PRÓLOGO

146 18 32
                                    

14 de Outubro de 2021,Amsterdã, 21:45 da noite

Oops! This image does not follow our content guidelines. To continue publishing, please remove it or upload a different image.

14 de Outubro de 2021,
Amsterdã, 21:45 da noite.

A noite estava fria desde que começou, pequenas gotas de chuva batiam no vidro da sala de estar, o lugar era meramente iluminado pela fogueira e a luz da cozinha que estava acesa, Charles usava uma colher de metal para mexer a panela já muito quente em cima do fogão. Seu cachorro balançava o rabo ansiosamente esperando seu dono no sofá, o husky siberiano era seu mais fiel companheiro, nunca se separavam desde o dia em que se conheceram e Charles sentia que nada poderia mudar aquilo. Nem mesmo nos piores dias abandonaram um ao outro.

── Dino? Tudo bem aí garotão? ── perguntou ainda de costas para a sala, um sorriso no rosto ao escutar as pequenas patinhas fazendo barulho no azulejo do chão ao caminhar até a cozinha ── Je vais déjà m'asseoir avec toi.

Alguns minutos se passaram até que estivesse ao lado do cachorro, o prato já vazio em cima da mesa de centro e pequenos bocejos escapando por seus lábios enquanto o filme de romance passava em sua televisão. Dino mexia o rabo de maneira ansiosa quando se levantou do sofá para colocar a louça na pia, mesmo que fosse demorar apenas alguns segundos para voltar. O cachorro estava estranho e Charles não demorou a perceber que sua porta estava apenas encostada, sua chave não havia feito barulho ao cair no tapete.

── Porra ── sussurrou, caminhando até a escrivaninha, sua única arma deveria estar ali, mas foi como procurar água em um deserto. A luz da cozinha não estava mais acesa e a fogueira balançava com o vento que entrava pela janela aberta ── Quem está aí? Eu vou chamar a polícia se não for embora, eu sou detetive e isso é invasão a domicílio.

── Você será detetive apenas em duas semanas, Charles, não cante vitória antes do momento certo ── a voz misteriosa falou de dentro da cozinha, se o monegasco forçasse a visão, conseguiria ver uma sombra e a arma em sua mão assustou-o ── Não seja tão arisco comigo, eu não quero seu mal, querido. Podemos fazer isso ser fácil, mas você precisa colaborar.

── E o que você quer? O meu cofre fica lá em cima, eu posso abrir ele para você, ninguém vai ficar sabendo disso ── não queria, mas seu tom demonstrava o medo que sentia naquele momento, o coração batendo forte e lágrimas banhando seu rosto ao dar alguns passos para trás ── Não tenho muito dinheiro, mas pode levar tudo.

── Ah meu bem, eu não quero seu dinheiro, eu quero o dono dele e olha só, o dono dele é você, não é mesmo? Então venha até aqui e podemos conversar sobre como isso será. Eu não quero te machucar, Charles.

── Et que me veux-tu?

A resposta não veio, mesmo com o passar de alguns minutos, a sombra não sumiu da entrada da cozinha e seu coração continuava a acelerar cada vez mais, assim como a quantidade de lágrimas em seus olhos, que dobraram em pouco tempo. Se sentia fraco por chorar daquela forma, como poderia ser um policial se chorava apenas por uma invasão?
Se aproximou em passos curtos da cozinha, os dedos apertando com força o garfo que tinha pegado em seu prato, tentava controlar as lágrimas, em uma tentativa falha de não enturvar mais ainda sua visão, que mesmo com os óculos, dificultava que enxergasse devidamente o homem que atormentava sua noite.

── Tão obediente, eu vou adorar cuidar de você, sabia? ── o deboche e fragilidade em sua voz eram evidente, mas não tão evidente quanto o grito que reverberou a parede quando o metal atingiu uma parte de seu corpo ── O QUE VOCÊ FEZ? SUA PUTINHA IMUNDA!

Charles se virou, se soltando do braço que agarrou sua blusa, se movendo de forma desesperada pela sala, a falta de iluminação era uma carta chave do homem que mais uma vez segurou sua roupa, tentando tapar sua boca com uma mão ensanguentada. As lágrimas salgadas já escorriam por seu pescoço e sentia que nada poderia mudar o que estava por vir, seus olhos se fecharam quando foi empurrado contra a mesa de centro, o vidro se estilhaçando com o peso de seu corpo.

── Eu tentei ser bonzinho com você, Leclerc, mas você é uma vagabunda mal criada que não recebeu educação de seus pais… Ah, que pena, eles morreram quando você tinha cinco anos de idade, não é mesmo? Não tiveram a chance de educar, mas eu ainda tenho ── riu com escárnio, subindo em cima do corpo machucado. Charles sentia sangue escorrendo por sua cabeça e braços. Virou o pescoço para o lado e pôde ver que Dino também sangrava, tinha sido atingido pelos cacos de vidro e chorava baixinho, vendo que não conseguiria ajudar seu dono.

Em um ato de coragem atingiu o rosto do homem com um caco de vidro que segurava entre os dedos ensanguentados, o gemido de dor atingiu seus ouvidos de uma forma que quase doeu, mas ainda foi capaz de se levantar quando teve o peso fora de si. Caminhou pelas escadas com dificuldade, chorando desesperado ao ver que ele estava atrás de si. A porta do banheiro foi a primeira que enxergou, mas antes que pudesse fechá-la novamente, teve o corpo empurrado em direção a banheira, sentiu o corpo todo doer quando caiu no chão. Podia ter a certeza de que tinha quebrado algo, mas a dor era tanta que não sabia o quê.

── Eu tentei ser bom você, mas vamos fazer da forma difícil então ── segurou a cabeça do garoto, batendo-a com força no chão, nem mesmo os gritos de dor o fizeram parar, não até que estivesse completamente inconsciente em seus braços, não poderia mais reagir.

Foi naquela noite em outubro, que desapareceu completamente de Amsterdã, deixando para trás o vazio no peito de alguém que nem mesmo imaginava. Mas estavam destinados a se verem novamente, mesmo que para isso, tivesse que ficar nas mãos do verdadeiro diabo em seu caminho.

MISSING | Charles Leclerc & Max Verstappen Where stories live. Discover now