Capítulo 6

80 9 13
                                    

Sinto alguém colocar a mão em meu ombro. Eu me viro e me vejo olhando para os olhos arregalados e confusos de Christopher. Sua boca abre e fecha algumas vezes, e ele balança a cabeça como se estivesse querendo entender:

Ucker: Eles deixaram você vir até aqui para se despedir? – ele pergunta, experimentando as palavras. Em seguida, começa a me observar com mais atenção. Estou com calças jeans brancas, uma camiseta azul sob um moletom verde. Tenho uma bagagem de mão pendurada em meu ombro, estou sem fôlego e imagino ter uma expressão de pânico em meu rosto.

Dul: Mudei de ideia. - Ajeito a alça da bolsa no meu ombro e observo sua reação: seu sorriso não vem tão rápido como eu esperava, o que me deixa ainda mais ansiosa. Mas ao menos ele sorri, e parece sincero. E então, confunde-me mais, dizendo:

Ucker: Acho que agora não posso mais me esparramar pelo seu assento no avião. - Não faço ideia do que dizer como resposta, então apenas sorrio de maneira esquisita e olho para meus pés. A atendente do portão chama outra seção do avião para o embarque, mas o microfone faz um barulho alto, e nós damos um pulo, assustados. E então parece que o mundo inteiro silencia.

Dul: Merda – eu sussurro, olhando para todo o caminho que acabei de fazer. É tudo muito iluminado, muito barulhento e muito longe de Vegas ou do quarto de hotel onde Christopher se hospedou em São Diego. Que porra eu estou fazendo? – Eu não tenho que ir. Eu não... - Ele me faz parar de falar, aproximando-se de mim e beijando minha bochecha.

Ucker: Me desculpe – ele diz cuidadosamente, e beija a minha outra bochecha. – Estou muito nervoso agora. Não foi um comentário engraçado. Estou muito feliz com você aqui. - Ele expira o ar forte, e eu me viro quando sua mão pressiona minha lombar, mas parece que nossa bolha de calor estourou e saímos do palco para uma realidade mais iluminada ainda. Sinto uma pressão sufocante. Meus pés parecem ser feitos de cimento enquanto entrego o bilhete para a atendente, forçando um sorriso nervoso antes de entrar no corredor que leva ao avião. Nós conhecemos bares escuros, conversas descontraídas, os lençóis limpos dos quartos de hotel. Nós conhecemos a possibilidade, a tentação da ideia. O faz-de-conta. A aventura. Mas quando você escolhe a aventura, ela se torna vida real.

O corredor se enche de um zumbido estranho que sei que ficará na minha cabeça por horas. Christopher caminha atrás de mim, e penso se minha calça jeans está muito apertada e meu cabelo muito bagunçado. Posso senti-lo me observando, talvez com mais atenção agora que estou invadindo a vida real dele. Talvez ele esteja reconsiderando. A verdade é que não há nada romântico em embarcar em um avião e voar por quinze horas com uma pessoa praticamente estranha. A ideia é excitante, sim. Só que não há nada glamoroso em aeroportos extremamente iluminados ou aviões ridiculamente apertados.

Guardamos nossas bagagens e sentamos em nossos lugares. Estou no meio e ele no corredor. Um homem mais velho está lendo um jornal junto à janela, e ele pressiona os cotovelos invadindo de maneira bastante óbvia o espaço do meu assento. Christopher ajusta seu cinto mais de uma vez e mexe na saída do ventilador acima de nós, direcionando-a para ele, e depois para mim, e então desligando. Ele liga a luz e suas mãos caem sobre seu colo, irrequietas. Finalmente, ele fecha os olhos e eu conto enquanto ele toma dez respirações profundas. Ah, merda. Ele tem medo de voar. Sou a pior companhia possível nesse momento, porque não falo livremente, muito menos quando alguma autoconfiança é necessária. Sinto-me agitada, e minha reação para esse agito é ficar completamente estática. Sou um ratinho em meio a um campo enorme, e parece que cada situação desconhecida em minha vida é uma águia voando por cima de mim. De repente, o fato de eu ter decidido fazer tudo isso se torna cômico. Os anúncios são feitos, os preparos para qualquer desastre são realizados, e o avião decola, escalando pesado pela noite. Eu pego a mão de Christopher (porque é o mínimo que posso fazer), e ele a aperta forte. Deus, quero tornar essa situação melhor.

Rayo RebeldeWhere stories live. Discover now