Mares Estranhos

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A pele negra de Darya, reluzia as chamas das pequenas velas que iluminavam o lugar escuro em que se encontrava.

Ela havia acordado ali. Com as roupas surradas, completamente suja e esfomeada.

Perguntou para quem quer que estivesse consigo, como havia chegado ali, e por qual razão estava naquele local que não conhecia.

Ninguém a respondeu. Todos naquele lugar a olhavam com nojo. Não sabia o motivo e ficou ainda mais confusa quando uma criança fugiu de si - mesmo a tendo ajudado a levantar de um tombo.

Alguém aparecia em questão de horas, para entregar um barril, cheio de restos de comida. Foi só então que notou estar em um porão, e que o balanço que sentia no estômago, era devido a estar dentro de uma balsa.

O céu estrelado podia ser visto no buraco que havia no teto. Céu esse, da Corte Noturna.

Corte Noturna...

Ela lembrava de ter chegado lá com sua mãe. Ainda criança. E de vê-la sendo morta, pelo Grao-Senhor. Mas não lembrava seu rosto.
Tinha flashes de feericas com asas, Illyrianas. Sabia que trabalhava pra elas. E que viu a cabeças delas caírem aos seus pés.

Será que matei aquelas Illyrianas..?

Como seria capaz de algo assim?
Uma culpa tremenda transtornou seu peito, a fazendo ir ao chão do porão frio em que estava.

Todas estavam.

Diversas fêmeas. Tremendo de medo. Algumas tinham chifres retorcidos. Outras tinham a pele de coloração e texturas diferentes. Mas o olhar de Darya parou em uma em específico. Os olhos abaixados, illyriana, sem um pano se quer a cobrindo. As costas ensanguentadas, sem asas...

Se aproximou devagar, recuperando a força das pernas. Ela se encolhia, longe das luzes das velas. Completamente nas sombras.

_ Ei... - tentou falar, mas saiu mais como um grasnado. Completamente sem voz, ou forças pra falar

Mesmo assim a fêmea ouviu, se encolhendo mais em seus próprios braços.

Decidi então apenas lhe cobrir com o pano que me sobrava da saia do vestido de duas camadas. A parte grossa dele.

Ela agarrou o tecido como se fosse um tesouro. Ou como se precisasse dele pra respirar.

Talvez precisasse.

Ela não agradeceu. Nem sequer abriu a boca. Mas me olhou.
E eu vi toda dor que aqueles olhos carregavam, a dor de uma semelhante.

Eu tentei sorrir. Apenas tentei. Mas deve ter saindo como um careta, pois ela franziu o nariz, e se enrolou- ainda mais- no tecido grosso da saia.

E ali começou uma amizade, que nem mesmo eu esperava ter um dia.

°

Já haviam se passado 3 semanas.

Três semanas desde que me encontro no meio dessas fêmeas incríveis.

Sim, digo incríveis. Pois é o que todas aqui são.

Descobri nessas semanas, que estamos sendo levadas a Hybern. Eu nunca ouvi em meus anos de vida- não me lembro a minha idade certa- esse nome.

E que todas as incríveis mulheres que estão aqui, cometeram alguma infração da lei de suas cortes. Era como uma punição por serem livres.

Algumas apenas responderam mal seus maridos e eles a jogaram aqui. Outras mataram os responsáveis por abusarem - de diferentes formas - seus corpos e mentes. Já outras, como Dressa, a fêmea que ajudei, apenas foram jogadas aqui sem motivo aparente, as asas cortadas por ter sangrado tarde demais.

Corte de Danças e SonsUnde poveștirile trăiesc. Descoperă acum