Prólogo

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   Desespero agarrava Lorenzo como uma sombra implacável, enquanto ele corria pelas ruas escuras e estreitas, sua irmãzinha de apenas 9 anos nos braços, o sangue dela pintando suas mãos e sua camisa cor de creme, que agora poderia ser considerada vermelha. O terror do momento ofuscava qualquer pensamento coerente, deixando apenas a urgência desesperada de sobreviver.

Cada passo de Lorenzo era uma batalha contra a exaustão, suas pernas tremendo com o esforço de carregar sua preciosa carga. Ele havia abandonado tudo o que conhecia e amava, mergulhando no caos daquela noite infernal. Os alemães invadiram sua casa com uma brutalidade impiedosa, tirando a vida de seus pais diante dele e de sua irmã com uma arma.

Essa mesma arma foi o objeto responsável pela bala que se encontrava dentro das entranhas da criança em seu colo. A menina estava quietinha e pálida como uma boneca de porcelana nos braços de Lorenzo.

Uma mistura de luto, desespero e raiva percorriam todo o corpo do jovem. Ele se recusava a ceder ao desespero, lutando contra as lagrimas que ameaçavam turvar sua visão enquanto procurava freneticamente por um lugar onde pudesse se esconder e tratar de sua irmã ferida.

Depois de tanto correr, Lorenzo encontrou uma casa que parecia ter moradores. Os joelhos cederam, caído no chão, e Lorenzo começou a bater desesperadamente na porta. —Por favor, me ajudem! —Ele gritava em meio as lagrimas que escorriam de seus olhos.

Lorenzo viu uma figura de um homem mais velho abrir a porta. —Salve Caterina...—Essas foram as últimas palavras que o loiro conseguiu formular antes de perder a consciência e desmaiar.

Lorenzo acordou sem saber exatamente onde estava, piscando algumas vezes, ele olhou para si, ele estava deitado e estava com roupas limpas. Desesperado, ele se sentou na cama, olhando ao redor a procura de sua irmã. —Caterina... Caterina! —Lorenzo se levantou, mas suas pernas acabaram cedendo, o levando a cair no chão. Uma mulher jovem entrou no quarto e se agachou, com medo, Lorenzo tentou recuar.

—Ei, acalme-se. Está tudo bem. Não irei te fazer mal. —A mulher explicou com calma. Sua voz era suave e gostosa de se ouvir.

—Quem é você?! Onde está minha irmã?!

—Acalme-se. Me chamo Donatella. Sua irmã está sendo tratada por um médico.

—Eu quero vê-la! —Lorenzo tentou se levantar, mas quase ia caindo se não fosse por Donatella, que o impediu de cair no chão.

—Ei! Seus pés estão machucados. —Donatella ajudou Lorenzo a se sentar na cama. —Eu irei te levar até sua irmã, mas seja paciente.

—Como quer que eu seja paciente?! Minha irmã estava morrendo em meus braços! —Lorenzo queria gritar, ele estava desesperado.

—Me perde por ser insensível. Eu te levarei até ela. —Com a ajuda de Donatella, Lorenzo conseguiu se levantar e, apoiado a ela, ele começou a andar com cuidado. Só agora Lorenzo havia percebido que seus pés estavam enfaixados. A mulher, que deveria ser mais o menos de sua idade o guiou. Atravessando a porta, Lorenzo se deparou com um local que parecia ser uma sala. Um homem veio ao seu encontro, o mesmo homem que havia aberto a porta. Na mesa estava sentada uma mulher de cabelos negros, bem parecida com a jovem.

—Esse é o meu pai, Roberto. —Donatella apresentou seu pai. —Aquela é minha mãe, Domênica.

—Muito obrigado a vocês por terem acolhido eu e minha irmã.

—Não precisa agradecer. Sua irmã está dentro do quarto com o médico, ele está cuidando dela. —O homem apontou para a porta, no mesmo instante um homem saiu por ela. Suas mãos e roupas estavam repletas de sangue, sua cara não era uma das mais alegres.

—Infelizmente a bala acabou acertando o coração da jovem. Eu tentei, mas não consegui salvá-la. —Após ouvir aquilo, os olhos de Lorenzo foram tomados pelas lagrimas de choro. —Não! Caterina! —Lorenzo não soube de onde tirou forças, mas mesmo com os pés machucados ele entrou naquele quarto onde encontrou uma cena terrível. Sua irmã estirada sobre a cama repleta de sangue, com o peito aberto e totalmente pálida. Ele usou suas últimas forças para correr até a cama e abraçar o corpo de sua irmã, ele não se importou de se sujar, naquele momento nada mais importava. Lorenzo gritou chamando pelo nome da criança. As lágrimas escorriam pelo rosto de Lorenzo, misturando-se ao sangue e à sujeira que o envolviam. Ele não sabia como seguir em frente, como encontrar um propósito em meio ao caos e à dor avassaladora que o consumia por dentro. Sua irmã havia morrido, agora Lorenzo não tinha mais ninguém.

Enquanto Lorenzo estava imerso em sua dor e desespero, alheio à presença que o observava, uma figura sinistra espreitava nas sombras, seus olhos faiscando com uma malícia cruel. Para essa entidade sombria, a tragédia de Lorenzo representava apenas mais uma oportunidade de se deleitar com o sofrimento humano, como se fosse um banquete à espera de ser consumido.

Me and the devilOpowieści tętniące życiem. Odkryj je teraz