As Cinzas

Coragem de falar com você

Bom dia querida, como tem passado?

Vem te escrever essa carta de saudades, para saber como tem passado, e como eu tenho passado esse tempo longe fisicamente de ti. A imagem do caminhão se afastando e você passando no carro do pai com o olhar entristecido ainda me marca de forma que abala minhas noites de sono, independente do meu cansaço. Nem parece que faz quatro meses que você foi morar no interior da nossa cidade, onde dificilmente eu tenho acesso, ainda mais com minha idade e minha condição financeira, que não é das piores mas não tenho o luxo de sair para onde quero assim, ainda mais toda hora. Também não saberia se você estaria disposta e disponível para me aceitar a hora que eu supostamente aparecesse. Triste, concordemos.

Bem, como sempre, eu fiquei maioria do tempo na frente do portão da vó, vendo aqueles rapazes sem nenhum fundamento lógico sobre a vida deles jogando bola e taco. Bem, é algo que costumo fazer enquanto ouvia música no rádio, mesmo nenhum dos dois afazeres agregar algo na minha vida. Também continuei a comer na frente da TV e perder hora simplesmente porque assim me distraia, e a falar com meus amigos imaginários, que possivelmente estão olhando eu escrever essa mensagem e cochichando a ordem correta das ideias, de uma maneira um tanto quanto assustadora. Como sempre ando me dando bem nas aulas de português, sempre saindo na frente e ficando sem nada para fazer na aula. Espero que quando eu ir para o ensino médio esse ócio acabe, porque ócio significa sentir as dores de sua partida.

Dei uma pequena pesquisada sobre a cidade que foi morar, e realmente ela é calma, e tem grandes áreas de vegetação baixa, segundo o que a professora disse na aula de Geografia. Mesmo não confiando nela muito bem desde a gafe do acento, eu agora começo a te ver numa cidade assim, e realmente combina com você. A falta de aparelhos eletrônicos, comer frutas no intervalo, sair de casa mais cedo... Muito triste não ver mais isso de perto.

Espero que esteja melhor ai para você, e que eu não tenha que imaginar aquele rosto triste novamente. Também espero que goste do esforço do meu português para escrever essa carta. Espero que não tenha errado nada. Meu amigo ajudou bastante nessa tarefa, e esperava muito que pelo menos por carta tomasse coragem de falar com você.

Não é necessário responder.

Com orgulho.

Número 11 da 8ª B