VI - Qualquer coisa

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- Eles fizeram isso com você? - Pierre perguntou em um mero sussurro que definitivamente teria se perdido se não estivesse somente eles no quarto.

Sem palavras para pronunciar, Viper fez um movimento mecânico com a cabeça para concordar.

- Espero que um dia, você faça eles se arrependerem. - Pierre sussurrou, sorrindo melancolicamente antes de estender a mão e descansar as pontas dos dedos em um corte abaixo do olho direito de Viper. Ele reprimiu a vontade de se escolher com o toque. - Você voltou uma vez. Pode voltar novamente, não é?

Não, ele não podia.

Não era seguro voltar ao mesmo lugar duas vezes. Viper teve sorte de encontrar Pierre novamente em outro país depois de ter o encontrado na França, mas não passou disso: sorte. E Viper desconfiava que toda a sua sorte tenha se esgotado.

Ao invés de admitir a verdade, Viper engoliu em seco e sorriu.

- Claro, eu sempre volto.

Ele soou como seu pai.

Ele soou como um mentiroso.

Suzie teria vergonha dele.

Viper quis se encolher com o pensamento, a mera ideia de decepcionar sua mãe o fez querer desaparecer.

- E-eu preciso ir. - Pela primeira vez, Viper vacilou. Ele hesitou em se mover, desejando muito que a vida fosse diferente e que ele pudesse permanecer ali. - Você cuida de Basilisco para mim?

A mão de Pierre ainda estava em seu rosto ao escorregar para seu ombro, o puxando para um abraço tão forte que Viper quase teve certeza que o ar seria retirado de seus pulmões.

- Vou sentir sua falta. - Viper confessou, porque ele sempre foi sincero e completamente aberto sobre seus sentimentos. Sobre Pierre ser seu melhor amigo.

Viper sabia que precisava dizer, mesmo que Pierre já soubesse, que ele também era seu melhor amigo. Parecia uma coisa necessária, mas as palavras ficaram presas em sua garganta. Ele se contentou em abraçar Pierre de volta.

- Céus, somos dois idiotas. - Pierre bufou, soltando uma risada forçada. Seu esforço para trazer humor para sua voz era evidente, mas Viper preferiu não comentar. - Até parece que você está indo para a morte.

Era exatamente para onde Viper estava indo.

★★★

Loki não gostava muito de qualquer invenção humana.

Desde aviões e trens.

Ele odiava qualquer coisa que precisasse confiar em uma pessoa que não era ele. Para seu total descontentamento, todos os transportes que Viper usava para atravessar o país nos últimos cinco meses precisavam ser conduzidos por uma pessoa que não era Loki. Se existia um medo por trás dessa desconfiança, Loki se recusava admitir, embora Viper desconfiasse que era exatamente o medo que impedia Loki de relaxar ao seu lado no banco do trem.

As árvores eram deixadas para trás em uma velocidade que teria deixado Viper de sete anos enjoado, principalmente se estivesse sentado de costas para o condutor, mas, agora, depois de anos se acostumando a fugir e se adaptar aos transportes humanos, Viper não sentia mais enjoo.

- Eu não entendo qual é a necessidade de continuar neste planeta. - Loki disse pela quinta vez desde que eles entraram no trem.

Viper gostaria de dizer que qualquer outro planeta só faria com que ele se tornasse um alvo mais fácil, porque, diferente da Terra, todos os outros planetas eram habitados por ao menos dois ou três inimigos de Loki. Na Terra, Viper dificultava o acesso deles por causa da SHIELD, que apesar de não saber que está ajudando Viper, tem um sistema de identificação que mostra quando alguém entra no planeta.

A mentira está em meu sangue - Peter ParkerWhere stories live. Discover now