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You On

O último sinal do dia soou e eu suspirei, aliviada e culpada. Não na mesma intensidade, porque a culpa é sempre a mais corrosiva; uma dor que você consegue antecipar e martela desde o primeiro momento.

Com muito esforço eu evitei os outros. Novamente, sabia que fugir não era a solução dos meus problemas, mas eu também não precisava os encarar de frente, tendo plena consciência de que eram uma avalanche que me atropelaria e pouco sobraria de mim.

Saí o mais rápido possível da sala de biologia, aula da qual pude evitar Hendery e comecei a caminhar pelos corredores, a procura de Kun. Não queria ser vista por nenhum dos garotos, ainda mais acompanhada. Já bastava o acontecido na biblioteca, que me atormentou pelo resto das aulas.

Em meio a multidão que quase sempre se formava perto do portão que dava acesso as ruas, avistei o chinês. Sozinho, concentrado em seu celular. Afastado de todos os outros, inclusive dos próprios amigos, esperando por mim. Debaixo de uma árvore que tinha algumas de suas folhas verdes surrupiadas pelo vento, ele estava tão lindo que parecia ter saído direto de um mangá shoujo— e eu era a protagonista que ficava boba ao redor dele.

Eu não posso mentir; hesitei por um momento enquanto sentia meu coração palpitar. Queria saber porquê nosso corpo reage das formas que reage quando vemos alguém que gostamos. Respirei fundo e me aproximei com meu melhor sorriso.

— Oi S/N.— Sorriu e guardou o celular. Murmurei um "Oi", reparando nos olhares que, quase que instantaneamente, começavam a recair sobre nós.

Eu e Kun não éramos completos desconhecidos e já havíamos interagido muitas vezes e feito muitos projetos juntos—mas tudo do portão para dentro.

— Para onde vamos?

— Gosta de sorvete?— "Quem não gosta?", retruquei.— Abriu uma nova sorveteria por aqui e eu ainda não fui lá.

— E eu nem sabia que tinha aberto.— Entrelacei meus dedos uns nos outros.— Vamos lá?

Pelo trajeto todo eu desejei que não tivesse nenhum conhecido lá. Se era perto da escola, podíamos encontrar colegas que tiveram a mesma ideia; se era perto da escola, era perto de casa, logo eu poderia encontrar algum vizinho. Eu não conseguiria relaxar.

O lugar não era muito grande, mas era bonito. As paredes pintadas em azul pastel, o balcão pintado de amarelo e o cardápio suspenso sobre o caixa tinha formato de sorvete e o piso era branco. Havia mesas rosas e os bancos eram amarelos como o balcão. Passava aquela impressão de que havia acabado de sair de um filme adolescente americano, ao mesmo tempo que não era muito diferente do que já tinha pela região. Talvez o diferencial fossem os tons pastéis.

Não estava nem cheio e nem vazio; a maioria das mesas ocupadas eram por casais jovens e adultos, e havia alguns poucos grupos de amigos. Estes faziam mais barulho do que os pares, mas também não era nada que fosse me fazer querer levantar e ir embora.

Por fim, analisei todos os rostos, em busca de um no mínimo conhecido. Felizmente, nada e eu senti o alívio me abraçar.

É assim que os criminosos se sentem?

O garoto ao meu lado pediu um sorvete de flocos e eu pedi um de chocolate branco. Esperamos nossos pedidos enquanto conversávamos sobre o ar fofo e delicado que o estabelecimento tinha, e quando eles chegaram, nos sentamos numa mesa próxima a porta de entrada e da janela. Colocamos nossas mochilas ao nossos lados, já que estavámos sentados um de frente para o outro.

— Então Kun, fale-me sobre porque veio morar aqui em Seul.— Comecei um assunto enquanto pegava a colher para a comer o sorvete no pote.

Ele começou a contar sua história e eu estava totalmente concentrada nele. A voz de Kun era muito agradável e facilitava a imersão em qualquer coisa que ele começasse a falar.

To All the Twenty Guys I've Loved Before - NCT OT20Where stories live. Discover now