Drogas, músicas e lembranças.

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Na manhã seguinte eu acordei com a pior notícia da minha vida.

— Moisés, seu imprestável. Acorde! — gritou Rute.

Em seu grito tinha choro, tava molhado. Eu percebi. Me levanto da cama de imediato e abro a porta do meu quarto bruscamente. Minha mãe estava sentada na escada, chorando desesperadamente. Meus olhos já ficaram inundados mesmo sem saber o motivo. Desço até onde ela está e me sento do seu lado.

— Mãe... O que aconteceu?

Ela não era a melhor mãe, eu não era o melhor filho. Eu não sabia se ela realmente me amava, ou realmente me odiava, não sabia se as coisas ruins que dizia a mim era só da boca para fora. Tanto faz. Eu odiava vê-la chorar.
Ela disse que Leslie havia morrido naquela madrugada. Overdose. Foi como se meu coração tivesse parado, parecia que uma mão estava apertando meu coração fortemente e que ele fosse desistir de bombear sangue à qualquer momento. As lágrimas começaram a cair loucamente de meus olhos. Meu corpo inteiro implorou por amor, alegria. Implorou pelo seu sorriso, implorou por ela.

Nunca mais a veria, doía pensar nisso.

Essa dor superou todas as outras que um dia eu senti. Essa tristeza achou um canto em meu coração e cavou uma cova que felicidade nenhuma vai ocupar. Vai sempre existir esse vazio aqui.

Me levantei do degrau e voltei para meu quarto. Tranquei a porta e me joguei na cama...

•••

No dia seguinte Rute veio até a porta de meu quarto me lembrar que eu não saía dali para nada, era como se eu estivesse morto também. Bom, eu queria estar.
Naquele dia também foi o velório de Leslie, eu não quis ir, depois chorei por não ter ido. Lembrei que não via o rosto de Leslie há uma semana, aquela baixinha. Carinha de rebelde. Sempre atrás da fumaça de seu cigarro.

Fazia tempo que eu não me automutilava, as garotas tiravam o meu eu autodestrutivo. Mas eu estou tão triste que nem elas conseguiriam me salvar agora.

•••

— Você não pode ficar ai para sempre, Moisés! Tem que ir para a escola. Eu ordeno que saía deste quarto! — batia em minha porta várias vezes. — Já faz duas semanas que não vejo a tua cara! Saía.

Continuei ignorando ela. Como fiz nas últimas duas semanas. Estou morrendo aqui, entre quatro paredes, apenas com minhas lágrimas, drogas, músicas e lembranças.

••• 

Mais uma semana passou e resolvi checar meu celular. Havia várias mensagens de Andressa, algumas de Danieli, e uma de Juliana.

As mensagens de Andressa dizia estar preocupada, com saudades, me perguntando o que havia acontecido. Ela mandava a mesma mensagem todo dia, só com uma pitada de preocupação à mais cada dia que passava. Havia até chamadas de ligação perdida.

"Okay, okay... Sés? Por que não te vejo mais?
Está tudo bem?
Aconteceu alguma coisa?...
Sabe que pode sempre contar conosco, não sabe?.
Amamos-te pra caralho.
É importante para nós" Dani.

Dani e eu não somos tão próximos, fiqui surpresa em ler estas mensagens. Me fez sorrir lá no fundo.

Você sumiu. Está tudo bem?” Juliana.

Eu não esperava mais do que aquilo dela. Parecia ter vergonha de conversar comigo até por mensagens.

Eu resolvi responder Andressa. Pedi que me ajudasse. Eu queria o abraço dela. Eu precisava. Não demorou muito até que ela me respondesse dizendo que à encontrasse na pista de skate.

Largo meu celular no chão e entro no banheiro. Tomo um banho exageradamente demorado. Faço um curativo aonde me feri e saio de meu quarto.

— Graças a Deus! — Rute pareceu surpresa quando me viu sair do quarto. — Pensei que tinha morrido lá dentro. Aonde pensa que vai às sete da noite?

— Só vou dar uma volta.

Assim que cheguei na pista de skate, me sentei no gramado. Olhei para onde Leslie e eu esquecia do mundo, para onde eu e ela mais fizemos fumaça, fizemos lembranças. Suspirei.
Meu coração voltou a doer e as lágrimas cair. Me arrependo de ter saído de meu quarto.

— Moisés?

Começo a sentir seu maravilhoso perfume mais perto e ouvir seus passos se aproximando. Ela se senta do meu lado e eu me viro para ela.

— O que aconteceu? — parecia tão preocupada. — Por que desapareceu?

— Só faz o que você sabe fazer de melhor e quando der te conto.

— E o que eu sei fazer de melhor?

— Me deixar bem.

Ela se sentou ao meu lado. Bem próxima. Sorriu. Me abraçou, abraçou forte.

— Eu amo seu abraço. Me faz bem — falei.

— Então vou sempre te abraçar. Sempre vou estar contigo. Porquê te amo.

"Te amo" duas palavras, apenas duas palavras que saíram de sua boca e me fez sentir melhor. E eu a amo também, só não consigo colocar para fora. Seu abraço é reconfortante... é meu refúgio... Nunca quero sair ou sentir falta dele.

Depois de uns dez minutos abraçados e em silêncio, apenas ouvindo nossas respirações. Ela levanta sua cabeça de meu ombro e olha em meus olhos.

— Amo você — repetiu.

E então ela me beijou.

Sentou em meu colo, entrelaçando minha cintura com suas pernas. Estávamos tão juntos, quase nos tornamos um só. Seu beijo era totalmente diferente do de Juliana. O seu beijo é feroz, extravagante, louco, é simplesmente perfeito. Tudo que eu estava precisando naquele momento, encontrei assim que seus lábios interagiu com os meus. Ela enroscou seus dedos em meus cabelos e eu puxei-a para mais perto pela sua cintura. Estou em êxtase. Ela sempre me deixa extasiado.

— Eu amo você também — fiquei surpreso comigo mesmo. Fazia tempo que eu não dizia Eu amo você.

Ela sorriu. Que sorriso.

— Se sente melhor? — perguntou.

Respondi que sim com a cabeça.

— Então, diga-me. Por que sumiu?

— Antes de vocês três aparecer, eu só tinha uma pessoa que mostrava que realmente me amava de verdade. Era com ela que eu sempre contava. Caramba! Ela me amava e eu a amo.

— Quem era ela? O que aconteceu?

— Ela era minha prima, chamava Leslie. E ela morreu a exatamente três semanas atrás. Overdose.

— Eu sinto muito, Sés! — disse cabisbaixa.

O silêncio voltou e ela me abraçou novamente. Só que dessa vez não consegui conter as lágrimas. Elas transbordaram. Eu chorei igual a um bebê em seu ombro. Sentia ela me apertar cada vez mais forte.

Ficamos deitados no gramado. Minha cabeça estava em seu peito, ela me fazia cafuné e me contava coisas boas. Eu estava me sentindo bem. Ela é incrível.

MoisésOnde as histórias ganham vida. Descobre agora