Capítulo 17 - penúltimo

71 7 6
                                    

Levo longos e doloridos segundos para desviar o olhar de onde ele está, em direção à caneta e papel em minhas mãos. Que diabos eu devo escrever aqui? Não "adeus", acho. Se eu o conheço bem – e o conheço, mesmo que eu tenha me surpreendido ontem à noite –, ele não se contentará apenas com ligações e e-mails. Eu o verei novamente. Mas estou indo embora enquanto ele dorme, e dada a realidade de seu emprego, pode ser que eu fique um mês sem vê-lo. Este não é exatamente o momento certo para um "até breve", de qualquer maneira. Então opto pelo caminho mais fácil e o mais honesto, mesmo que meu coração pareça se contorcer em um nó em meu peito enquanto escrevo.

"Isso não significa nunca. Só significa não agora. Todo meu gostar, Dulce".

Eu realmente preciso entender meus próprios problemas antes de culpa-lo por ter guardado os dele em uma caixa embaixo de sua cama, figurativamente falando. Mas que porra... Eu queria que isso significasse agora, sim, para sempre.

Ainda está escuro quando saio para a calçada, e a porta do hall do prédio se fecha atrás de mim. Um táxi está me esperando com a lâmpada no topo do carro apagada ao estacionar na calçada e sua forma emoldura um círculo de luz artificial, vinda do poste acima. O motorista olha para mim por cima de sua revista, com a expressão azeda e o rosto alinhado com o que parece ser uma expressão de desgosto. De repente, percebo meu estado, com o cabelo bagunçado e a maquiagem ainda borrada ao redor dos meus olhos, usando uma calça jeans e moletom escuros, como se eu fosse um tipo de criminosa fugindo nas sombras. A frase "escapando da cena do crime" rodeia minha cabeça e odeio o fato de ela soar tão correta para o momento. Ele sai do carro e encontra-me na parte de trás, com o porta-malas já aberto, e um cigarro queimando suspenso em sua boca carrancuda.

Eu mesma abro a porta do carro e entro, fechando-a o mais silenciosamente possível. Eu sei como os ruídos passam pelas janelas abertas e não permito a mim mesma olhar para cima ou imaginá-lo deitado na cama, acordando em um apartamento vazio, ou ouvindo uma porta de táxi se fechando na rua. O motorista senta-se no banco da frente e seus olhos ansiosos encontram os meus no espelho retrovisor:

Dul: Aeroporto – eu digo, e rapidamente olho para longe. Não tenho certeza do que estou sentindo quando ele liga o carro e começamos a deslizar pela rua. Será tristeza? Sim. Preocupação, raiva, pânico, traição, culpa? Tudo isso. Será que cometi um erro? Será que tudo isso foram más escolhas colossais, uma atrás da outra? Digo a mim mesma que terei que ir embora de qualquer maneira. Isso está acontecendo apenas um pouco antes do planejado. E mesmo se não fosse isso, foi a decisão correta para ter um espaço, alguma perspectiva e claridade... certo? Estar sozinha e presa em minha própria mente em um voo de treze horas será uma tortura. Pego meu telefone e abro o aplicativo da companhia aérea. Faço o cadastro e procuro voos disponíveis. Minha decisão de ir embora parece ainda mais evidente à luz brilhante da tela do celular cortando a escuridão, refletida de volta para mim nas janelas a meu lado. O primeiro voo do dia parte em pouco mais de uma hora, e parece fácil demais fazer as seleções necessárias e reservar minha viagem de volta quase sem nenhum percalço. Ao terminar, desligo o telefone e guardo-o na bolsa, olhando para a cidade turva enquanto ela começa a acordar no outro lado do vidro. Não há nenhuma mensagem, então presumo que Christopher ainda esteja dormindo, e se eu fechar os olhos ainda consigo vê-lo, com o corpo estendido pelo colchão, a calça jeans quase para fora do quadril.

No avião, não há celulares e nem e-mails. Não paguei para ter acesso à internet, então não há nada para me distrair da trilha interminável de imagens e palavras ecoando de volta para mim em dramática e enlouquecedora câmera lenta: a expressão no rosto de Perry lentamente se transformando de amigável a calculadora e então em pura fúria. Sua voz quando me perguntou se eu estava gostando da sua cama, do seu noivo. O som de passos no chão, de Christopher, de nossas palavras gritadas e a sensação do sangue preenchendo minha cabeça apressadamente, e minha pulsação raptando qualquer som.

Rayo RebeldeМесто, где живут истории. Откройте их для себя