A floricultura

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Annika e seu avô entravam na floricultura. As paredes estavam rachadas, a maioria das plantas havia já apodrecidos ou com vasos quebrados, o solo desgastado e decorações empoeiradas. A garota apenas suspirou olhando o lugar, o qual provavelmente deveria ter sido um ponto de conforto aos cidadãos, mas naquele momento só era uma pilha de lixo. Seu avô Zaki que lhe acompanhava, com uma expressão melancólica, passou as mãos pelos móveis empoeirados enquanto parecia dar um leve sorriso e então Annika o ouviu dizer:

— Esse lugar costumava ser tão bonito — falou o velho, franzindo a testa e cerrando levemente os olhos.

— Como era? — perguntava a criança

— Havia várias crianças, casais e pessoas que adentravam pelas portas que tinha uma cor bela de dourado, as flores eram tão vívidas e o aroma era tão doce, porém ainda tinha uma essência selvagem — falou Zaki que continuou dizendo — As crianças brincando e as damas tomando chá na mesinha que deixamos para os clientes aproveitarem, seu pai sempre brincava junto de outras crianças quando sua avó, o trazia para ajudá-la.

— O que meu pai fazia, aliás, ele gostava de fazer o que aqui? — questionou a criança.

— Katanyna sempre vinha com ele às seis da manhã, a floricultura era aberta e ele auxiliava na limpeza e regar as plantas, após isso ele ficava naquele canto da mesa ali comendo um lanche com os filhos dos vizinhos e com alguns brinquedos que trazia — disse Zaki andando pelo local enquanto tocava em cada decoração empoeirada e quebrada que ele passava.

— Parecia divertido — afirmou entusiasmada por saber mais de seu pai.

— Se minha memória não me falhe, o seu pai sempre gostava do fato de ter muitas pessoas aqui, era um local cheio de vida, como ele mesmo dizia — falou o mesmo em uma espécie de nostalgia amarga.

— Eu queria ter visto isso — falou Annika sorrindo.

Assim, se passou o tempo com ambos dialogando sobre os momentos mais gloriosos da floricultura, e Annika se sentiu quente por dentro ao ponto de esquecer totalmente os acontecimentos traumáticos da escola. Mesmo que a memória voltasse, sua mente ficou distraída enquanto criava os cenários em que seu pai viveu, conforme os relatos de seu avô.

Horas depois, finalmente Zaki havia contado tudo a sua neta, que parecia confortável, assim fazendo contraste com o humor dela de manhã ou após a escola. Daí em diante, o mesmo logo olhou a criança e disse:

— Annika, você pode me contar como foi a escola? — perguntou o mesmo, esperando uma resposta.

— Eu já falei antes! Foi normal — disse Anikka olhando para os lados enquanto sua voz ficava em um tom mais alto.

— Está bem, caso queira contar algo.... Fique à vontade, bem, está tarde, é melhor irmos para casa — falou o avô de Annika.

A garota suspirou, magoada, todavia assentiu sem saber o que dizer ou se pedia desculpas pelo seu comportamento, mas diante a isso, ela escolheu se manter calada e seguiu seu avô. Assim que chegaram à casa, a menina foi direto para o quarto e rezou antes de ir dormir. No dia seguinte, a mesma acordou e fez suas higienes matinais e desceu indo para a cozinhar, portanto, vendo os seus avós tomando café matinal, disse:

— Bom dia — falou a mesma.

— Bom dia — disse Katanyna colocando algumas torradas na mesa.

— . É, me desculpem por ontem. — Falou a menina olhando para baixo enquanto mexia os dedos um no outro.

— Oh? Não se preocupe, querida, só queríamos que você contasse o que aconteceu — disse Zaki a olhando receoso.

— Acho que sou não estou acostumada com a escola, lá é diferente de quando estou com vocês — respondeu Annika suspirando.

— Eu entendo, ficamos muito tempo reclusos, principalmente você... Annika, mas agora estamos juntos, qualquer dificuldade pode contar comigo ou com sua avó — Disse o avô de Annnika.

A garota apenas assentiu, tomou posteriormente o café da manhã com sua família e ajudou a lavar a louça. Após isso, ela e Zaki foram para a escola e, assim que chegaram na porta, os braços finos de Annika tremiam, o que fez seu avô perguntar novamente:

— Está tudo bem? — falou ele preocupado.

— Sim — falou ela, engolindo a seco. — Se precisar de algo, só me falar, lembre-se, você é forte — falou o idoso a abraçando. — Sua amiga já chegou — disse ele apontando para Janel que andava acompanhada de uma garota gordinha e pequena de cabelos pretos e um garoto alto loiro de olhos verdes andar com um estilete na mão.

— Ah! Vejo, bem, vou entrar, nos vemos depois da escola — Falou a criança, reunindo coragem.

Após se despedir de seu avô, a jovem entrou na escola. A partir daí, ela foi até a sala de aula até ser chamada por Janel que correu atrás dela gritando:

— Anninka, venha cá.

— Ah, oi... Como você está? — perguntou a garota, ainda meio receosa, principalmente pelas novas companhias de sua recente amiga.

— Ah! Estou ótima, sabem os meus amigos de quem falei ontem? Pois bem, infelizmente não conseguir apresentar para vocês, mas aqui estão eles — disse a garota — estes são meus amigos — completou ela.

— Olá, me chamo Ksenia — falou a menina pequena e corpo rechonchudo.

— E eu me chamo Antony — falou o rapaz loiro com cara de emburrado.

— Prazer a ambos, me chamo Anninka — falou a garota ainda nervosa.

— Não se preocupe, eles são bons colegas, não são como aqueles idiotas da sala de aula — retrucou janel.

