Capítulo 57.

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24 de junho de 2005
Aeroporto Internacional de Los Angeles
Catalina Hernandez
08:10

Michael e as crianças estão esperando a chegada do avião e eu vim me despedir deles. Estamos sentados nas cadeiras do aeroporto, Paris no colo do pai, Prince na cadeira entre Michael e eu e Bigi em meu colo. Estamos tentando nos manter o mais próximo possível e permanecer até os últimos segundos juntos. Está sendo tão difícil. Não posso acreditar que vou ficar longe deles por um tempo indeterminado, meu coração está em pedaços. Eles também estão bem abalados, não queriam deixar Neverland e choraram muito quando Michael foi conversar com eles sobre a mudança, eu ouvi tudo do corredor. Me recusei a estar presente, eu não quero nunca que pensem que compactuei com isso, pelo contrário, quando estiverem mais velhos e puderem entender a situação, eu explicarei tudo, inclusive que fui contra esse absurdo.

— Papai, eu não quero ir, quero ficar em Neverland! — Paris choraminga enquanto esconde o rosto no pescoço do pai, ele suspira e abraça a filha mais forte.

— Eu sei, meu amor. Mas a nossa viagem para Bahrein será tão divertida quanto ficar em Neverland, eu prometo! — delicadamente ele segura seu rostinho e enxuga suas lágrimas. Paris obediente que é, apenas assente e encosta a cabeça no ombro do pai.

— Quando você irá nos visitar? — Prince pergunta me encarando com seus olhos castanhos que agora estão tão abatidos e caidinhos.

— Ainda não sei, meu amor, mas eu espero que não demore muito. — respondo e ele faz um bico, me abraçando forte de lado e eu retribui acariciando seus cabelos e o mantendo pertinho de mim. — Eu prometo que vou ligar sempre que puder, vamos nos falar sempre, tudo bem? — tentei amenizar a situação e senti ele assentir com a cabeça, ainda agarrado ao meu corpo.

Bigi é muito novo, ele ainda não entende o que é uma mudança e tampouco consegue mensurar a distância entre continentes. O que me deixa aliviada, por um lado, talvez ele não sofra tanto por não compreender certas coisas... realmente não imagino o que se passa em sua cabecinha. Ele pode não entender toda a situação, mas ele está achando estranho com certeza. Ele está quieto, agarrado em meu pescoço o tempo inteiro, como se mesmo sem entender, ele estivesse sentindo que algo não está certo.

Tentei não falar com Michael durante toda a semana, tratando com ele somente o necessário sobre as crianças e claro, me preocupando em não demonstrar na frente dos três a raiva que estou sentindo do pai deles. Essa sua atitude não poderia ser mais cruel, levar as crianças para tão longe, assim, de repente? E mais, acabar um relacionamento de 3 anos sem pensar duas vezes? Eu jamais esperaria isso dele, estou realmente magoada e não sei se conseguirei o perdoar por isso um dia. Nossa relação, a partir de então, será voltada somente para o bem estar das crianças, nada além disso. Eu não quero mais nada que venha dele além de notícias dos meus filhos.

— Mr. Jackson, o avião chegou. — Wayne chega para nos avisar. Ele não irá com Michael, mas continuará trabalhando na propriedade juntamente com outros seguranças, como chefe de segurança.

— É hora de ir. — Michael se coloca de pé e devolve Paris para o chão, estende a mão para a filha que a pega e Prince faz o mesmo. Me levanto com Bigi no colo e caminhamos para a pista. Quanto mais nos aproximamos do avião, mais os bracinhos de Bigi apertam o meu pescoço. Sinto um nó se formar em minha garganta, meus lábios tremem e meu coração se aperta, mas não quero chorar na frente das crianças, não posso deixar esse momento ainda mais difícil para elas.

Aos nos aproximarmos das escadas, Michael estende os braços para o filho, que vai de bom grado para o seu colo, para que eu possa me despedir de Paris e Prince. Me abaixo para ficar da altura deles e mesmo tentando ser o mais forte que posso, foi muito difícil não se emocionar ao encarar seus olhinhos marejados e vermelhos, eles parecem tão confusos e tristes. Não pude segurar as lágrimas então eu deixei o choro vir e tomar conta de mim. Eles se apressaram para me abraçar e eu os abracei de volta com força, como se fosse a última vez.

