CAPÍTULO 3 - PEIXE FORA D'ÁGUA.

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Quando eu abri os olhos, eu quase fui atropelada por uma carruagem. Eu corri até a calçada e ofegante eu apoiei a minha mão nos joelhos e recuperei o fôlego:

- Que reveladora!- disse uma voz masculina, imediatamente eu me levantei e corri para o lado, mas eu acabei esbarrando em alguém:

- Ei! Cuidado!- dessa vez era uma voz feminina- Você está bem?

- E-eu não estou!- respondi, a garota parecia ter a minha idade, tinha cabelos dourados, olhos castanhos e estava usando um casaco rosa- Por favor, me ajuda!

- É...- de repente, a garota teve que ir embora, já que a multidão acabou a levando para outra direção:

- Ei! Espera!- eu gritei, então tentei passar pela multidão para chegar até ela- Licença! Com licença!

Mas ninguém me dava ouvidos, e arrasada eu fiquei caminhando pelas ruas da Londres vitoriana.

Durante a minha caminhada, muitas pessoas me olhavam com curiosidade, admiração ou interesse. Mas eu só queria ir para casa, estar na minha cama e vivendo a minha vida.

É então que eu havia chegado a parte mais pobre da cidade, eu nunca havia chegado lá antes, mas o desespero e o medo me fizeram fazer isso. É então que eu vi um restaurante ou bar, não sei, e resolvi entrar lá. Quando eu entrei, vi que muitos estavam jantando, alguns conversando, e alguns...é...acho melhor não comentar.

Caminhei até uma mesa distante, e eu retirei meu casaco laranja. Assim, eu descansei a cabeça na mesa:

- Aonde é que eu fui me meter? Culpa daquele ladrão de leite- disse eu, completamente chateada. De repente, eu ouvi alguém cuspir uma bebida. Eu levantei o rosto, e em duas mesas a frente, eu vi Dorian Gray limpando os lábios e seus dois amigos:

- Cuidado Dorian!- disse a voz de Basil, eu então tentei me esconder, já que o meu cabelo podia chamar a atenção dele- Que cara é essa?

- Eu acho que encontrei ela- disse Dorian, eu então fingi estar dormindo- Sophia!

- Por favor diz que foi engano, diz que foi engano!- implorei, é então que ele retirou meu casaco da cabeça- Não foi engano!

- Senhorita Brooks, você por aqui!- disse Dorian, com um sorriso, Jesus me ajuda!- Você voltou pra mim?

- Por incrível que pareça não- respondi, agora ficando vermelha, mas não era de vergonha- Eu entrei na máquina do tempo sem querer.

Eu então abaixei a cabeça e comecei a batê-la na mesa:

- Senhorita Brooks, desse jeito você pode quebrar a cabeça!- disse Dorian, agora segurando meus ombros com preocupação- Você não tem pra onde ir?

- Não, minha casa já tem dono nessa...

- Sem palavrões!- ele interrompeu, agora passando a mão pelos meus cabelos- Você pode ficar na minha casa durante esse meio tempo.

- É...eu posso- disse eu, ainda chorosa- Mas por favor...não conte comigo pra nada!

Eu estava segurando os braços de Dorian, o que fez ele ficar chocado, já que naquela época esse tipo de toque físico era meio errado ou considerado inadequado:

- Tudo bem, não irei contar contigo pra nada.

- Ótimo, você é um...querido- disse eu, depois de tentar encontrar uma palavra boa pra descrevê-lo- Agora vai lá com seus amigos que eu vou atrás.

- Não, não posso deixar uma dama como você sozinha.

- Olha Dorian, eu já fiquei muitas vezes sozinha nessa vida, não é só porque eu estou no século XIX que eu vou seguir as regras desse século!

Eu paguei com a língua, lá estava eu, sentada ao lado do preconceituoso Lord Henry e de Basil Hallward, bom...eu não sei o que dizer sobre ele, mas ele é o único que tinha um cérebro ao redor de dois jegues como Dorian e Henry.

ASSOCIAÇÃO DOS CASOS LITERÁRIOSWhere stories live. Discover now