46_ Freeman??

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Eu tinha muita coisa.

Nunca parei para pensar no tanto que coisa que acumulei nos meses em que estive naquela casa. Eu tinha roupas, tinha acessórios, tinha cosméticos, tinha sapatos, tinha roupas e acessórios de ballet, tinha presentes que ganhei de pessoas, tinha lembrancinhas de eventos e coisas que frequentei, tinha eletrônicos e tudo o que eu tinha eu quis ter na minha casa, mas não tinha condições o suficiente.

Parando para pensar, aquele dia em que me perdi e perguntei ao homem da oficina se eu podia usar o banheiro e acabei me metendo dentro de uma guerra da máfia, foi um marco e tanto na minha vida. Há, com certeza, um antes e depois daquele dia.

Antes de entrar naquele lugar, eu era uma bailarina mal paga que trabalhava meio expediente num restaurante, morava numa casa minúscula, vivia cheia de dores e preocupações, não sabia se ia poder comer no dia seguinte pela falta de dinheiro, passava dias tão quieta por não ter amigos para conversar que as vezes ficava mexendo a boca pela dor de ficar tanto tempo com ela fechada. Chorava quase todas as noites me perguntando quando minha vida mudaria, tinha sonhos que já não eram mais sonhos, apenas lembranças de algo que um dia eu quis, era humilhada constantemente pelos colegas do teatro e traída pelo namorado imbecil.

Depois daquele dia, eu me tornei alguém mais confiante. Parei de me bloquear, fiz amigos, voltei a amar a dança, terminei a faculdade, realizei pequenos sonhos que jamais pensei que poderia realizar. Passei a me alimentar direito e hoje estou no peso ideal para minha altura. Me descobri, me conheci melhor, vivi uma vida de qualidade e parei de chorar até dormir. Fui a festivais, inaugurações, almoços e jantares com vizinhos e amigos, assisti filmes e tive uma noite das garotas. Pude relaxar a minha cabeça sem me preocupar se vou ter um teto sobre a minha cabeça na manhã seguinte. Voltei a sentir coisas. Voltei a sentir alegria, prazer, paz, tristeza, tranquilidade, amor... Meu coração voltou a viver e eu não estava preparada para me despedir de nada disso.

Drake já tinha ido embora e eu estava evitando pensar nisso. Evitando pensar que, talvez, eu não o veja mais. Estava tentando ignorar esse pensamento porque dói demais.

Eu rodei o quarto inteiro sem saber o que levar. Eu nem sabia para onde estava indo! Ouvi Drake falar sobre me mandar para Capri, mas eu não estava certa disso. É óbvio que eu amaria morar em Capri. Morar numa ilha ensolarada na Itália tinha se tornado um de meus sonhos, mas como vou seguir a minha vida e esquecê-lo, como ele mesmo pediu, se vou morar no sonho dele?

Acabei desistindo de fazer a mala e só peguei a minha bolsa do ballet. Do mesmo jeito que eu tinha chegado, eu iria. Coloquei poucas coisas na bolsa e a fechei. Saí do quarto sem me despedir de nada e desci as escadas.

Michael estava sentado na poltrona do sofá. Seus olhos focaram em mim quando apareci na escada.

ㅡ Eu só preciso esperar um sinal do Drake. Aí ele vai enviar uma pessoa pra te encontrar na interestadual. ㅡ Ele disse assim que joguei a bolsa no sofá e me sentei.

ㅡ Enquanto isso você pode me contar o que aconteceu entre vocês no passado que hoje parecem inimigos que não se odeiam. ㅡ Cruzei os braços. Michael pareceu confuso com minha curiosidade. ㅡ Eu só quero me distrair.

Olhei na direção da televisão e liguei com o controle. Fiquei passando os canais até achar o que passava notícias de Nova York. Meu peito se apertou e novamente me perguntei como eu o esqueceria se qualquer coisa me lembrava ele.

Droga, eu nunca mais vou poder comer melancia?

ㅡ Éramos amigos na época da escola. Minha família é composta por polícias e o pai dele era da máfia. Um dia Drake disse que não queria mais andar comigo e que só era meu amigo para irritar o pai dele, porque o pai dele odiava a mim e minha família. ㅡ Michael voltou a falar e eu o olhei ainda com o controle na mão. ㅡ Meus pais também não gostavam que eu andasse com o Drake e na época, por sermos mais novos, fiquei magoado com isso, porque eu desobedecia os meus pais porque gostava da amizade dele. ㅡ Michael cruzou os braços se ajeitando no sofá. ㅡ No fim ele só me disse aquilo porque não queria ter amigos, achava perigoso.

Me ame, ChloeOnde as histórias ganham vida. Descobre agora