Capítulo IV - A Armadilha

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"Formiga, borboleta, cão, convidada n°1, convidada n°2, convidada n°3."
Todos serviram o seu devido propósito...



Os três meses que se seguiram à publicação da notícia, foram calmos e sem qualquer tipo de situação similar à que se tinha passado no armazém. Para as meninas o primeiro mês tinha sido o mais difícil, a Raquel e a Constança estavam constantemente a ligar e a mandar mensagens à Joice, a pedir que ela estivesse sempre atenta ao telemóvel pois o assassino poderia voltar a atacar a qualquer momento. A preocupação era mútua, do mesmo modo que elas desesperavam com a ideia dele voltar a atacar, também o assassino tentava controlar a ansiedade que começou a sentir depois da publicação daquela notícia. Os meses iam passando e com eles também a preocupação das meninas ia diminuindo, já o mesmo não se podia dizer do assassino...

A vontade que tinha de encontrar a pessoa, não o deixava dormir, comer ou concentrar-se em outras coisas, foi então que decidiu criar um plano. Um dia enquanto andava no elétrico n°28, ao passar pelo Miradouro de Santa Luzia, teve uma ideia de como poderia chamar a atenção da pessoa que o tinha visto. O plano consistia em afixar, pequenas notas à volta do miradouro, com a seguinte mensagem:

" Dês do dia em que nos vimos pela primeira vez, não consegui esquecer-te. A memória que partilhamos daquele dia, a nossa troca de olhares... mas foi tudo tão repentino que nem trocámos contatos ou nomes. Vem encontrar-te comigo aqui às 21 horas, não importa o dia, estarei à tua espera.

Ps: Para teres a certeza de que a mensagem é mesmo para ti, digo-te o que tinha vestido. Sweat preta, calças pretas e uns vans old school."

Qualquer um pensaria que a probabilidade da pessoa lá ir e por consequência encontrar alguma das notas, era mínima. Pois bem, o assassino auxiliar-se-ia da capacidade emotiva de outros seres humanos, para passar a mensagem. Foi tudo feito de propósito, ele tinha a certeza de que existiria alguém que pensaria que aquela era uma mensagem deixada por uma pessoa apaixonada, e tentaria armar-se em cupido. O plano correu exatamente como esperava, alguém fez um vídeo e publicou, a dizer como achava fofa a mensagem e que desejava que as duas pessoas se tivessem encontrado. O vídeo foi partilhado por imensas pessoas, até assunto de comentário virou, e como seria de esperar chegou ao alvo.

Numa conversa que estava a ter com uns colegas de turma, a Joice, ficou automaticamente em choque depois de uma das colegas ter-lhe passado o telemóvel para mostrar um vídeo, com uma mensagem fofa, que andava a circular. Todo o pavor, ansiedade e sentimento de desproteção, voltaram a ressurgir. Naquela emoção, até lágrimas vieram-lhe aos olhos, pegou no telemóvel e correu para fora da escola para ligar às meninas.

— Meninas, viram o vídeo que esta a circular com aquela mensagem que foi deixada no Miradouro de Santa Luzia ?

A Raquel responde,

— Não. Dizia o quê ?

E a Constança diz,

— Mostraram-me na hora de almoço e eu estava a ver se conseguia arranjar maneira de vos ligar para contar.

— Eu vi o vídeo agora mesmo, uns colegas meus estavam a falar disso na sala e mostraram-me.

— Meninas, eu não vi o vídeo. Logo não percebo porque estão tão nervosas...

— Desculpa Raquel. Então, basicamente alguém deixou umas notas no miradouro, e a princípio aquilo não me disse nada mas quando vi a descrição da roupa que a pessoa tinha vestida, eu percebi logo que aquela não era uma simples mensagem aparentemente de " amor ", mas sim um alerta para mim.

— Continuo sem entender nada...

— A pessoa escreveu " Ps: Para teres a certeza de que a mensagem é mesmo para ti, digo-te o que tinha vestido. Sweat preta, calças pretas e uns vans old school."

Mas isso é uma roupa tão comum? Vocês têm a certeza que não tão a fazer disto algo que não é...
Pode muito bem ser uma mensagem de alguém apaixonado.

— Raquel desculpa, mas eu acho que é demasiada coincidência que tenham dito pra pessoa ir lá encontrar-se às 21, em qualquer dia, porque tariam à espera.
E realçarem aquilo que tinham vestido, pra pessoa os reconhecer, só tornou a mensagem mais suspeita ainda.

— Raquel, tenho de concordar com a Joice, aquela mensagem é muito estranha. E a maneira como apareceu depois de três meses em que não ouvimos nada relacionado com o assassino. Acho só que devemos ficar atentas.
Até agora não apareceu ninguém a fazer um "storytime" ou a reconhecer que a mensagem era pra eles, sim porque vocês sabem que as pessoas fazem sempre isso.
Então sendo assim, ficamos à espera nas próximas semanas para ver se alguém se acusa, caso ninguém se acuse, assumimos que a mensagem era pra Joice.

Neste jogo de mentes, as semanas foram novamente passando e não falhava um dia em que ele estivesse à espera de ver alguém que mostrasse uma emoção diferente de todas as outras pessoas.
Como já tinha previsto, bastantes seriam as pessoas com vontade com passar por lá, apenas para verem as notas. Todos os que chegavam, tiravam fotos e mostravam estar enternecidos com tal gesto, o que também já esperava, porque seria graças a essa reação que conseguiria distinguir quem seria a pessoa que o tinha visto.
Esta tornou-se a sua rotina durante seis meses e ninguém, durante aquele período de tempo, revelou qualquer preocupação com aquilo.
Chuva, vento e outros fatores foram tirando a visibilidade e qualidade das notas, mas ele não parava de lá ir para substituir uma nota apenas, a que estava mais escondida. Era através dessa nota que tinha esperança de apanhar a pessoa.
No entanto algo inesperado aconteceu quando perto da data em que fariam nove meses dês de que tinham sido lá colocadas as notas, numa das suas viagens de elétrico, ouviu sem querer uma voz que dizia o seguinte:

" já passaram nove meses dês daquela mensagem, acho que tinhas razão... não era pra mim "

Sem fazer movimentos bruscos, tirou o seu telemóvel e fingiu que estava a ver o seu reflexo. Era uma rapariga que estava ao telemóvel, sentada no fundo do elétrico. Não tardou a carregar no stop para sair. Levantou-se, começou a andar até à porta mas com o movimento do elétrico, desequilibrou-se, ia cair mas foi ajudada por alguém.

Agradeceu e ambos saíram.

Perspetiva do Assassino

— Finalmente encontrei-te...

As Três Marias ( PT - PT ) Nơi câu chuyện tồn tại. Hãy khám phá bây giờ