16. Frost

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Ele não lembra ao certo os detalhes daquele pesadelo ao acordar assustado com a fresta de luz do sol que passava por entre as folhagens beijando seu rosto. Seu coração acelera, ele pensa: dormi demais. Simon olha ao seu redor e não encontra a garota e nem seu casaco, desespero, ele se levanta de relance e no seu campo de visão não há nada além do verde dos arbustos altos e as copas das árvores altas. Seu raciocínio vai voltando a razão aos poucos, ela provavelmente havia saído mais cedo, o que o deixou um pouco irritado, ao menos poderia comunicá-lo ou avisar que tinha dormido.

"Eu estou ficando mole." - pensou frustrado em ter se deixado abater pelo sono e nem mesmo ele percebeu quando havia acontecido.

Os dias na cabana e os ferimentos o haviam baqueado, inclusive, faltava mais dois dias para que o ciclo de medicações fosse encerrado, e quando verificou os ferimentos, já estavam bem melhores do que antes.

"Bom dia." - ela aparece de trás dele com um coelho recém escalpelado, senta-se ao lado dele e começa a acender a fogueira.

Ele analisa sua figura, seus cabelos estão presos por um coque e há lama até a altura da sua canela.

"Você me assustou. Devia ter me acordado." - falou irritado.

"Não tem problema, tem algum tempo que eu estava acordada, dei uma caminhada alguns metros daqui e aparentemente sem sinal ou rastros deles, estamos com o caminho seguro por hora." - ela olhou ao lado e reparou que ele descia a blusa, provavelmente conferindo os ferimentos. - "Como se sente?"

"Melhor, eu acho que não há chance dos pontos estourarem, parece que tudo está fechado."

"Que bom." - ela esboçou um sorriso e terminou de enfiar a carne em um espeto de pau que tinha entalhado com a faca de Simon.

Ele resolveu que não falaria nada sobre ela ter surrupiado a sua faca para si, deu de ombros e ela logo percebeu.

"Me desculpe, eu precisei." - assim que terminou o serviço, estendeu a mão, entregando a faca a ele.

"Pode ficar." - ele fez um gesto com a mão recusando a devolução do objeto - "Se você for surpreendida de perto, vai ser melhor pra você."

"Obrigada." - ela se levantou, foi até o rio, agachou-se e limpou a faca e as mãos.

Ouviu o crocitar de um corvo que havia pousado em uma pedra há alguns metros dela, a visão, a aterrorizou de início, pelo susto e pelo vulto negro que havia surgido do nada. O corvo virou a cabeça de um lado para o outro, curioso pela imagem da moça, e ela, refletida em seus olhos negros. Ela se levantou e assim que o fez, fez com que o corvo voasse para uma árvore, há alguns metros dali, mas ainda no campo de visão de Sora. Ela deu de ombros, e colocou a faca de volta no bolso da calça e retornou ao acampamento. Minutos se passaram até que o coelho estivesse cozido, e assim ambos comeram. Após o desjejum, logo destruíram a fogueira e qualquer vestígio que indicaria que eles haviam ficado ali.

A caminhada cautelosa por dentro da floresta começaria, e enquanto os dois andavam, nenhuma palavra era proferida, pelo medo de serem notados. O corvo, parecia acompanhá-los do alto, Sora conseguia perceber o bater das suas asas e o seu crocitar e uma leve irritação tomaria conta dela, pelo medo de ele ser um sinal que os entregaria. Assim que pensou, o corvo havia desaparecido, não houve bater de asas e nem crocitar, e ela sentiu um arrepio na espinha.

Algumas horas haviam se passado, e felizmente, não havia nenhum sinal de vida humana no local. Sora começava a ficar confiante novamente, de que chegariam a salvo em Fort Nelson, se via contando tudo a Oliver e esperando não houvesse mais investigações. Pelo caminho, ela coletava frutinhas que sabiam que seriam comestíveis e nozes que achava e entregava a Simon, que colocava o excesso no bolso para mais tarde. O clima ainda era bastante úmido e frio, e pelos seus cálculos, mais algumas horas a frente, estariam nos limites da Cabana.

Wolf and RavenWhere stories live. Discover now