𝚇𝙸𝙸. 𝚃𝚑𝚎 𝚍𝚎𝚜𝚙𝚊𝚒𝚛 𝚘𝚏 𝚕𝚘𝚜𝚜

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Louis costumava apreciar os eventos de caridade da Igreja Paroquial.

Para além de ajudar pessoas menos afortunadas, o alfa se sentia bem envolto da aura cristã que o ambiente exalava. Ele possuía uma fé em Deus genuína e buscava respostas para o que acontecia em sua vida no âmbito religioso ㅡ depois das artes, a religião era o campo que mais o confortava em seu eterno luto.

No entanto, naquela manhã parcialmente ensolarada, tudo o que o monarca desejava era retornar ao castelo para ter Harry em seus braços.

Deixá-lo em seus aposentos enquanto estava fora não era o cenário mais agradável, mas expô-lo a uma cerimônia semelhante no contexto em que se encontravam não seria uma decisão sábia. Ausentar-se de suas obrigações também não era uma opção, afinal, embora estivesse em época de cortejo, ele ainda carregava uma coroa no topo de sua cabeça e deveria assegurar ao povo do Reino do Norte que a existência de um príncipe foragido de nada afetava a maneira que lidava com a responsabilidade de governar ㅡ ele continuaria a ser um rei sagaz, justo e íntegro.

A inquietação era palpável, os ponteiros do relógio se moviam conforme o padre conduzia a missa. Tomlinson direcionou a palavra às pessoas presentes no recinto, transmitindo uma mensagem inspiradora e significativa antes do segundo ato ser iniciado. Ele esteve ao lado do sacerdote durante toda a missa, somente respirando aliviado quando os artefatos reais e a quantidade em dinheiro a ser doada pela monarquia foram apresentadas aos fiéis, indicando que poderia se retirar sorrateiramente.

ㅡ Acredito que vossa majestade esteja demasiadamente atarefada no dia de hoje. ㅡ A voz do padre Henry ecoou no estreito corredor, a reverência sendo mútua em sinal de respeito. ㅡ A comunidade organizou uma mesa de refeições para celebrar, seria uma honra tê-lo conosco nessa belíssima tarde.

Com sua batina negra e colarinho clerical branco impecavelmente alinhados, Henry exibia uma aparência austera e respeitável; seus cabelos eram curtos e bem penteados, exibindo um toque de elegância discreta do grisalho; os olhos azuis expressivos e penetrantes eram os mesmos, as linhas de expressão em sua face revelavam sua senilidade. Louis esteve nos braços desse homem assim que nasceu, o batizado ocorreu com poucas horas de vida e moveu multidões ㅡ eles mantinham contato desde então, a admiração sobrepondo o respeito.

ㅡ Agradeço o convite, Reverendo, mas terei de recusá-lo. ㅡ O pingente de cruz que adornava o colar de ouro reluzia em suas orbes acinzentadas. ㅡ Tenho compromissos me aguardando no castelo, não posso adiá-los.

Henry acenou suavemente com a cabeça, as mãos entrelaçadas na frente do corpo.

ㅡ Compromissos com o príncipe herdeiro, eu suponho.

O monarca se espantou com a suposição, se indagando se cheirava ao garoto ou algo assim. Ele era capaz de detectar o aroma de canela e cereja, mas isso se devia ao olfato apurado da espécie, logo, o homem jamais conseguiria deduzir uma informação tão certeira apenas estando próximo à ele.

ㅡ O príncipe e seu coelho. ㅡ O padre complementou, o que fez com que a feição surpresa de Louis assumisse um vestígio de alívio. ㅡ Como vossa alteza reagiu? Era o que vossa majestade esperava?

O sacerdote se referia a uma das caças de Louis, onde o resultado culminou em um coelho morto ㅡ o raça pura viria a descobrir dias depois que o animal caçado era mãe de Lou, o mamífero adotado e muito adorado por Harry. Corroído pela culpa, o relato fez parte de uma de suas confissões ao padre, que pela primeira vez escutou uma história que fugisse das narrativas vagas acerca da morte dos antigos rei e rainha do Norte.

Soou cômico ouvir de alguém como o alfa o quão arrependido ele estava e de como temia dizer a verdade ao ômega sem perder a solenidade que sua figura transmitia. Ele sentiu o desespero na voz de Tomlinson, emoções não eram recorrentes quanto se tratavam do homem de semblante frio.

Walking On Thin IceOnde as histórias ganham vida. Descobre agora