Capítulo XXXVIII Quarta Temporada

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– Chegamos. 

Anunciou a mulher, parando em frente a uma velha casa de dois andares,onde havia uma placa dizendo “Ἐλευθερία”.

– Vamos.

Chamou a albina, já abrindo a porta e entrando, guiando seu convidado. 

Ele a seguiu com cautela, mesmo que as inúmeras mesas,o precário número de pessoas rindo e fazendo barulho e o cheiro de álcool é comida gordurosa em si não representassem nenhum perigo para si. 

O balconista que os cumprimentou de seu lugar com um simples aceno assim que se aproximaram, deu um olhar curioso para o encapuzado,sutilmente tentando ver o rosto deste,até que Arisa se pôs entre eles, protegendo a identidade do visitante. 

– Tisk,sem gracejos,já entendi, lá em cima, terceiro quarto a partir da esquerda.

Sussurrou mal humorado,ao que a mulher sorriu,antes de levar o convidado para cima.

– Peço desculpas pelo comportamento Rude de Hēisè*

Pediu suavemente assim que se afastaram, sem se virar,fiel ao seu labor como guia levando-o escada acima.

Mesmo que ela não pudesse ver,Mu acenou com a cabeça,afirmando que entendia.

Isso era muito melhor do que as primeiras vezes que havia vindo à cidadela quando era mais jovem. 

Até mesmo houve a vez em que um bêbado acreditou que ele era uma menina e insistentemente tentou cortejá-lo.

– Hum…esquerda...terceiro quarto... este aqui.

Cantarolou a asiática para si mesma,que,inconsciente dos pensamentos do mais novo,parou frente a uma velha porta de madeira gasta.

Não era uma lembrança que fosse particularmente importante, mas o que se desenrolou dela,foi de fato um ponto de virada em sua vida. 

Felizmente, aquele momento embaraçoso, se tornou uma ótima oportunidade para si e para seus aliados que, até o momento, decidiram manter-se escusos dos vigilantes olhos do santuário. 

– Papai, fiz como pedido.

Anunciou a mulher, abrindo a porta e adentrando no quarto. 

– Muito obrigado Arisa, deixe-nos a sós,e diga para Hēisè trazer algo para nosso convidado,afinal, devemos honrar a Xenia*.

Pediu alegremente, a que a mulher se curvou e obedientemente saiu,fechando a porta, deixando apenas os dois homens na sala

Dentro do cômodo, sentado em uma desconfortável cadeira,estava um homem alto de porte atlético,cuja aparência física beirava aos trinta anos,apesar de que ele poderia ser bem mais velho que isso. 

Ele possuía olhos amarelos e longos cabelos brancos,mantidos soltos.

– Finalmente você chegou, Mu.

Cumprimentou sorridente, indicando a cadeira à sua frente para o mais novo se sentar,o que o fez.

– Desculpe-me pelo atraso Basileu Hua*.

            …………………………….

“Fique quietinho, feche os olhos, tape os ouvidos, e deixe comigo. Eu farei por ti, tudo vai acabar em um instante.”

Sussurrou malicioso.

Um sorriso cruel pintava sua face. 

– O que diabos você quer de mim?!

Exclamou irritado, finalmente reagindo.

Empurrando o outro pra longe,que permitiu,sorrindo divertido enquanto novamente começava a flutuar. 

– Desde quando necessito de motivo para fazer algo? Se é divertido então me basta. Você perguntou o que eu quero de ti,saiba Saga,que a loucura é como a gravidade, o que eu quero é te tornar uma bagunça completa e imoral,que não se prende mais a esses princípios. Seria divertido ver como você reagiria ao finalmente ver que essa luz dourada que tanto se orgulha ser suja até estar além da salvação. 

Discursou alegremente.

 Sua mão mal cobria o sorriso sádico ao imaginar o conteúdo de suas palavras e seus olhos refletiam o claro prazer que sentia ao se divertir às custas do azulado. 

– Você é louco.

Rosnou irritado. 

– Obrigado.

Agradeceu feliz, como se tivesse sido elogiado. 

Saga havia se arrepiado por completo ao constatar, mais uma vez,que o ser na sua frente, não poderia ser julgado pelos princípios básicos dos humanos. 

– Sabe,estou entediado, então, já que estás com tanto tempo livre,irei me divertir contigo. 

– O que queres dizer? 

Questionou confuso,mas assustou-se ao constatar que, em instantes, seus arredores,novamente,haviam mudado. 

Ainda era escuro, mas não tanto quanto antes. 

Em vez disso, era só um quarto simples, muito mal iluminado por velas que estavam quase no fim.

Muito pequeno para um adulto, com nada mais do que o necessário.

         

Não precisava de mais do que isso para que, uma antiga memória fosse fisgada e com horror,ele olhasse para baixo.

Estava ajoelhado sobre uma cama,cujos lençóis brancos estavam completamente revirados.

Mas seu temor provinha de algo que não havia percebido de imediato. 

Presa,embaixo de si,estava uma beldade de pele morena e longos cabelos ondulados, que se espalhavam pelos amarrotados lençóis brancos como se fossem uma auréola ao redor de sua cabeça.

Estes eram de um escuro castanho, tal qual seus olhos, que demonstravam profunda agonia e pavor,lacrimejando incessantemente.

De alguma forma,ela era linda, como o pôr do sol ou as folhas de outono na floresta 

Seus lábios intensamente vermelhos,começavam a perder gradualmente a cor pela falta de ar.

Ar este que era impedido de chegar a seus pulmões devido as fortes mãos que fortemente se encontravam enroscadas em seu fino pescoço. 

Suas mãos. 

Apesar de sua situação, ela não se debatia ou tentava afastá-lo, mas sim,segurava suas mãos carinhosamente, como para que conforta-lo.

– Sa-aga…

Murmurou docemente em um fio de voz, enquanto era estrangulada por seu amante.

 – Kalis.



Notas Finais

*Em chinês simplificado, "黑色" (Hēisè) significa "preto". 

*Xenia (em grego: ξενία) é um antigo conceito grego de hospitalidade. Quase sempre é traduzido como 'amizade-convidado' ou 'amizade ritualizada'. É um relacionamento institucionalizado enraizado na generosidade, na troca de presentes e na reciprocidade. Historicamente, a hospitalidade para com estrangeiros e hóspedes (helenos não da sua pólis) era entendida como uma obrigação moral. A hospitalidade para com os helenos estrangeiros honrava Zeus Xenios (e Atena Xenia), patronos dos estrangeiros. 

*Em algumas regiões da Grécia, especialmente em áreas menos urbanizadas ou em tribos, o líder podia ser chamado de basileu, que significa "rei". Esses reis tinham autoridade sobre a comunidade e frequentemente lideravam em tempos de guerra ou conflito.

* A palavra hua, como representada em zhonghua (chinês) e huaren (povo chinês), originalmente significava flor, mas passou a significar civilização, cultura e graça literária. Hua também significa beleza, bondade e esplendor.

Filho das Estrelas Where stories live. Discover now