A jovem assentiu aliviada, após isso ela se abriu para um diálogo com os amigos de janel; enquanto conversavam, o sinal tocou, mostrando que já havia dado a hora, e tanto a garota quanto sua amiga se despediram dos outros integrantes, assim juntas foram até a sala de aula. Ao entrar, Annika se deparou com o mesmo grupo de antes, mas resolveu se manter firme e se sentou em um assento e ficou a falar com Janel até sentir alguém puxar o cabelo dela, revelando-se a garota loira do dia anterior, que se aproximava dizendo:

— Oh! Parece que o cabelo de Bombril voltou — falou a mesma rindo.

— Os olhos dela estão sempre fechados, né? — falou um dos garotos enquanto puxava os olhos dele em um ato assim, zombando da cara da garota.

A menina suspirou e apenas os ignorou, até que enfim eles, irritados querendo chamar a atenção, empurraram-na da cadeira. Janel tentou intervir, porém, foi impedida pela professora que chegou na hora e perguntou:

— O que estão fazendo? E você, senhorita, não acredita que está grande demais para ficar arrumando confusão, se levante e vá para o seu assento.

— Mas eles me empurraram — falou a menina.

— Não me interessa quem começou, apenas se sente — disse a professora.

— Não lhe interessa nada, você não viu o que eles fizeram ontem comigo! E agora vai ignorar isso? — falou a menina, se levantando do chão e nervosa.

— Você está muito respondona, mocinha, acredito que merece um castigo — mencionou a professora.

Por diante, a professora se aproximou dela, e a pegou pelas orelhas e a arrastou para fora da sala de aula. A menina se contorcia a medida em que chorava. Posteriormente, ela foi colocada pela professora em uma sala escura, onde a mesma teve que se ajoelhar em uma pilha de milhos que a sua tutora havia ordenado.

A criança engoliu o choro enquanto seus joelhos ardiam, o seu corpo queria se levantar, todavia, por continuar sendo vigiada, assim não podia ao menos se mover nem um pouco, pois a professora ao seu lado carregava em sua palma, a sua temida palmatória.

Horas depois, o castigo havia finalmente terminado e a garota foi liberada, portanto, enxugou as lágrimas de seu rosto e se levantou. Seus joelhos estavam avermelhados com marcas de caroço, e ao sair dali se deparou com a sua melhor amiga que a esperava pelo fato de ser o intervalo. Afinal, ficou lá a aula toda, portanto a garota olhou em volta constrangida, pois a maioria das pessoas ria da cara dela, mas se acalmou ao ver que tinha amigos e não só janel, mas Antony e Ksenia também estavam ali para dar apoio à menina. A garota, calada, seguiu-os até um canto e se sentou. Antony olhou e logo disse:

— Aquela professora é uma megera — falou ele brincando com seu estilete.

— Também não gosto dela — comentou Ksenia.

— Ela sempre defende aqueles idiotas — disse janel.

— Espera, o que você está querendo dizer? Isso não só ocorre comigo? — perguntou curiosa.

— Ah! Não, a professora é tia daquela menina loira lá, o nome dela é Halina — falou ksenia.

— Não sabia o nome dela.... Acho que, tirando a Janel, sei nada sobre ninguém de lá, também não quero — falou brava.

— Boa ideia, não perca tempo com idiotas — disse Antony, que atirava pedras no ar com o estilete, porém guardando ao ver o, guardinha passando.

O intervalo se seguiu e o grupo de amigos conversaram sobre várias coisas, a dor dos joelhos dela posteriormente foi passando até a próxima aula chegar; diante a isso após alguns minutos, juntamente de Janel se despediu de seus outros amigos e foi para sala de aula onde tudo ocorreu normalmente no que poderia se considerar normal, a garota ainda estava sendo atazanada pelo outro grupinho, porém fez de tudo para não se afetada.

Ao anoitecer, já estava em casa, e seus avós faziam o jantar enquanto a olhavam receosos. Katanyna não tirava os olhos do joelho de sua neta, que indicavam que ela havia sido castigada, e disse:

— Onde arrumou esse machucado? — falou a avó da menina em uma expressão receosa.

— . Eu caí — disse envergonhada.

— Fale a verdade — falou a avó dela de um modo sério.

— Minha... Professora, ela.... Me castigou — disse Anninka nervosa.

— O que você fez? — falou Zaki a olhando, esperando por uma resposta.

— Eu não fiz nada! — disse Anninka.

— Então por que foi castigada? — perguntou sua avó.

— Eu, eu não sei, mas não fiz nada — falou nervosa.

— Bem, se for assim, então vamos à escola amanhã — disse o avô dela.

A garota na hora se levantou, batendo os braços na mesa se sentindo aflita por dentro, logo disse irritada, pois não queria que seus avós se metessem em seus problemas. E jamais queria ser um fardo e, diante disso, falou:

— Não! Não tem necessidade, já acabou — falou ela, querendo chorar.

— Vamos lá, nos conte então — disse sua avó tentando acalmar a menina.

A garota apenas não respondeu nada e correu até a porta de saída. Seu avô tentou ir atrás dela, porém, de forma rápida, se mandou em meio às ruas. Chorando, Anninka foi direto à floricultura, suspirando entrava sozinha, assim invadindo o local.... Estava tudo escuro, e apenas tinha as flores mortas, e apesar de ser um local precário, conseguia mantê-la calma. A criança se sentou na grama enquanto, em posição fetal, e ficou a imaginar as épocas de glória daquele lugar, feliz sorria ao deixar sua mente vagar.

 

FlorescerWhere stories live. Discover now