17 | 𝐀𝐭𝐨 𝐈𝐈

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⚠Gatilhos!

𝚆𝙷𝙸𝚃𝙴
alguns anos antes

— POR QUE VOCÊ ME ENVERGONHA TANTO? — o grito estridente fez meu corpo estremecer.

Ofegante, com as lágrimas ardendo nos olhos, continuei encarando o tapete felpudo do escritório dele.

O querido e adorável papai sempre gostava de me arrastar até aquele cômodo porque as paredes eram grossas demais para que qualquer um de fora pudesse ouvir o que acontecia ali dentro.

E agora, chateado por eu ter sido “petulante” na mesa de jantar, ele queria me punir.

Tobias estava na casa.

Surpreendendo as outras, ele tinha aparecido porque precisava resolver algo sobre o trabalho com o patriarca dos Woods, e ia ficar hospedado por três dias.

Um final de semana inteiro.

Um, infernal, final de semana.

Acho que nem Grey seria capaz de aguentar tanto.

Estávamos todas exaustas.

Estávamos cansadas.

Até eu já não mais suportava essa porra.

Se continuasse, se ninguém fizesse nada, tudo ia colapsar.

— Eu disse que queria você comportada essa noite, Mabel! — Caiu de joelhos no chão, ao meu lado, e agarrou meus cabelos com força.

Grunhi, querendo espernear de dor, mas me recusei a entregar minhas lágrimas para ele.

Puxando os fios sem piedade, o homem me fez encará-lo, me fez olhar nos olhos sombrios, que carregavam fúria e decepção.

Acabei me encolhendo mais sobre o tapete, já prevendo o que viria.

Não foi uma grande surpresa.

Quando vi sua palma sendo levantada no ar, eu sabia o que ele faria.

O tapa acertou meu rosto e o gemido rouco, doloroso pra caralho, escapou.

Minha pele ardeu, queimou como se o enxofre do inferno estivesse deslizando por ela, e as lágrimas quase desceram.

— Quantas vezes tenho que dizer que precisa agir como a Woods que é? Hum? — Outro tapa, na outra bochecha, mais forte.

Me encolhi como se fosse uma menininha amedrontada.

Ele não ia parar.

Eu pouco me fodia para ele e para aquela família, mas... a dor não ia passar tão rápido.

— Você é uma garota. Você é uma mocinha. Palavrões na mesa de jantar não vão ser tolerados. Respostas afiadas não serão permitidas. Você não vai agir como um moleque sem educação na frente das visitas! — Tapa, e mais tapa, e mais, e mais.

O choro baixinho veio conforme ele ia me golpeando.

Meu couro cabeludo só ardeu, sem parar, a cada puxão, a cada vez que ele fazia seus dedos quase arrancarem os fios, tamanha a força depositada.

Ele sempre perdia o controle quando eu agia de um jeito diferente do desejado na frente das pessoas de fora.

E, tudo bem que eu não pegava leve, não tinha intenção de ser boazinha como Mabel era, mas meu comportamento só condizia com as coisas que aconteciam ao meu redor.

Tobias estava na porra da mansão.

Ele estava por perto para ser a merda de um pesadelo, e eu não queria parar de ser quem era de verdade.

Tᴏᴅᴀs As Sᴜᴀs Pᴀʀᴛᴇs | 𝕯𝖆𝖓𝖎𝖋𝖎𝖈𝖆𝖉𝖔𝖘Onde histórias criam vida. Descubra agora