A mudança

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Este dia em particular era uma manhã calma na Polônia. O país ainda estava em crise devido às perdas durante a guerra, e muitas cidades estavam a se reconstruir e assim consecutivamente se erguendo, e entre todas as cidades, uma delas é a cidade de Poznan. Um local que havia sofrido muitos danos durante a Segunda Guerra Mundial, o qual foi extremamente atacado neste período, vários prédios haviam sido destruídos, famílias mortas e inúmeras vítimas devido à invasão alemã na época.

Entre todas as casas do local, na parte mais pobre da cidade, vivia uma jovem chamada Anninka a qual tinha cabelos afros de cor clara, um rosto oval, olhos puxados de tonalidade azul-cinza, pele negra em um corpo pequeno infantil. Anninka morava em uma casa pequena de cor azul que era bastante confortável, apesar de simples. Porém, este não era o cenário agora, as paredes esburacadas, o cheiro de mofo e podridão, o chão sujo e empoeirado revelava que o local, antes que fosse pertencente a uma feliz família, agora era quase um cemitério de lembranças de uma dura época.

A garota fazia as malas com uma expressão abatida, enxugando suas lágrimas após reunir coragem e ir à estação de trem enquanto carregava um bilhete para uma cidade vizinha. A criança olhou em volta e se sentou em um canto isolado enquanto via algumas pessoas a olharem torto, fazendo-se a se sentir mal, mas ela se lembrava do que sua mãe disse e manteve a cabeça erguida enquanto pensava em tudo que havia vivido anos atrás.

De imediato, ela apenas olhou para a janela enquanto pensava se seus avós seriam boas pessoas, e era bem certo que Annika nunca teve contato com seus avós paternos. Porém, mesmo assim, eles pegaram a custódia dela após seus pais morrerem, sendo que seu pai faleceu em um campo de concentração, e sua mãe posteriormente devido a uma doença crônica desconhecida.

Ela observava a paisagem ao redor, vendo alguns pastos e casas no meio das estradas, junto de algumas pessoas aleatórias passando, e isso se seguiu a viagem toda, até cerca de oito horas quando finalmente o expresso chega ao seu ponto.

A cidade de Tarnobrzeg a qual era uma cidade pacífica do interior da Polônia, com várias casas e prédios contrastando com os campos agrícolas e diversas planícies, além do clima continental, sendo quente nos verões e muito frio nos invernos, já no resto do ano o clima sempre está ameno.

Annika apenas caminhou enquanto olhava ao redor da estação até ver dois idosos, um deles tinha pele negra e cabelos afros, enquanto a outra tinha pele branca e olhos verdes. Eles acenaram para a menina e ela logo pensou que deveriam ser seus avós e foi até lá:

Olá! Anninka, como você está? — Disse o homem à sua frente, que deveria ser seu avô.

— Estou bem e vocês dois? — respondeu Annika um pouco receosa.

— Estamos bem, mas como pode dizer isso com esse peso? — Disse a senhora que se aproximou dela, a olhando. — Está vendo Zaki, como a menina está magra — disse a mesma com preocupação, tocando os braços magros de sua neta.

Anninka olhou para baixo, envergonhada, sem saber o que dizer ou pensar em uma situação assim. Realmente, ela estava relativamente abaixo do peso, já que, na época em que a guerra ocorria, tanto ela quanto sua mãe passaram necessidades tanto pelo fato da falta de dinheiro, pois seu pai estava na guerra.

Quanto ao motivo de sua mãe ter adoecido alguns anos depois, ademais, como devido à sua etnia ampla e variada, ela não poderia sair muito do porão de sua residência, o qual era um local onde ela ficava em casa em casos de invasão de propriedade por parte dos soldados.

