‘ameaça? Não. Isso é um conselho’
3 anos atrás
Na manhã seguinte, antes mesmo dos primeiros sinais do sol aparecerem no céu azul escuro, a corredora já se encontrava de pé caminhando lentamente em direção às várias redes onde os garotos ainda dormiam. Nina por ser a única garota na clareira tinha direito a um quarto e um banheiro apenas seu, por questões de privacidade e problemas femininos.
A garota não estava contente de ter que perder um dia explorando o labirinto para ter que apresentar todo o local e como ele funcionava para o novato. Entretanto ser a vice líder do lugar tinha suas obrigações, e por mais que Alby sempre lidasse com essa parte graças a sua paciência para explicar tudo, hoje o mesmo estava atolado de outras coisas logo tendo que passar o trabalho para Nina.
A de cabelos escuros se esgueirou por entre as redes até avistar a mais afastada onde o garoto asiático dormia profundamente. Por mais estranho que aquilo parecesse aos seus olhos, a garota não conseguiu evitar de observá-lo por mais tempo que o necessário. Notou a ruga em sua testa, mostrando que mesmo adormecido ele continuava nervoso e tenso em relação ao monte de novas informações sobre, notou a forma como ele se encolhia na rede como se não estivesse acostumado com aquilo, o biquinho que seus lábios formavam e a forma como eles pareciam macios.
“Que mértila estou pensando” — se repreendeu mentalmente a garota.
Sacudindo a cabeça para afastar aqueles questionamentos, a corredora enfim cutucou o garoto com certa brutalidade na região da costela. O novato com apenas um se colocou se pé com os olhos agora bem abertos, seu peito subia e descia rapidamente graças ao susto ao mesmo tempo que suas iris escuras vasculharam os arredores em busca da possível ameaça, logo pousando sobre a garota de braços cruzados que ainda o encarava sem dizer uma palavra.
— O que vo...
Interrompendo o questionamento, Nina levou o dedo aos lábios indicando que ele fizesse silêncio e em seguida apontou para os demais garotos que roncavam ao redor deles. Com apontar de cabeça, a corredora indicou a direção que deveriam seguir, e ainda que relutante o novato acatou o pedido seguindo a outra até um lado mais afastado da clareira.
O caminho até então era silencioso, o garoto ainda não sabia o motivo daquela espécie de passeio matinal e Nina ainda buscava as palavras certas para fazer o discurso motivador que Alby sempre fazia quando um novo fedelho chegava pela caixa. Ela definitivamente não era boa com aquilo. Sabia dar ordens, impor respeito e fazer tudo andar nos trilhos, mas quando o assunto era ser simpática e receber bem os novatos, ela simplesmente se sentia a pessoa mais inútil da clareira.
— O que é esse lugar? — o garoto questionou quebrando o silêncio.
Nina respirou fundo, formando as frases de forma mais explicativa que conseguisse em sua mente antes de encarar outra vez as iris escuras do novato.
— Essa é a clareira. Não é o nome real, mas a batizamos assim. Aqui é onde moramos, onde comemos e onde dormimos.
— E por que eu estou aqui? Por que não me lembro de nada?
— Sem interrupções, fedelho. — Nina advertiu com sua pouca paciência.
O garoto bufou irritado enquanto passava as mãos de forma nervosa pelos cabelos espetados. Nina sabia exatamente o que ele estava sentindo, mas admitia que era de certa forma engraçado vê-lo à beira de um colapso nervoso. Sempre era assim, todas as vezes, sem nenhuma exceção. Entretanto a maioria cerca de uma semana depois já começava a aceitar a nova realidade e lidar com as coisas de maneira racional.