendo o porquê disso agora.

teacher's pet • alane﹠fernandaWhere stories live. Discover now