Capítulo 1 Fragmento Memorial 03

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A luz do sol que desponta a leste invade meu quarto.

Eu esqueci a merda da cortina aberta de novo, clássico. Observo o ambiente de relance, o brilho solar iluminava grande parte do recinto, olho no relógio em meu pulso e percebo que é tarde demais para tirar uma soneca extra, já são 7 horas; pisco os olhos rapidamente para tentar espantar o sono, havia dormido na mesa mais uma vez enquanto matutava alguma resolução para finalizar meu projeto, esses meses vem sendo divertidos, com uma pitada de problema.

Como que para vencer uma luta interna pulo da cadeira, sacudo os braços ainda dormentes e caminho pelos longínquos 50 m² do meu apartamento até o banheiro. Supro as necessidades humanas básicas e refresco meu corpo com um banho gelado. Durante meu caminho de saída, rapidamente confiro meu reflexo, as cicatrizes ainda estão lá, por toda parte, ainda vívidas, mas o lado bom é que não doem mais né. Com esse pensamento deixo um leve sorriso escapar.

Meus passos pela casa seguem como de costume, visto meu uniforme, pego um molho de chaves, tomo alguns copos de café e saio as 8, uma lojinha charmosa no meio de Londres é meu destino. Bexley, o bairro onde moro, é consideravelmente longe do centro, então com passos ligeiros atravesso as ruas marrons e cinzas que agora acompanhadas ao laranja do sol nascente resulta em uma visão acalentadora.

O caminho é calmo como sempre, minha mente viaja em meio a números e pesquisas que havia feito na noite passada, um Exoesqueleto, é o objetivo do meu projeto, uma forma de ajudar o humano a ser mais produtivo com menos esforço físico e... Cheguei no meu ponto. Agora cedo não tenho tanto tempo para me perder nesses pensamentos, preciso desse dinheiro para poder continuar com minha arte. Caminho com mais calma agora, curtindo a música em meus fones, tô pertinho do trabalho.

Jon-Jones's Bakery, se lê o letreiro em cima da bela padaria, já faz uns bons meses que venho aqui quase todo dia. Destranco os cadeados dos portões e começo a levantá-los, sempre sou o primeiro a chegar, por esse motivo Sr. Jonathan deixa as chaves comigo, minhas obrigações são abrir a loja, arrumar o que tem de ser arrumado e virar a plaquinha de "fechado" para "aberto" as 10 horas; momento o qual ele e os outros funcionários já estarão aqui.

Caixas para cá, caixas para lá, tiro um breve descanso, já arrumei muita coisa, venho pegando jeito nisso. O lugar é realmente charmoso parando pra olhar, normalmente não o observo tão bem durante meus turnos, mas... O rosa das paredes e o estilo vitoriano do ambiente é bem acolhedor na verdade. A antiga dona era uma senhora tão gentil e ver hoje o Jon tocando o negócio com o mesmo carinho, é algo que me dá gosto de trabalhar para ele.

Tá bom, chega de reflexões, pouca coisa para fazer e pouco tempo para cumpri-las, já já aquele velho tá aqui.

Se passa um tempo durante minha arrumação, uns 15 minutos, estou agachado mexendo em algumas caixas e escuto atrás de mim:

—Vince meu garoto, bom dia— Uma voz grave em conjunto com o badalar do sino da porta de entrada ecoa.

—E aí, bom dia senhor, tudo arrumado como pediu— Respondo enquanto me levanto para cumprimentá-lo.

—Eu sei filho, nem me preocupo com essas coisas, a loja está em boas mãos.

—Obrigado pela confiança senhor, significa muito para mim— Estendo a mão para um comprimento.

—Já disse quantas vezes? Pra você garoto, é Jon, e não vem com essas coisas de senhor pra cima de mim não— O homem de meia idade pega minha mão e me puxa para um abraço.

—Claro Jon, claro, mil desculpas— Eu retribuo.

Jonathan Jones, a pessoa ao qual devo muito, é um homem negro de baixa estatura muito bem conservado pros seus 52 anos. Meu respeito por ele é enorme, um homem que já perdeu tanto e mesmo em um ambiente tão hostil como o mundo de hoje, carrega consigo um sorriso que acolhe a todos.

Eden HallucinationWhere stories live. Discover now