Cap.1 - Music for a sushi restaurant

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 - E aí eu marquei de sair com ele.

Falo, enquanto tento insistentemente pegar uma folha de alface com esse garfo de plástico, que veio com a minha salada. As opções da cantina do hospital hoje não são muito meu estilo, e confesso que desde que assisti aquele reality show, Keeping up with the Kardashians, algo em balançar uma vasilha de plástico com salada me relaxa.

- Cassie, isso não é meio, sei lá, arriscado? Quer dizer, você nem conhece o cara.

 Essa é minha melhor amiga (e também médica cardiologista), Angela Andrews. Eu e Angela nos conhecemos na faculdade, e tivemos a sorte de passar para o mesmo programa de residência aqui, no London Medical Center. Desde então, somos inseparáveis. Dividimos o mesmo apartamento, pegamos os mesmos plantões. Para todos os efeitos, Angel é meu contato de emergência, e eu sou o dela;  

- Angie, nós jogamos call of duty juntos tem pelo menos uns dois anos. Acho que durante as minhas folgas eu escuto mais a voz dele que a sua, eu saberia se ele fosse uma pessoa ruim. Ele só quer me agradecer pelo outro dia - e, pelo outro dia o que eu quero realmente dizer é: Durante uma das partidas da noite, meu parceiro de jogo, o "EddardSt69" me disse que estava se sentindo mal. Não um mal comum, um mal "mal". 

Como boa médica (e workaholic) fiz algumas perguntas rápidas e o orientei no que deveria ser uma queda de pressão bem abrupta. Provavelmente ele não havia comido nada o dia todo, e, depois de seguir minhas orientações de primeiro momento e se dirigir à um pronto atendimento em seguida, no outro dia EddardSt69 já estava online novamente e se sentindo novo em folha.

- Tá, mas se vocês jogam juntos à tanto tempo, porque isso agora?

 Angela me pergunta, e dou de ombros.

- Eu não sei, e não vou saber se eu não for; eu marquei em um lugar público, Angie, nós vamos comer Sushi naquele restaurante que fica próximo daqui.

Ela rola os olhos e eu finalmente consigo "pescar" com o garfo a alface que estava me dando trabalho, - inutilmente - já que meu pager toca e preciso abandonar a vasilha intacta em cima da mesa.

Corro pra emergência, amarrando meus cabelos em um coque. "Alison Fordd, 16 anos, bateu o carro contra uma motocicleta ao passar direto no sinal vermelho. O airbag acionou mas ela não usava cinto de segurança" - o socorrista me passa a ficha assim que encontro com eles na chegada das ambulâncias. Olho a prancheta e em seguida a jovem deitada na maca, com o pescoço imobilizado. 

- Oi Alison, meu nome é Drª Brooks e eu vou dar uma olhadinha em você - me apresento e toco a mão dela, enquanto caminho ao lado da maca; 

- você consegue apertar a minha mão? - peço, e ela começa a chorar; "Aonde estão meus pais? Cadê o Blake? Nossa meu pai vai me matar, ele disse que eu não po...p.." e ela começa a convulsionar. Imediatamente, corro para uma das salas de atendimento para fazer os primeiros socorros, e estabilizá-la.

É engraçado, o traumatismo craniano. Uma pessoa pode chegar normal na emergência e dali meio segundo...convulsionar. Isso porque o cérebro numa pancada forte, se move dentro da caixa craniana, no líquido cerebral. O inchaço pode aumentar gradativamente e demorar um pouco para apresentar sintomas ou pressionar áreas específicas, por isso após qualquer concussão é tão importante observar. Observar e procurar um hospital, de preferência que tenha um neurologista de plantão. Que, no caso hoje, era eu. Drª Cassandra Brooks.

Alison teve sorte e conseguimos operá-la a tempo, e isso também acabou por me liberar no horário. Ela é jovem, não teve complicações durante a cirurgia e vai ficar bem. Com esse pensamento e o caso dela devidamente passado para o próximo plantonista, eu me arrumo no vestiário do hospital mesmo. 

Cassandra's HouseWhere stories live. Discover now