— Eu os amo tanto, meus bebês. — sussurrei para eles, que choram em meu pescoço, um de cada lado, me permitindo ouvir suas fungadas bem de perto, como quando eles brigam um com o outro ou quando se machucam brincando e nós precisamos consola-lós. Mas desta vez é diferente, eles estão me consolando mais do que eu a eles. — Eu vou ligar sempre que puder e vocês também podem me ligar sempre que quiserem, okay? — me afasto para os olhar nos olhos, os dois confirmam com a cabeça enquanto enxugam as lágrimas com as duas mãos. Beijo a testa de cada um e me coloco de pé novamente, observando meus anjos loiros subirem as escada do avião, cuidadosamente, de mãos dadas.

— Cat! — Bigi diz meu nome e me chama com as mãozinhas. — Vamos, vamos! — ele exclama ao observar os irmãos subirem.

— Eu não poderei ir com vocês, pequeno. — me aproximo e acaricio seu rostinho. — Prometo que vamos nos falar em breve. — expliquei. Seus olhos escuros e grandes me encaram com um olhar confuso e quando suas mãozinhas me puxaram pelo sobretudo para mais perto dele, mais lágrimas rolaram pelo meu rosto. Sua cabeça balança em negação e ele estica os bracinhos para mim e mesmo hesitando em pegá-lo de início, não pude suportar, o tomei nos braços mais uma vez e o abracei como nunca, chorei como uma criança com o meu bebê nos braços. Eu não sei se irei suportar ficar tanto tempo longe dele, como farei isso, meu deus?

— Meu amor, precisamos ir. — Michael chama pelo filho após alguns segundos, mas é completamente ignorado por Bigi, que se afunda ainda mais em meu pescoço. — Vamos lá, seus irmãos estão esperando. — Michael pede mais uma vez, da forma mais doce possível e então ele levanta o rostinho e mesmo com o olhar receoso, ele finalmente decide ir com o pai.

— Eu te amo, meu amor. — beijo seu rosto pela última vez e me distancio, levando a mão até a boca e mandando um beijo para ele, que retribui, me fazendo rir fraquinho ao lembrar do dia em que ele aprendeu esse gesto.

— Cat... — Michael começa a falar mas eu desvio o olhar e estendo a mão em sua face, fazendo um sinal para que ele pare de falar.

— Me ligue durante as paradas e quando chegar, por favor. — pedi e quando ele se aproximou para tentar me abraçar, eu resisti, colocando minha mão entre nós e o mantendo a certa distância do meu corpo. — Vá! — Digo sem o encarar. Nenhum pedido de desculpas será suficiente agora, eu só quero que esse momento de dor acabe

Michael suspirou e com os olhos tristes me encarou por um última vez. Lentamente se virou e começou a subir as escadas, sem olhar para trás. Em seu colo, Bigi me chamava com as duas mãozinhas e eu mordi os lábios tentando segurar o choro, acenando para ele, mas quando ouvi sua voz distante gritando "Mamãe" eu não pude suportar e quebrei completamente. Meus joelhos se chocaram com o solo e eu me desfiz em lágrimas. Meu peito dói intensamente, como se acabassem de arrancar o meu coração, o choro incessante me tomou e eu senti um vazio doloroso.

— Senhorita Hernandez, precisamos ir. — ouvi a voz mansa de Wayne atrás de mim e sua mão tocou minhas costas. Gentilmente ele me ajudou a levantar  e ao me colocar de pé, sem pensar duas vezes eu o abracei com força. Eu apenas precisava de um consolo agora, alguém que pudesse me dizer que tudo ficará bem. Ele passou a mão nas minhas costas, na tentativa de me consolar e quando me afastei dele, ele passou os braços ao meu redor e me ajudou a caminhar de volta para o aeroporto.

Após alguns minutos, pude observar pela enorme janela de vidro o avião partir e mais uma vez me rendi a tristeza. Wayne me apoiou e disponibilizou seu abraço para que eu pudesse chorar. E quando ele gentilmente me ofereceu um lenço que tirou de seu bolso, eu o agradeci e apoiei minha cabeça em seu ombro. No caminho para o carro, ele me perguntou para onde iríamos e pela primeira vez em tanto tempo eu estaria retornando para o meu apartamento, permanentemente.

Continua...

Catalina Where stories live. Discover now