𝚅𝙸𝙸𝙸. 𝚃𝚑𝚎 𝚗𝚊𝚖𝚒𝚗𝚐 𝚍𝚒𝚕𝚎𝚖𝚖𝚊

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Harry arrastou uma banqueta de madeira para perto do cavalete, buscando uma posição confortável e ao mesmo tempo graciosa.

Louis escondia o nervosismo atrás da tela, pacientemente esperando que o outro escolhesse uma postura para que pudesse iniciar seus traços. Ele nunca havia trabalhado com um modelo em tempo real, suas obras nada mais eram do que projeções de uma memória fotográfica e parte de sua imaginação fértil. Ter alguém como o ômega posando para si não só trazia uma sensação nova, como expunha uma de suas camadas mais profundas, a arte.

O príncipe enfrentava dificuldades para encontrar uma configuração que o favorecesse, remexendo-se inquieto. A tensão do monarca rapidamente transfigurando-se em impaciência, visto que, além de não ter uma ampla tolerância de espera, ele já havia preparado alguns pigmentos no godê e temia que eles ressecassem.

Os olhos esverdeados se recaíram sobre a obra que retrava seu corpo envolto por caules e flores. Tomlinson se aproximava do garoto para ajudá-lo a posar, deparando-se com um par de orbes cintilantes que o pegaram desprevenido.

ㅡ Eu mudei de ideia, não quero posar para você. ㅡ Manifestou, incapaz de discenir a emoção na face alheia. ㅡ Quero que reproduza aquele quadro em meu corpo, alfa. Eu serei sua tela.

Um arrepio percorreu pela espinha de Louis.

ㅡ Eu não faço pessoas de tela. ㅡ Girou os calcanhares, lentamente se afastando. ㅡ Ademais, sua pele é sensível e você pode ter uma reação alérgica-

O alfa ouviu quando botões encontraram o assoalho revestido por jornais, virando-se para fitar um peitoral despido. Styles possuía um semblante quase desafiador, como quem dissesse que estava decidido e não havia nada que o rei pudesse fazer para impedi-lo. O menino prosseguiu, desfazendo-se da calça e da peça íntima em um só movimento ㅡ ele apanhou suas vestes com delicadeza, as dobrando e dispondo sobre a banqueta de madeira.

Não existia intenções sexuais em seu comportamento, Harry era apenas um ômega desinibido que estava aberto à novas experiências. Os dias em que esteve na companhia do monarca o ajudou a entender que, apesar das respostas ríspidas, Louis não seria capaz de machucá-lo propositalmente ㅡ ele viu culpa transbordar pelos olhos acinzentados.

A língua do raça pura lubrificou os lábios finos, o gesto foi involuntário.

ㅡ Vista-se, ômega. ㅡ Ele se recompôs. ㅡ Não faz sentido desperdiçar tinta pintando algo que sei que irá embora pelo ralo da banheira.

ㅡ Viver e se recordar do momento não é mais importante do que buscar o sentido por trás disso? ㅡ Ele agia com muita naturalidade para quem estava despido. ㅡ Você pintou meu corpo nu sem meu consentimento, alfa, e quando eu concedo permissão para que faça isso na minha pele você se recusa?

Tomlinson detestava os argumentos coerentes do príncipe, os faziam se sentir um grande estúpido. Ele soltou o ar pesado pelas narinas, apanhando um pincel estreito e o godê antes de se acomodar na banqueta ㅡ ele abriu suas pernas e tamborilou na madeira entre elas, silenciosamente pedindo que o adolescente colocasse um do seus pés ali.

Harry checou o quadro para verificar qual deles seriam utilizados, enfim flexionando a perna esquerda. Louis tentou não pensar muito ao mergulhar as cerdas no pigmento verde musgo, pincelando linhas delicadas em torno do tornozelo pálido. As írises cinzas se mantinham fixas naquele pequeno espaço, ignorando o corpo apolíneo que se encontrava logo acima de suas pálpebras numa tentativa de manter sua sanidade. O ômega, por outro lado, apreciava a sensação gélida do líquido contra sua derme, vez ou outra sentindo cócegas e reprimindo um sorriso. Ele empenhou-se para enxergar a expressão do monarca algumas vezes, mas este, além de não encarar de volta, possuía fios compridos o bastante para esconder seu rosto.

Walking On Thin IceWhere stories live. Discover now