Abismo

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O coitadismo é um veneno que atravessa minhas veias, corroendo a alma com sua insidiosa presença. Detesto-o com a mesma intensidade que abomino a passividade, essa maldição que nos aprisiona na teia do conformismo. Será que odeio o estado em si, ou a palavra que o descreve, ou ainda o estado de espírito que ela evoca? Não saberia dizer. Mas o que sei é que tanto o coitadismo quanto a passividade são meros sintomas de uma doença muito mais profunda, uma doença chamada mediocridade. Para alguns, pode ser apenas um estado de ser, mas para mim, é uma sentença de morte.

A palavra "medíocre" é como um punhal afiado, cortando a carne da complacência com sua precisão implacável. Dizer a alguém que é comum não causa o mesmo estrago que rotulá-lo de medíocre. Ambas as palavras podem ter o mesmo significado, mas é a segunda que tem o poder de despedaçar a alma. E o que é mais doentio nisso tudo é a negação. Negamos nossa mediocridade porque não queremos aceitar que ser medíocre é ser humano. Dizem que odiamos no outro aquilo que tememos ser nós mesmos, e talvez seja verdade. Confesso: sou medíocre, mas ao menos sou sincero em minha mediocridade.

Olhei profundamente para o abismo e, para minha surpresa, ele olhou de volta para mim. Me encarou com seus olhos vazios e me envolveu em suas trevas. Passei anos ali, talvez décadas, imerso na escuridão da minha própria mente. Aprendi que o medo é um assassino silencioso, que mata a mente e aprisiona o espírito. E nesse abismo, percebi que ser diferente é uma ilusão, assim como ser igual aos outros. Somos todos prisioneiros das nossas próprias limitações.

Ao me observar agora, vejo os estragos que o desejo de ser aceito causou em mim. Tornei-me superficial, vazio, sem raízes que me prendessem a este mundo. Perdi-me em meio à multidão, sem gostos, sem paixões, sem propósito. Mas ainda há esperança. Ainda é possível encontrar-me, mesmo que o tempo pareça fugir entre meus dedos. A pressa é uma ilusão, o futuro é incerto. Mas não importa quanto tempo me reste, prometo a mim mesmo que farei cada segundo valer a pena. Afinal, como disse Dostoiévski, "a vida é uma responsabilidade que não podemos evitar".

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⏰ Last updated: Mar 13 ⏰

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