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you take the man out of the city,
not the city out the man.

end of beginning - djo.

MIZUSHIMA AKIMI.

REVIVER O PASSADO era doloroso, triste e decepcionante. Ver meu pai novamente com toda certeza não era algo que estava nos meus planos pelos próximos dez anos, ou talvez pelo resto da vida. Se eu pudesse eu nunca mais olharia para face daquele homem.

Estar ao lado do meu pai era desesperador. Alguém imprevisível, inconsequente e inconveniente como ele era horrível de se ter por perto, e é pior ainda quando essa pessoa é seu pai. Talvez ele não seja alguém tão ruim assim, e talvez ele tenha mudado, mas isso não apaga todo o passado que ele tem comigo, com meus irmãos e com minha mãe. Não apaga as noites em que Akira tapava os nossos ouvidos para que não escutássemos a discussão de nossos pais, não apaga todo o desespero de quando ele nos chantageava, não apaga as vezes que ele levou a mão para minha mãe na minha frente.

Eu não queria revê-lo e lembrar de tudo, não queria que Akihiro olhasse novamente para o rosto do inferno da vida dele, que Akira olhasse para a maior decepção da vida dele ou que minha mãe olhasse para a pior pessoa da vida dela.

Mas ele estava aqui, poucos metros de mim, na cadeira a minha frente.

Era sábado de tarde, eu ainda sentia os efeitos da semana de noites de sono incompletas, refeições mal feitas e treinos malucos. Eu e minha mãe tínhamos decidido que seria melhor eu ser a primeira a ver meu pai, quer dizer, foi uma decisão completamente minha.

Haru — meu pai — tinha chego no Japão a pouco tempo, para ser exata, a algumas horas. O homem insistiu para que encontrasse os filhos assim que chegasse em solo japonês e como dois dos três filhos estavam fora de casa, sem avisar meus irmãos, eu fui. Ele me buscou a algumas ruas da minha casa, estava sozinho, e me trouxe até a sorveteria onde eu e Akihiro amávamos vir quando crianças.

— Porque me trouxe até aqui? - Perguntei assim que ele se sentou na cadeira a minha frente. — Era melhor você conversar comigo em casa.

— Sua mãe não ia me querer lá, filha. - Ele respondeu, com voz de coitado. — Onde está Hiro?

— Não vai perguntar de Akira? - Batuquei os dedos na mesa enquanto o encarava, soltando um suspiro cansado. — Hiro saiu com alguns colegas meus...

— Está com cara de cansada, o que aconteceu? - Uma pontada de preocupação surgiu na voz do homem, sua expressão era quase brava, isso me incomodava.

Dias ruins. - Apertei minhas unhas contra a palma da minha mão embaixo da mesa. — E o que te traz aqui no Japão? Não querendo ser grossa, claro, mas eu não queria e não esperava você aqui tão cedo.

— Você é sempre tão sincera. - Ele suspirou, um pouco irritado. — Puxou isso da sua mãe. - Ele deu uma pausa para soltar um riso fraco. — A empresa me mandou para cá, vou ficar por alguns dias, talvez semanas se for preciso.

— Ah, sim... - Eu o encarei, sentindo o arrepio desconfortável de sempre subir pelo meu corpo. — E você resolveu trazer a família junto em uma viagem de trabalho...virou um bom pai? - Perguntei, quase sarcástica.

starry eyes - tsukishima kei.Where stories live. Discover now