Capítulo 31: O fora

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MANOEL

— Quer me ajudar a lavar o carro? — meu pai perguntou na manhã seguinte, escorado na porta do meu quarto. Hoje, não saímos para correr, mas desde seu deslize há alguns dias, ele parecia se sentir culpado. Tentava compensar a família de todas as formas. Ontem à noite, saiu para um jantar romântico com minha mãe. Durante o dia, ficou tentando se aproximar de Gabi. Agora, acabou de me chamar pra passar um tempo com ele. Porém, encarei a pilha de livros e a tela do meu notebook acesa. 

Não podia sair. Precisava fazer a minha parte nos trabalhos. Sábado e domingo de manhã eram os momentos que eu mais tinha disponíveis para estudar. Quase não desci para tomar café da manhã. Mal acordei, já fiz uns estudos bíblicos, falei com Deus e depois corri pros estudos da faculdade. 

Apertei os lábios.

— Foi mal, pai. Mas preciso estudar. 

Ele entrou no quarto e sentou na minha cama. 

— Falando nisso, como está a faculdade?

— Cansativa, corrida. — Dei de ombros e me virei para ele na cadeira giratória. — Como sempre. 

— E aquela moça que você estava interessado? Alguma novidade?

Suspirei. Comecei a sentir pena dele. Estava se esforçando para fazer as coisas voltarem ao normal na família. Sinceramente, minha mãe já perdoou, como se nada tivesse acontecido. Gabi estava com um pé atrás e eu tentava tirar da cabeça a cena que meu pai fez. De certa forma, todos tentávamos superar. 

Por isso, eu precisava agir naturalmente. 

— Eu tô gostando dela, pai. De verdade. 

— É mesmo? Tão rápido assim? 

— Eu sei, parece loucura. Mas a gente acabou se aproximando de um jeito que não imaginei. Confesso que também tô um pouco assustado. 

— Por quê? Ela não te corresponde?

— Então, acho que ainda é cedo pra chegar a uma conclusão. Tipo, ela começou a se aproximar mais de mim agora. Só que… eu não fazia ideia que me sentiria tão exposto e frágil quando me apaixonasse. Tinha tudo sob controle enquanto ainda não tinha sentimentos profundos envolvidos. Agora, é estranho. 

— Precisa tomar cuidado com isso, filhote. Você viu o que aconteceu com sua irmã. 

Arregalei os olhos.

— Que isso, pai? Eu tenho juízo. Não farei nada que desrespeite a Eva. 

— Ótimo. Bom saber. 

Encarei os cadernos.

— Agora, eu preciso muito terminar o dever de fisiopatologia e fazer as pesquisas de Toxicologia, pai. Daqui a pouco preciso me arrumar pra trabalhar.

Ele assentiu e ficou de pé.

— Tá bom. Se precisar de alguma coisa, é só me chamar. — Se aproximou de mim e deu um beijo no topo da minha cabeça, igual costumava fazer quando eu era criança. 

Em seguida, deixou o quarto. 

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No caminho para o serviço, queria mandar mensagem para Eva e não fazia ideia de como fazer isso. Então, mandei uma foto minha dentro do ônibus, olhando pela janela com os meus fones de ouvido. Coloquei a seguinte legenda: “Indo pro serviço olhando para o nada e pensando em TUDO kkkkk”. 

As pessoas no ônibus olharam para mim como se eu fosse um doido. E eu era. Sabia que era. Mas pelo menos faria Eva sorrir hoje. E, por mais que eu não a visse do outro lado do celular, tinha certeza que suas risadas eram mais frequentes do que quando estávamos na presença um do outro. 

Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]Where stories live. Discover now