MANOEL
Ao sair de casa, coloquei meus fones de ouvido e fui para o ponto de ônibus.
Quando cheguei no shopping, ajudei meus colegas a abrir a loja e fui colocar meu uniforme. Comecei o dia bem, tendo que organizar uma pilha de calçados novos numas preteleiras e etiquetar todos eles. Assim que acabei, fui para a porta da loja para receber os clientes e perguntar em que eu poderia ajudá-los. O público era o de sempre, variando entre mulheres idosas, jovens e crianças com seus pais.
Estava quase na minha hora de almoço quando uma mulher com um carrinho de bebê e uma senhora um pouco rechonchuda de cabelos bem brancos e curtos apareceram na loja.
— Bom dia! Em que posso ajudá-las? — perguntei ao me aproximar e ver que elas observavam um calçado ortopédico em específico na vitrine.
A senhora se aproximou de mim e tocou meu braço.
— Escuta, meu filho. Você tem o número 36 daquela sandália ali? — Apontou com o dedo. — Mas tem que ser larga, porque se for apertada demais machuca meus pés.
Algo nela me fazia lembrar da minha avó paterna, não sabia porquê. Mas também podia imaginá-la facilmente em um programa de culinária na TV, igual a Palmirinha.
— Sim, pode deixar. Fica à vontade, eu vou procurar no estoque.
Quando retornei, a senhora estava sentada no banco no meio da loja, próprio para os clientes experimentarem seus calçados. Ela já estava com os pés descalços e a outra mulher segurava o bebê no colo ao seu lado, de pé.
Eu me agachei na frente da senhora com três caixas de sapato.
— Do modelo que a senhora pediu só tinha na cor preta. Mas eu trouxe outros modelos parecidos que a senhora pode gostar.
Ela assentiu.
— Você pode calçar as sandálias em mim? Já que vocês, jovens, tem uma coluna de ferro — disse, rindo.
Abri um sorriso fraco, enquanto tirava os calçados das caixas.
— Olha, não é bem assim não. Se não cuidarmos da nossa postura, até nós jovens podemos ter uma escoliose, bico de papagaio, hérnia de disco e outras coisas.
— E não é que é verdade? Eu vi no jornal outro dia que muitos jovens estão com problemas de coluna por ficarem muito tempo mexendo no celular — dizia ela, enquanto eu pegava a sandália que ela pediu. Quando olhei para seu pé, um inchaço no pé direito me chamou atenção.
— É comum seus pés incharem? — questionei.
— Meu pé tá inchado? Sabe que eu nem reparei? Deve ser por isso que ando sentindo umas dores nele, de vez em quando.
— Devia procurar um médico — aconselhei, mesmo sabendo que não era da minha conta.
Ela fez uma careta.
— Ah, já fui em tanto médico. Parece que a vida de velho é tá indo pro hospital — resmungou.
— Eu entendo, mas se a senhora não for ao médico, o inchaço pode piorar. Precisa saber se isso é por causa de alguma artrite ou problemas mais graves, como diabetes e problemas cardíacos.
— Você é médico, rapaz? O que tá fazendo trabalhando numa loja de sapatos?
Eu ri, enquanto desabotoava uma das sandálias e encaixava no outro pé dela.
— Eu sou estudante de Farmácia.
— Tá explicado.
Depois, ela encarou o próprio pé com a sandália e pediu minha ajuda para ficar de pé. Depois de ajudá-la, ela caminhou até o espelho de chão e encarou o pé.
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Entre o amor e a maçã | Livro 1 [CONCLUÍDO]
RomanceEva e Manoel não poderiam ter se conhecido de forma menos convencional. Ela numa festinha de fim de semestre da faculdade, ele surgindo, de repente, interrompendo uma conversa para lhe passar a cantada mais ridícula de todas. O que devia ser uma noi...