Quando isso ocorreu, infelizmente Anninka tinha apenas nove anos e não poderia fazer muita coisa para ajudar. As lembranças de Annika ainda rodavam. Ela e seus avós, ao notarem o semblante desamparado de sua neta, logo a abraçaram e disseram:

— Está tudo bem, Anninka, você está com sua família agora, vamos te levar para casa — Disse Zaki

— Seu avô está certo, Anninka, estamos todos juntos agora, e isso que importa — disse sua avó, lhe dando carinho na cabeça.

Após isso, ela foi junto de seus avós andando pela cidade., Anninka enquanto encarava o local, logo ouviu sua avó dizer:

— Você gosta de sopa de chucrute? — Perguntou sua avó.

— Já comi algumas vezes com meu pai, é bom — disse ela, dando um pequeno sorriso de leve.

— Oh! Katanyna, você irá fazer isso para o jantar? Seria bom fazer alguns faworkis, seria ótimo — disse Zaki para sua esposa enquanto lambia a boca só de pensar na sobremesa.

A velha senhora, assim como sua neta, riu ao ver a expressão do senhor e logo seguiram até uma colina. Ao chegarem lá, viram uma pequena casa marrom estilo rústico no meio do campo verde. Eles logo adentraram na casa e, em seguida, Annika colocou suas malas em um canto e ouviu sua avó dizer:

— Seu quarto fica no andar de cima à esquerda, vou preparar a comida — Falou Katanyna

— Entendo — Respondeu Annika indo em direção ao novo quarto dela.

Por fim, Annika adentrou no quarto, suspirou, olhando a decoração, e seus olhos vagaram pelos móveis de madeira, a cama confortável de cor bege e cortinas na janela que dava visão a um lago. A menina suspirou e sentou-se na cama, e sua mente ainda vagava por todos os acontecimentos enquanto se perguntava como seria daqui para frente.

No dia seguinte, Annika acordou se espreguiçando enquanto lembrava do jantar delicioso que teve ontem à noite com seus avós. Ela se arrumou e penteou seu cabelo e logo desceu, se deparando com seu avô comendo enquanto estava ao lado de sua avó, colocando o café na mesa:

— Bom dia, Anninka, dormiu ontem à noite? — Perguntou Katanyna.

— Dormi, sim, e vocês? — perguntou a garota.

— Dormimos muito bem, querida.

— Disse Zaki se levantando e dando um beijo na testa de sua neta. — Irei trabalhar na sapataria, quer ir ver o local comigo? — perguntou o mesmo, a olhando.

Annika apenas assentiu, e por fim, logo almoçou tudo, ademais, ao acabar, foi ajudar Katanyna a lavar a louça e acompanhou Zaki até a sapataria. Durante o caminho ela viu um edifício fechado, mas parecia ser um local muito bonito e isso chamou sua atenção de alguma forma, mas sua atenção se desviou quando ela voltou a caminhar mais rápido para seguir seu avô; ao chegarem na sapataria, Annika viu um local cheio de sapatos e pessoas trabalhando, que cumprimentaram seu avô com um tom amigável de respeito.

A garota logo se sentou em um dos banquinhos e ficou vendo o serviço de seu avô até ela resolver perguntar:

— O que é aquele edifício que vimos no caminho? — perguntou a garota.

— Ah! Aquilo lá, é a floricultura que tínhamos, infelizmente já não está em mais uso... — falou o senhor enquanto engraxava um sapato.

— Oh!... Entendo, posso ir vê-la mais tarde? — disse Annika mostrando curiosidade.

— Bem, talvez eu te leve lá quando tiver tempo, faz tempo que aquele local não é acessível, então não sei o quão seguro está lá para uma criança como você entrar sozinha — disse ele, concentrando.

A garota, no final, apenas assentiu e voltou a ficar quieta enquanto, assim, prestava atenção em seu avô fazendo o serviço. Já no final do dia, ela voltou para casa com o mesmo e ajudou sua avó a fazer a comida e comeu com eles na mesa.

FlorescerWhere stories live. Discover now