𝐒𝐢𝐱; 𝐞𝐜𝐡𝐨𝐞𝐬 𝐨𝐟 𝐠𝐫𝐢𝐞𝐟.

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"Eu e o Demônio
Caminhando lado a lado
Eu e o Demônio
Caminhando lado a lado"

Me And The Devil - Soap&Skin

Me And The Devil - Soap&Skin

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9 de setembro
Las Vegas

A morte tem um jeito peculiar de silenciar até os corações mais barulhentos.

Ela chega de forma calma e silenciosa, como uma amiga íntima que possui as chaves da sua casa e entra para tomar um café. Ao acordar, tudo parece perfeito, seu dia segue normalmente, mas ao final, você não existe mais. A morte tomou o café e sua vida.

Alguns corações gritam por paz e tranquilidade, enquanto outros clamam por libertação em desespero. A morte silencia todos eles, mas isso não significa que o desejo por paz e liberdade desapareça.

Quando uma mãe perde seu filho, ela fica devastada. Considero que essa é uma palavra reservada para mães que perderam seus filhos. Elas ficam sem chão, sem teto e sem rumo. De manhã, seu filho estava tomando café ao seu lado, contando seus planos para o dia; à noite, ela está ao lado do caixão de quem sorria alegremente há poucas horas.

Morrer é a parte mais fácil da vida, temo. Você não sente, não vê, não corre. Quando percebe, a morte já começou e terminou. Mas, para os outros, pode ser uma das partes mais difíceis da vida. As mães ficam devastadas, carregando uma ferida que nunca se fechará. Elas sempre sentirão o coração raspando na carne a cada movimento, a dor avassaladora de estarem machucadas internamente sem chance de cura. As namoradas têm o fio do destino cortado, enterrado, emaranhado sob a terra eternamente. Elas encontrarão outros homens, mas nenhum terá o fio do destino ligado a elas. Irmãs e irmãos gritarão de dor, como se uma parte de suas almas fosse arrancada. Uma parte de suas almas foi com o falecido, pois não se pode viver ao lado de alguém sem presenteá-la com um pedaço da única coisa que é totalmente sua. E os pais? Ah, os pais. Eles não choram tanto, precisam passar confiança para a família, mas sentem tanto quanto os outros. Cada órgão é danificado pelo desespero alucinante que passa por suas cabeças. Eles nunca mais serão os mesmos.

A chuva cai sobre a cabeça de todos os presentes, mas ninguém parece interessado em pegar um guarda-chuva. Talvez pensem que a chuva disfarça suas lágrimas, mas consigo perceber cada um aqui que está chorando.

Há mais de dez minutos meus olhos estão presos em uma mulher de cabelos castanhos que está chorando. Ela está devastada, e só por saber que essa palavra a descreve, sei que é a mãe de um dos garotos nos caixões. Mesmo com a chuva caindo sobre seus ombros como o peso do mundo, ainda consigo ver suas lágrimas. Seus olhos estão vermelhos e sua boca, contraída. Ao seu lado está um homem baixinho, quase da sua altura, confortando-a. Seu braço esquerdo está sobre o ombro da mulher, enquanto o direito segura suas mãos trêmulas. Sentada aos seus pés, há uma garotinha fofa. Ela é a única que não está vestida de preto. A garota está com uma saia longa azul escuro, uma blusa da mesma cor e tênis brancos. Dei meu primeiro sorriso do dia ao ver suas mechas azuis no cabelo. Ela é excêntrica e igualmente adorável.

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